03 fevereiro 2016

Oficina Barracão Teatro - Dia 3


Tiche hoje me fala do tempo.
" talvez você esteja aqui hoje para descobrir que seu corpo tem um tempo. Talvez toda essa oficina te ajude a entender que você precisa respeitar seu tempo. Vai lá e faz. Faz no teu tempo".
Hoje eu fiquei entristecido durante os exercícios. Coisas de quem começa a encarar os limites e tem dificuldades de reconhecê-los. 
Pular corda, uma coisa que uma criança faz com bastante vontade e leveza, de repente se torna um abismo do qual tenho medo de atravessar.
 Fico paralisado. O corpo trava e atropela o exercício. Atrapalho os outros, sinto-me péssimo.
" vai ficar sofrendo? Continua!", ela desafiava.
Não é fácil o uso da máscara neutra. Não é fácil deixar o corpo se expressar. A gente se mostra, se revela e traz coisas que não sabia que tinha, memórias de tempos esquecidos. Tiche conversou sobre isso conosco. 
Tiche brincou que teríamos curso de máscara e terapia juntos, mas sabemos que esse olhar para dentro de si vai muito além desse momento. A oficina desperta o nosso interior, me põe de cara com meus medos mais bobos e com fragilidades que se quer reparei anteriormente.
Estou me sentindo corajoso hoje. Um pouco mais de coragem. Uma frágil coragem de quem começa a entender alguma coisa, ou apenas uma coragem de quem ainda não entende nada.
Eu acho a Tiche uma pessoa cheia de conhecimento no assunto. São trinta anos nesse universo, mas ela tem uma diferença muito singela. Ela não fala, ela é o que diz.
Hoje foi a manhã mais difícil desses últimos dias. Sai da sala me sentindo a pessoa mais burra do mundo.
"Se perdoe" dizia para que entendêssemos que se ferir por não saber poderia nos fazer paralisar, enquanto o perdão a si mesmo e o reconhecimento do erro ajudaria a seguir na busca.
A Tiche me fez enxergar uma coisa muito simples, mas que não enxergava antes: " por que o medo de errar? Quando se erra você pode corrigir adiante". O erro é uma consequência para um "acerto". Parece uma coisa fácil, mas só o amadurecimento e a vivência fazem a gente perceber que pode ser assim, que devia ter sido assim a vida toda. Uma eterna possibilidade de erros e acertos.
Foi difícil a manhã com a máscara nesse dia. 
Ela me falava da necessidade da precisão dos movimentos, da respiração e acima de tudo o controle com o corpo. 
A energia bem distribuída poderia mudar muita coisa. Me sugeriu aulas de circo, ginástica, capoeira ou alguma luta que ajudasse a distribuir bem a energia.
Aqui no muro perto da casa em que estou hospedado com Rayane tem um muro que diz assim: MeDo-DoMe. Domar o medo foi a lição da manhã de hoje. Domar o medo de atravessar a corda. Domar o medo de atravessar-se.
Nunca parei pra pensar que o contrário de medo é dome! Tem medo que a gente pode não vencer, mas domar pode ser mais fácil. Saber que eles existem e que podem estar no lugar que a gente acha que devem estar, principalmente se for um lugar que não atrapalhe ou impeça a experiência.
Ele não me doma mais, pelo menos por hoje.
Bruno

2 comentários:

  1. Quando a gente se encontra paralisa. Vejo que tens se encontrado.

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  2. Não sei se me encontrei, mas perdido sínto que não estou. Esse caminho é longo e to aprendendo a esperar e viver o tempo das coisas. Perguntar tem sido melhor do que tentar achar as respostas. Fico ao menos mais em paz comigo em alguns momentos. Grato pela visita e carinho, Anderson!

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