Fiquei com receio de
escrever esse texto, mas ele será uma homenagem.
Quando voltei de
Portugal, logo nos primeiros dias, ao transitar de ônibus pela cidade eu
tive a impressão de ver um amigo de infância na porta da empresa que ele
trabalhava nos últimos anos. Não era ele. Soube dias depois que ele havia
partido ainda quando eu viajava pelo mundo. Meu amigo decidiu ir morar com as
estrelas.
Faziam meses que não nos
falávamos. Estudamos juntos a quinta e sexta série. Sentamos lado a lado e
compartilhamos ao longo daqueles dois anos muitos momentos felizes nessa fase
de transição para a pré – adolescência.
Fui morar em outra
cidade e voltei dois anos depois. Tempo em que ele veio morar em Maceió. Nos desencontramos mais uma vez e tivemos
poucos encontros nesses últimos anos, mas sempre que nos víamos revivíamos
aquela lembrança mágica de um passado nunca esquecido.
Sofri bastante com sua
partida, porque era meu primeiro amigo de lembranças tão importantes que eu via
partir. Não nos despedimos. Nem sei o que ele viveu naqueles últimos dias, nem
imagino o que o levou querer partir tão cedo. O que pensou, o que comeu...
Sonhou?...
Tentei visitar sua mãe
quando fui a Viçosa, mas não consegui. Fiquei do outro lado da rua vendo aquela
varanda que tantas vezes o vi descer.
Esses dias fui visitar
minha mãe e ela me trouxe uma caixa cheia de cartas, fotografias, livros e três
diários que escrevi ao longo da adolescência. Comecei a rever as cartas e os
diários. Confesso que foi uma experiência perturbadora de início, mas depois
foi renovador.
Fui reparando em coisas
que eram tão sofridas, segredos insondáveis e que hoje não representam dor
alguma. Revivi amigos e amigas através das cartas e hoje nem sei por onde
andam. Como essa vida dá voltas...
Num diário de quando
tinha 10 anos encontrei um bilhete desse meu amigo. Destaquei e guardei comigo
aquela lembrança daquele tempo da vida em que tudo era leve e doce, mesmo em
meio aos conflitos que começavam a querer aparecer.
Não poderia nunca
esquecê-lo e trazer sua lembrança nas linhas desse espetáculo que fala tanto de
partidas, encontros e despedidas. Não poderia esquecê-lo agora que sei que
"qualquer dia amigo a gente vai se encontrar"...
Meu amigo onde você
estiver receba meu abraço.