Um ator deve ao menos saber costurar um botão, me dizia um
dos mestres de teatro que encontrei pelo caminho. Prender botão, costurar
remendos eu até aprendi com minha mãe, mas desenhar os moldes, cortar e
costurar eu ainda estou descobrindo.
Quero falar nesse texto sobre o uso das mãos. Usar as mãos, por a mão na massa, passar a mão no volante, pegar com as próprias mãos são expressões
que venho refletindo ao longo dos últimos meses, porque querendo ou não usar as
nossas mãos é um processo de libertação e repressão ao longo da nossa formação
humana, aliás quem aqui nunca ouviu a expressão “não coloca a mão aí”?
O primeiro insight que me veio nesse processo de construção
do figurino foi o de pôr a mão na massa, ou melhor, no tecido. Usar as mãos é
um desafio que me proponho com esse espetáculo. Comecei desenhando os figurinos
e para isso pesquisei na internet modelos de croquis que eu pudesse revestir com as roupas
imaginadas. Entendi que o desenho não é o mais importante, pois o que vale é o conceito,
a ideia que se quer propor. Ao mostrar os primeiros desenhos aos meus
companheiros houve um estranhamento e acharam que não condizia com a proposta
do espetáculo. Comecei a refletir sobre o que me diziam e sobre o ar de
desgaste que me falavam para a representação desse figurino.
“Cada figurino traz os dramas de seu personagem. Esse espetáculo
me lembra a questão do tempo que tira a forma das coisas e que dá uma nova
forma a elas” me dizia o professor Acioli Filho que no curso de Teatro Licenciatura
lecionou a disciplina de Figurino. Era, portanto, preciso entender os dramas
que carregava o meu “Severino” e seus companheiros para poder entender aonde
essas linhas iriam levar. Acioli não me respondeu e-mails em que eu pedia ajuda
desesperadamente e só depois entendi que o que ele queria dizer já havia dito
em nossas conversas. Lembro quando dizia “Teste! Não tenha medo! Vá testando
tudo!”.
“O figurino torna-se uma roupa, dá um depoimento sobre a
pessoa que o usa e, indiretamente, sobre o panorama no qual aparece. Nesse caso,
ele pode, e deve, exibir o seu desgaste, a sua sujeira, falar do status social
e da situação real do personagem.”
Era tempo de começar a testar tudo!
O primeiro passo foi uma campanha aqui no blog e no facebook de coleta de roupas e materiais para a visualidade do espetáculo. Em seguida comecei a coletar no lixo e até mesmo ir aos pontos de recolhimento de material reciclado. Brechó foi meu último caminho e no qual eu pude encontrar o que não havia conseguido recolher com a campanha. Eu olhava para o lixo nas ruas e já sabia o que poderia tirar daquelas coisas.
O primeiro passo foi uma campanha aqui no blog e no facebook de coleta de roupas e materiais para a visualidade do espetáculo. Em seguida comecei a coletar no lixo e até mesmo ir aos pontos de recolhimento de material reciclado. Brechó foi meu último caminho e no qual eu pude encontrar o que não havia conseguido recolher com a campanha. Eu olhava para o lixo nas ruas e já sabia o que poderia tirar daquelas coisas.
![]() |
Caminhos que começavam a surgir |
![]() |
O varal de casa já anunciava caminhos. |
Passei a tingir tecidos com tinta, café, chás e terra na busca por cores e estruturas desgastadas. Tudo em buscas pela internet e receitas fáceis de descolorir, colorir e colorir com coisas naturais.
Pintadas as roupas era a hora de encontrar a forma delas no
corpo. Revirei do aveso, cortei, cortei de novo, vesti de outra forma, tingi de
novo até encontrar um caminho.
Eram exercícios nas madrugadas nas quais tinha a companhia e
os olhos de meu companheiro Nivaldo Vasconcelos que passava a tesoura sem medo
de ser feliz.
Cheguei a um resultado sonhado, inesperado e bonito. Sei que
a sua forma vai se dá no uso, no palco e no contato do corpo com o publico. Aí sim
terei sua forma mais bela.
Por enquanto posso dizer que as coisas são possíveis e que
por a mão no volante é o primeiro passo para as coisas começarem a caminhar.
O ano está terminando. Quero ir para o palco logo.
Logo assim que o ano de 2015 começar.
Nosso encontro está cada dia mais perto e o coração já fica querendo saltar!
Logo assim que o ano de 2015 começar.
Nosso encontro está cada dia mais perto e o coração já fica querendo saltar!
Um grande abraço a todxs vocês e até breve!
Web referência:
Rosane Muniz, Como manda o figurino. Disponível em:
http://vestindoosnus.com.br/sobre_figurino/como-manda-fig.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário