21 setembro 2018

Dez anos da partida de Ronaldo Aureliano - por Bruno Alves


Fazem 10 anos da partida do professor Ronaldo Aureliano.

Não fosse o meu encontro com Ronaldo eu hoje certamente não faria teatro.

Essa coisa de ser ator não nasceu comigo. Eu aprendi com ele.

Lá em Viçosa, onde nasci, pulsa a etnocena. Posso lhe dizer que a espetacularidade das manifestações populares são sim a nossa primeira referência do estar em cena.

Eu sabia o que era um Reisado, um Guerreiro, um   Boi, mas esse negócio de teatro, essa palavra “teatro” assim como a usamos, eu não tinha ideia do que seria.

Quando eu tinha 8 anos, na Escola Municipal Conego Jatobá, o professor Ronaldo levou seu Grupo Teatral Riacho do Meio para apresentar seu espetáculo. Eu lembro daquela história ali encenada. Falava de violência doméstica, falava de coronelismo, questionava sobre coisas que eram estabelecidas como “normais” no nosso contexto. Tinha humor, tinha tristeza também. Eu entendi, nunca esqueci. Por isso acho estranho ainda hoje quando menosprezam o público achando que ele não vai entender.

Aos 16 anos ele me convidou para fazer uma oficina com ele e Roberta Aureliano, sua filha. Eu fui de resenha mesmo, querendo no fim das contas ver o que ele queria dizer quando tanto falava e fazia teatro na cidade.
Daquele dia em diante continuei a fazer teatro.

Mas não era só sobre fazer teatro que Ronaldo ensinava. Era sobre como ser um ser humano melhor nessa vida e principalmente como lutar para ter um mundo melhor.

Ronaldo quebrou a frase que sempre ouvi que “pobre tem que ficar no seu canto”. Ronaldo mostrou-me cantos, portas, caminhos, estradas.

E fazia isso quando me gravava fitas de discos que ele gostava para que eu pudesse conhecer, ou quando me emprestava livros, ou quando marcava para que eu fosse assistir filmes e shows no vídeo cassete, porque em casa eu não tinha.


Fez isso quando olhou para mim e tantos amigos e amigas e disse que nós podíamos. Que éramos capazes. Fez isso quando nos mostrou que injustiças sociais e ausência de direitos deviam ser combatidas. Fez isso quando transformou os ferros da estação ferroviária em obras de arte. Transformou tanto ferro em arte. Fez da gente ferro, para ter força e resistência para fazer arte.

Essa oportunidade que me deu eu serei sempre grato, sempre!

Sua partida em 2008 foi impactante. Morreu ao tentar salvar um estudante na cachoeira. Só fui uma vez naquela cachoeira depois disso. Fiquei com o coração desolado. Era difícil olhar para aquelas ruas e não encontrar seu sorriso, suas críticas e seus incômodos.

Esse ano no Festival de Artes Cênicas de Alagoas – FESTAL, celebramos a memória das nossas artes cênicas. Ronaldo é minha memória mais preciosa.

Ronaldo ainda está aqui, eu sei. E vai estar em cada passo que eu der.

Sinto sua falta, professor.

Com amor, para sempre.

Bruno Alves

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