Fazem 10 anos da partida do
professor Ronaldo Aureliano.
Não fosse o meu encontro com
Ronaldo eu hoje certamente não faria teatro.
Essa coisa de ser ator não nasceu
comigo. Eu aprendi com ele.
Lá em Viçosa, onde nasci, pulsa a
etnocena. Posso lhe dizer que a espetacularidade das manifestações populares
são sim a nossa primeira referência do estar em cena.
Eu sabia o que era um Reisado, um
Guerreiro, um Boi, mas esse negócio de
teatro, essa palavra “teatro” assim como a usamos, eu não tinha ideia do que
seria.
Quando eu tinha 8 anos, na Escola
Municipal Conego Jatobá, o professor Ronaldo levou seu Grupo Teatral Riacho do
Meio para apresentar seu espetáculo. Eu lembro daquela história ali encenada. Falava
de violência doméstica, falava de coronelismo, questionava sobre coisas que
eram estabelecidas como “normais” no nosso contexto. Tinha humor, tinha
tristeza também. Eu entendi, nunca esqueci. Por isso acho estranho ainda hoje
quando menosprezam o público achando que ele não vai entender.
Aos 16 anos ele me convidou para
fazer uma oficina com ele e Roberta Aureliano, sua filha. Eu fui de resenha
mesmo, querendo no fim das contas ver o que ele queria dizer quando tanto
falava e fazia teatro na cidade.
Daquele dia em diante continuei a
fazer teatro.
Mas não era só sobre fazer teatro
que Ronaldo ensinava. Era sobre como ser um ser humano melhor nessa vida e principalmente
como lutar para ter um mundo melhor.
Ronaldo quebrou a frase que
sempre ouvi que “pobre tem que ficar no seu canto”. Ronaldo mostrou-me cantos,
portas, caminhos, estradas.
E fazia isso quando me gravava
fitas de discos que ele gostava para que eu pudesse conhecer, ou quando me
emprestava livros, ou quando marcava para que eu fosse assistir filmes e shows no
vídeo cassete, porque em casa eu não tinha.
Fez isso quando olhou para mim e
tantos amigos e amigas e disse que nós podíamos. Que éramos capazes. Fez isso
quando nos mostrou que injustiças sociais e ausência de direitos deviam ser
combatidas. Fez isso quando transformou os ferros da estação ferroviária em
obras de arte. Transformou tanto ferro em arte. Fez da gente ferro, para ter
força e resistência para fazer arte.
Essa oportunidade que me deu eu
serei sempre grato, sempre!
Sua partida em 2008 foi impactante.
Morreu ao tentar salvar um estudante na cachoeira. Só fui uma vez naquela
cachoeira depois disso. Fiquei com o coração desolado. Era difícil olhar para
aquelas ruas e não encontrar seu sorriso, suas críticas e seus incômodos.
Esse ano no Festival de Artes
Cênicas de Alagoas – FESTAL, celebramos a memória das nossas artes cênicas. Ronaldo
é minha memória mais preciosa.
Ronaldo ainda está aqui, eu sei. E
vai estar em cada passo que eu der.
Sinto sua falta, professor.
Com amor, para sempre.
Bruno Alves
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