02 agosto 2017

Prêmio Eris Maximiano: 10º Passo - Brejal "Projeto Erê"


Saímos Rayane e eu ao encontro de Ticiane Simões.



Iriamos juntos ao bairro da Brejal conhecer a ONG do Projeto Erê.

Hoje o dia é de noticias ruins no nosso país. Estar na Brejal e encontrar gente ressignificando e buscando dignidade para seus espaços enche o peito de esperança.

O bairro tem uma forte movimentação cultural. Tem a presença do movimento  Hip Hop, tem o Quintal Cultural que tive a alegria de apresentar "Volante" em 2015.

O Quintal Cultural é um espaço lindo dentro da cidade. Abre suas portas para todxs e acolhe com afeto e muita responsabilidade social.

Mas hoje, Ticiane nos levou para conhecer o Projeto Erê.

"É novo esse projeto, Tici?" - perguntei, pois não conhecia.

"Vai fazer trinta anos em setembro" - respondeu-me.

As ruas enlamaçadas eram um reflexo das últimas chuvas. Qualquer chuvinha que dá por lá já alaga tudo.

Não havia nas proximidades uma praça. 

Havia uma estátua do padroeiro, que eu acho que era São Francisco. Ao lado da estátua um banquinho que deve ser disputadíssimo pelas pessoas.

Paramos no Espaço Arteiro, uma extensão do Projeto Erê para as crianças maiores. Iria começar em instantes aulas de percussão.
As crianças chegavam aos poucos e ao se ouvir o primeiro batuque todas estariam ali, alertava Ticiane.



Chegamos no Projeto Erê. 



Crianças participavam de atividades educativas.

Não é uma escola. É uma ONG de fortalecimento da dignidade e de direitos de cada uma.

O projeto iniciou há trinta anos, mas quando tinha cerca de dois anos um grupo de uma igreja católica da Alemanha resolveu apoiar o projeto e até hoje esse grupo de pessoas ajuda a manter a casa.

Volto a falar de igrejas nesse diário. 
Lá na Brejal é comum a presença de muitas igrejas evangélicas que por sinal influenciam os pais a tirarem os filhos do projeto por ter o nome de Erê.

Volto a dizer... Lá não tem praça.

Mas tem igrejas.

A grande alegria da visita foi conhecer projetos como o Erê que dão um suporte a formação dessas crianças.

Víamos crianças expressivas, comunicativas e cheias de vida.

Ticiane dá aula de teatro por lá. Ao lado de sua sala fica a cozinha.



O cheiro de comida iluminava toda a casa.

A hora do lanche é a hora mais feliz.



Muitas crianças encontram no projeto uma oportunidade de fazerem uma refeição saudável.

Aos poucos uma menina se aproxima da cozinha e pergunta o que vai ser servido.

"Macarrão" - respondeu a educadora.

A menina saiu aos pulos dizendo: "Oba!".

Quando estagiei na Secretária Municipal de Educação lembro que muitas crianças tinham na merenda da escola a sua única refeição do dia. É por aqui também nesse estado que muitos políticos roubam o dinheiro da merenda.

Cada vez que vejo uma notícia de roubo de merenda eu lembro desse fato que descobri durante o estágio e do fundo do meu coração brota os desejos mais ruins para quem roubou a única refeição do dia de muitas crianças.

Tici nos levou a sala da educadora Nana. Era momento de contação de histórias de terror.
Participamos desse momento. Não resisti e contei uma história. As crianças entravam no meio e perguntavam e questionavam coisas da história que eu contava. Eu achei bonito isso deles e delas levantarem a voz para participar, para querer contar comigo.

Arthur sabe histórias de dinossauros




Brota uma esperança no peito, sabe?

Brota uma alegria de ver que a vida daquelas crianças pode ser diferente.

Mas muita coisa ao redor dificulta e isso nós sabemos. 

A começar pelo espaço onde vivem. Com ruas cheias de lama, com estátua do padroeiro imóvel lá, sem praça, sem lugar para esporte e lazer, com igreja abrindo suas portas para "acalentar" e criar intolerâncias.

Meus últimos relatos estão ficando mais crus. Eu tô como no poema da Adélia Prado quando diz:

 "Às vezes Deus me tira a poesia; olho pedra, vejo pedra mesmo".

É difícil encontrar na pedra a poesia quando tudo ao redor está cada vez mais para nos transformar em pedras. São direitos sendo perdidos, são espaços urbanos cada vez mais hostilizados e descuidados. 

Eu ando e me digo em pensamento "essa cidade quer nos matar, ela não nos permite ser".

Projetos como o "Erê" são luz que transformam  espaços de pedras em diamantes.

Arthur tirou uma foto nossa com Nana.



O espetáculo vai se apresentar para todos os erês na festa de aniversário de 30 anos do projeto.

Eu agradeço a Ticiane e a todas as educadoras da casa por nos receberem e encher nosso peito de esperança.



Conheça mais sobre o projeto aqui:


Bruno Alves

Esse projeto foi contemplado com o Prêmio Eris Maximiano de 2015.





2 comentários:

  1. Foi um momento revigorante de papos e novas fugas e construções de realidades. Será lindo ter volante passando na nossa casa. Sigamos com a fé que a barriga vazia nos dá!

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