Escolher um
nome é sempre uma decisão difícil.
Fico
imaginando como pais e mães escolhem os nomes dxs filhxs, porque dependendo da
escolha, já que se pode mudar o nome legalmente, essx filhx levará o nome para
o resto da vida.
Um nome para
um personagem é um nome para sempre. Esse nome surge e o acompanha, dá forma e
vida ao seu caminho na terra. Geralmente eu escrevo sem nomes para os meus
personagens, porque dar um nome é colocar alguém dentro de uma história que
aquele nome traz consigo.
Eu tive uma
fase de assinar em cartinhas com os nomes dos meus avôs, depois tive uma fase
de abominar o diminutivo do meu nome querendo ele simplesmente como é. Eu fui
criando uma aversão ao sufixo “inho” por que era uma construção ao longo da
vida e não uma escolha.
Escolher,
por exemplo, um nome artístico é uma escolha difícil também, mas é um momento
em que tenho a plena liberdade de escolher como quero ser chamado.
Casar faz a
gente mudar de nome, acrescentar outro nome, hoje já não é obrigatório, mas
isso é uma mudança que me deixa curioso. Por que cada nome é uma história.
Receber outro nome é positivo também, porque nessa ocasião eu junto a minha
história com a história de alguém e escrevemos a nossa nova história com um
novo nome.
Engraçado
observar a fase da adolescência na qual eu tinha uma busca por me reconhecer no
próprio nome, de criar um nome que me representasse em cada momento. Toda
semana eu pintava o cabelo e junto eu mudava de nome. Hoje aos 27 anos
finalmente assino meu nome por inteiro sem mais nenhuma questão com ele e deixo
meu cabelo crescer e encontrar a sua forma própria.
Carlos
Drummond de Andrade tinha uma paixão por nomes.
O poema “José” foi um dos primeiros que declamei em publico e o mesmo
autor me mostrou uma nova forma de ver o mundo ao pronunciar em seu “poema de
sete faces” o nome Raimundo.
Gostava
também do sobrenome Tatipirun por causa da “Terra dos Meninos Pelados” do
Graciliano Ramos. Parecia um lugar tão bom de ser viver que nos tempos de Orkut
eu assinava o perfil como Raimundo de Tatipirun, mas se chamar Raimundo seria
uma rima e não uma solução nesse momento de escrita do texto Volante.
Meu
anti-herói por pouco não se chamou Chico por devoção ao santinho querido de
Assis. Quase que batizei de Miguilin por estar lendo no tempo a obra Campo
Geral de Guimarães Rosa, porém dentre tantos nomes e significados ao longo da
nossa história literária eu escolhi chamá-lo de Severino. Meu personagem já
nascia Severino.
Ao ler a
obra de João Cabral de Melo Neto sempre me emocionei com a poesia que brotava
em cada verso e a tentativa do personagem se apresentar definindo o seu nome em
meio a tantos com o mesmo nome naquele lugar.
Definir-se
Severino era ao mesmo tempo uma necessidade de decifrar o que há de severo
nessa vida que se mostra e se esconde como água correndo nas mãos ...
O meu Severino
acabava de nascer. Estava saltando nas linhas do caderno, mas já vinha há anos
caminhando pelo mundo, desde quando nasci.
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Fotografia de Nivaldo Vasconcelos |
“- De sua formosura
deixa-me que
diga:
é tão belo
como um sim
numa sala
negativa”
Esse trecho da obra de seu João me acompanhou
nos últimos anos. Fez-me rir e chorar ao lembrar que a vida é sempre mais forte
e que o sim é maior que o não. Eu tenho paixão pelo “Sim”. Eu disse sim!
Tenho lido
outras obras teatrais e visto nos autores nordestinos essa busca, essa
resignificação do sujeito “Severino” e percebo que cada um carrega um
“Severino” dentro de si. Eu me perguntava: “Por que mais um Severino?” e eu me
respondia: “Somos muitos Severinos”.
Severino, o
meu retirante, alagoano, andarilho, contador e catador de histórias é para mim
belo como um sim numa sala negativa. É uma gota de vida que escorre numa vida
severa cheia de salas negativas. É uma busca por um lugar, por um reencontro
com tantos nomes que a vida o deu.
É um perder-se e achar-se dizendo sim, sempre sim!
É um perder-se e achar-se dizendo sim, sempre sim!
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