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“Nada Acontece Mesmo Por Aqui?!” |
Aconteceu no último 28 de janeiro a 8º edição do “Chá da Tarde” com o tema “Nada Acontece Mesmo Por Aqui?!”, organizado pela Cia do Chapéu no Complexo Cultural do Teatro Deodoro aqui em Maceió.
O “Chá da Tarde” é um momento de confraternização entre os artistas das Artes Cênicas de Maceió, no qual dialogamos os pontos positivos e negativos do último ano de produção na cidade. É um ambiente descontraído, com conversa séria e informal, com muito papo sobre arte, sobre desejos, sonhos e indignações.
No “Chá” tem espaço para muitas questões e todas por lá são bem vindas, visto que dentre os espaços de tentativas de diálogos é este o que mais agrega pessoas e mais tem continuidade.
O “Chá da Tarde” possui uma fórmula que há oito anos vem mobilizando e atraindo gente. Todo ano eu espero por esse momento. A gente se sente em casa no “Chá da Tarde” é como uma conversa numa mesa de bar com amigos.
Esse foi o segundo ano que participei, dessa vez fui como convidado a participar "da mesa" representando o “Coletivo Volante”. Fiquei lisonjeado com o convite.
Demos início por volta das 19h.
Thiago Sampaio deu abertura ao encontro falando da escolha do tema que se deu por no último “Chá” terem surgidos muitas falas em que se colocavam em um lugar que nada acontece. Este ano já que aparentemente "nada acontece" a Cia do Chapéu decidiu não exibir na abertura do encontro o video que faz um resumo dos acontecimentos teatrais da cidade no último ano.
Thiago apresentou a mesa composta por David Oliveira (Clowns de Quinta), Waneska Pimentel (Associação Teatral Joana Gajuru) e o mediador Flávio Rabelo (Cambar Coletivo).
Antes das falas da mesa foi lida por Thiago a carta de Anderson Vieira (Claricena) que por questões geográficas não pode estar presente no encontro representando seu grupo. A carta pode ser lida clicando AQUI!
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Todas as fotografias são de André Cavalcanti |
David Oliveira abriu sua fala
questionando o próprio tema e revertendo a pergunta ao dizer: “Mas quem diz
isso?”. Mostrou-se otimista com o espaço de construção do ano de 2015, falou da
precariedade de algumas obras, da necessidade de ter tempo para se debruçar
sobre o fazer artístico para aperfeiçoar. Sua pergunta do “Quem diz isso?”
reverberou ao longo do encontro com uma tentativa de se entender de onde viriam
esses questionamentos ao dizer que por aqui as coisas não acontecem.
Tentei me responder a essa
pergunta que o tema do encontro prôpos. Achei a provocação importantíssima para
esse nosso momento de começo de ano.
Comecei dizendo que as coisas
acontecem por aqui!
Em 2015 tivemos um ano muito
movimentado para as Artes Cênicas em Alagoas.
Em abril e maio o Palco Giratório
do SESC acoplou durante todo o mês atividades de formação com artistas das mais
diversas regiões do país, além de uma programação intensa de espetáculos. O
SESC ainda possibilitou a Oficinas de Dramaturgias em Dança e em Teatro com
Vinícius Souza, da qual nasceu o Clube de Dramaturgia que continua investigando
a escrita em teatro.
É também no mês de maio que a
Associação Teatral Alagoana - ATA realiza o Maio Teatral com atividades em
comemoração ao aniversário do grupo e a data estadual do teatro alagoano.
Tivemos a Mostra Nacional de
Vídeos sobre Intervenções e Performances - Mostra IP que tem como produtor local o Coletivo Careta.
Em agosto recebemos o Festival do
Teatro Brasileiro – FTB com espetáculos da Paraiba e oficinas de formação de
artistas e plateia.
Em Setembro aconteceu o Festival
Internacional de Teatro de Objetos – FITO e também o I Filé Teatral da
Universidade Federal de Alagoas.
O Coletivo Heteaçã em dezembro fez a sua primeira “Mostra de Teatro Lambe- Lambe”, dentre outras ações e estreias e temporadas do teatro local.
Tivemos muita oportunidade de pensar,
assistir e fazer teatro em 2015.
Aconteceu muita coisa.
É nesse mesmo período que é
lançado o Edital Municipal Eris Maximiano de Incentivo as Artes e dos 168 projetos inscritos, as Artes Cênicas ocuparam o primeiro lugar ao lado do segmento de Música com 49 propostas de
inscrições.
Existe demanda por aqui.
Nesse mesmo ano a Universidade
começa a mudar e oficializar seu Projeto Pedagógico do Curso de Teatro
Licenciatura. Inserindo uma formação voltada para o contexto em que estamos
inserido e a valorização cultural por aqui existente.
Surgem “coletivos de teatro”,
pesquisa em máscara teatral, teatro de formas animadas, ocupação dos espaços
públicos, ocupação de trens, pesquisa em palhaço se amplia, teatro de
lambe-lambe, contação de histórias e valorização da oralidade, dentre outras.
E o que não acontece mesmo por aqui?!
O que me fez pensar que nada
acontece mesmo por aqui foi quando enumerei as questões que impedem que as
coisas aconteçam mais. Dentre elas o distanciamento politico da classe.
Elegemos um colegiado e deixamos que eles por lá se virem sozinhos, sem estarmos
juntos para decidirmos em grupo.
Quando um artista ou grupo
levanta uma bandeira por necessidades coletivas tomamos como algo pessoal e nos
distanciamos sem ajudarmos a compreender essa necessidade e ampliar a
discussão. Somos muito frágeis politicamente, porque não sabemos a força que
temos.
Lembro da Conferencia Livre há
alguns anos atrás organizada pela Cia do Chapéu e que dela saíram comissões que
se engajariam politicamente. Aquele momento foi marcante para mim como forma de
organização do pensamento politico coletivo, uma pena que não rendeu por muito
tempo.
Falei que as coisas não acontecem
por aqui, porque muitas vezes olhamos revestidos de um apelo passional para o
trabalho do outro e só enxergamos como teriamos feito no lugar dele e não como
ele conseguiu fazer, o caminho que percorreu, seu processo de descoberta… Olhar
o resultado e o caminho precorrido ajuda a distanciar o ego e traz um olhar
mais racional e honesto com a obra do outro.
Waneska Pimentel começou sua fala perguntando “O que é acontecer?” e das muitas coisas que ela falou, essa frase perdurou na minha cabeça ao longo dos dias seguintes, porque ela trouxe reflexões muito importantes para aquele momento, quando perguntava: para quem estávamos fazendo? aonde queríamos chegar com isso?
Ultimamente eu tenho pensando
muito nesse “acontecer” que Waneska futucou, porque entendo esse acontecimento
como algo de entendimento muito pessoal, da decisão de cada grupo e artista,
pois entender o que me faz “acontecer”, onde quero chegar, o que quero dizer, o
meu significado para a palavra sucesso, o público que quero encontrar, dentre
tantas outras questões, me ajudam a trilhar um caminho mais tranquilo e
coerente.
Flávio Rabelo mediou cada fala. Trouxe
questões importantes da fala de cada um de nós e o espaço ao público foi
aberto.
Nivaldo Vasconcelos falou da
importância da formação de plateia e principalmente na infância, dando ênfase
na necessidade de um teatro infantil que proporcione uma experiência diferente
e marcante para as crianças da nossa cidade.
Depois da fala de Nivaldo
Vasconcelos, foi a vez de Louryne Simões (Teatro da Poesia) que trouxe uma
questão muito interessante para entender os lugares que dizem que nada acontece
por aqui.
Louryne falava que quando dizia para alguém que faz teatro, as pessoas logo lhe diziam: “Mas você vai para o Sudeste, não é? Por que nada acontece por aqui!”. Lembrei das vezes que ouvi essa afirmação e da necessidade de desconstrução dela dentro de mim.
Louryne falava que quando dizia para alguém que faz teatro, as pessoas logo lhe diziam: “Mas você vai para o Sudeste, não é? Por que nada acontece por aqui!”. Lembrei das vezes que ouvi essa afirmação e da necessidade de desconstrução dela dentro de mim.
– Não! Eu não vou para o sudeste,
porque as coisas que eu acredito também acontecem por aqui!
Mas o mais difícil não é ouvir
alguém que não faz teatro dizer isso, mais difícil é ouvir de quem faz que as
coisas não acontecem por aqui ou as que acontecem não possuem valor.
Udson Pinheiro em sua fala
revelou sua chateação com a classe, por nos momentos de votação e decisão
política, mediante o poder público, não se fazerem presente. "Representar
quem?" Ele nos questionou.
Ticiane Simões falou da
importância do espaço do "Chá da Tarde" e sugeriu outras edições ao
longo do ano, inclusive se propôs ajudar na elaboração.
Ticiane também trouxe para a roda
uma discussão gerada na Mostra Surur de Cinema Alagoano, quando na última
edição o júri resolveu não premiar nenhum ator ou atriz. Presentes Nivaldo
Vasconcelos, Larissa Lisboa e Flávio Rabelo ajudaram a mediar essa questão
posicionando para um entendimento mais amplo da situação, já que no
regularmento da mostra dizia que poderia acontecer isso.
O “Chá da Tarde” sempre termina com gosto de quero mais.
A mesa
foi servida. As discussões estavam acesas na ponta da língua. O estômago queria
digerir muita coisa, agora com leveza e tranquilidade no coração. Tinha chá e
café para todos os gostos, assim como as nossas opiniões.
Fica aqui o registro desse importante momento para a nossa
classe e a espera e disposição para contribuir com os próximos que estão por
vir.
Vida longa ao Chá da Tarde!
Evoé!
Bruno Alves
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Imagem de Divulgação |
Obrigado! Pelo registro e por me situar mais um pouquinho do que aconteceu. Vida longa ao Blog e ao coletivo Volante.
ResponderExcluirAnderson grato pela visita!
ResponderExcluirVida longa ao Claricena!
Querido Bruno, quero lhe agardecer pelo registro que me proporcionou o acesso à discussão a qual considero tão importante mas que não pude comparecer. Que venham outras!
ResponderExcluirAgradeço a visita! Que venham outras! Muitos encontros como esse!
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