10 abril 2018

(Em processo de) "Follia" - Diário 01




Janeiro de 2018
Como nasce uma "Follia"

Era dezembro de 2017, estávamos Rayane, Nivaldo e eu na Chapada da Diamantina em companhia da querida amiga Ju Omena. Refletíamos sobre o ano que findava e pensávamos nos passos do coletivo no ano seguinte.
No segundo semestre de 2017 decidíamos que queríamos investigar memórias através de moradas pessoais, mas no decorrer dos meses até chegar em dezembro entendiamos que não era momento para se construir solos, visto que o coletivo entrava num momento de firmar algumas escolhas estéticas e fortalecer alguns caminhos pesquisados.
Queríamos tratar sobre memória, processo colaborativo  e espaço alternativo. Caminhos que percorremos nesses dois primeiros espetáculos do coletivo (Volante e Incelença). 
Exatamente em 2016 Rayane e eu conversávamos sobre o interesse de pesquisar a loucura, o corpo de loucura, a mente, o movimento, a palavra que sae desse encontro. Buscamos estudar um pouco do assunto, mas logo ele foi ficando guardado, pois "Incelença" começava a nascer.
O tema da loucura sempre esteve em nosso caminho. Nivaldo em suas pesquisas audiovisuais sempre buscou se aproximar da loucura. 
Depois de dias conversando na Chapada da Diamantina decidiamos dar uma pausa na busca pelos "Solos de Morada" para poder juntos construirmos um espetáculo que pudesse ter nós três em cena e assim fortalecer as buscas do coletivo.
Estava dada a largada. 
Em janeiro, já em Maceió, voltavámos a nos encontrar para entender que caminhos a loucura nos levaria. Marcamos os sábados para serem dias de investigação e ao longo da semana cada ator e atriz deveria ter um trabalho pessoal de busca interior. Estudar o corpo, escutar o próprio corpo e entender o que ele queria dizer.
Fizemos esses exercícios individuais. Dificil no começo, pois disciplina exige rigor e muita seriedade com o tempo que dedicamos a isso que investigamos.
Saíram alguns resultados que depois transformamos em vídeos. Ainda muito timidos, mas reflexos de como estavámos nos entendendo naquele momento.
Nos encontros de sábado dedicavámos a fazer exercícios em conjuntos, mas ainda sem intenção de criar cena ou diálogos. A ideia era estar presente e deixar o corpo falar.
Nesses sábados de janeiro dedicamos a investigar o corpo através de exercícios de Butoh. Exercícios básicos, iniciais, como o "caminhar sobre as cinzas", mas viamos que em apenas caminhar existia muito esforço e energia interna liberada.
Começamos a ler paralelamente vários textos sobre loucura, ou sobre autores que foram considerados loucos.
Nivaldo Vasconcelos debruçou-se sobre os livros de Maura Lopez Cançado e Rayane Góes sobre os Livros de Maura e de Stela do Patrocínio. Eu dediquei-me a retomar a obra de Antonin Artaud.
Estamos em janeiro ainda. Os exercícios ainda são muito tímidos e parecem não nos dizer a direção que devemos seguir, mas como é o começo resolvemos estar aberto a experimentar e deixar o corpo falar.
Começamos também a dedicar algumas horas do dia a assistir documentários.
Assistimos juntos "Das rosas e dos loucos"*. Discutimos e identificamos muita coisa importante para o nosso processo.
Outros documentários foram aparecendo ao longo desse mês. Listamos os que queriamos assistir, catalogamos os livros que iriamos ler e buscamos referências nas artes visuais também.
Em janeiro começávamos a sentir o nosso corpo. Perceber a movimentação dele. Os impulsos e os lugares que ele poderia chegar.
Tudo ainda muito sem um sentido. Discutimos várias vezes o que queriamos com o espetáculo, mas as respostas nós ainda estamos descobrindo. Não temos pressa em encontrá-las.
Nos próximos diários detalharemos mais sobre filmes, livros e obras de artistas visuais.

Continua...


Assista ao documentário clicando AQUI!

*O documentário "Dos Loucos e das Rosas",  faz um sensível paralelo entre os dois símbolos da cidade mineira de Barbacena, as rosas e os loucos. Num misto de tristes lembranças e atual vivência hospitalar, vemos registrado nas vozes do artista plástico Edson Brandão, da psicóloga Regina Célia Monteiro, do Psiquiatra Jairo Furtado e do ex-interno Antônio Henrique Milagres, as mudanças no conceito de tratamento aberto a partir das conquistas da luta antimanicomial. 
Barbacena, antes conhecida como Cidade dos Loucos e pelos maus tratos com os internos do manicômio, hoje trabalha com maior número de residencias terapêuticas do país.

4 comentários:

  1. Adorei a parte de clica aqui e veja o documentário. Vou ver,registrem tudo que é sintomático em vocês e gera ação. Beijos

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  2. Fui ver o documentário, acho que o mais no assusta na loucura é liberdade que ela emprega na vida dessas pessoas,elas são muito mais livres que nós. Vendo o caso de Barbacena, fiquei pensando no que a mulher disse, elas não sabem fazer isso, mas eles sabem fazer algo, a gente só tem que descobrir. Todos nós sabemos mas nem sempre seguimos o que queremos pq não nos e permitido perceber. Nos é só permitido ser algo logo. Mesmo a loucura sendo um estado que não controlamos e precisamos de ajuda ela também é libertadora.
    Eles tem duas possibilidades de ver o mundo, e eles sempre escolhem a mais lúdica e a da imaginação. Eles não precisam conquistar nada.Eles não tem medo da morte. Lógico que mais denominar eles de loucos. Não enlouqueçam muito não saberei lidar com vocês. auhsuahsuahsuha Beijos, to aqui.

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  3. Lógico que é mais fácil denominar que eles são loucos.*

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