15 dezembro 2015

De volta à aldeia - "Ameriafrocontos Volantes"



    Nos dias 28, 29 e 30 de novembro vivenciamos o nosso segundo momento na Aldeia Wassu-Cocal em Joaquim Gomes – AL.
 Voltar é reencontrar... Voltar é se encontrar de novo.
  Chegamos à Aldeia na manhã do sábado. Fomos direto a Comunidade da Pedrinha. Por lá encontramos um final de semana movimentado. Estava rolando simultaneamente o curso Indígena Digital” com a coordenação de Coré e Rubens Lopes.  Foram oferecidos por eles cursos de fotografia, edição e gravação dos filmes dos próprios participantes e o mais legal de todo projeto é que o equipamento ficará na comunidade para que eles possam continuar registrando e difundindo suas histórias.


   E por falar em histórias... Nós estávamos lá também para contar e ouvir histórias. O objetivo do projeto “AmeriAfroContos Volantes Chamam pra Roda: A oralidade de quem domina pela vontade de aprender de quem respeita” é justamente contar histórias, oferecer técnicas teatrais para que as histórias que lá existem continuem e se propaguem por todos os cantos, porque a nossa história precisa ser contada e deve ser contada por nós.
  O nome do nosso projeto é extenso, mas a gente não abriu mão dele ao longo da escrita do projeto para apresentar a universidade, pois queríamos deixar já no titulo exposto que nós que estamos entre as quatro paredes da universidade estávamos querendo aprender, aprender ouvindo, aprender vendo e se reencontrar nesse processo com o que é nosso e que nos foi tirado pelas mídias e pela própria escola durante muito tempo.
   Encontrar as histórias que constroem a nossa identidade alagoana/brasileira é uma possibilidade de vivenciar o pertencimento e entender de alguma maneira como chegamos aqui. Vale ressaltar que a oralidade é uma marca na história das comunidades indígenas, a contação de histórias sempre esteve presente, pois as histórias são passadas de geração em geração através desse contato direto e afetivo.
   Na noite do sábado aconteceu um encontro com os lideres da aldeia e toda a comunidade. Nessa noite Rubens e Coré iriam apresentar a proposta da oficina para a comunidade e exibir alguns filmes produzidos por outras comunidades indígenas no Brasil. 

Indigena Digital

   O terreiro estava cheio. Uma tela foi feita na parede de uma casa e todos nós sentamos para ver e ouvir os oficineiros e a comunidade. Foi um momento rico de aprendizado. Estavam lá Cacique Jeová, o Pajé e tantas pessoas que mantém aquela aldeia viva e resistente. Eu vi em cada palavra e em cada corpo os traços de luta, resistência e principalmente a certeza de saber quem são e não abrir mão disso.
   Posso dizer que um dia na minha vida eu estive rodeado de guerreiros, de heróis de verdade e quando falo guerreiros e heróis eu falo de pessoas que enfrentam com garra todas as atrocidades cometidas por políticos e coronéis que por aqui ainda existem. É gente de luta. Aquela terra um dia jorrou sangue para que aquelas pessoas pudessem estar ali naquele terreiro começando a aprender a usar os equipamentos audiovisuais para registrar as suas histórias e utilizar novas formas de comunicação.
   Terminamos a noite com uma roda de Toré e como numa ligação intima com o universo eu senti naquela noite as estrelas descerem para perto do chão. Estávamos todos conectados numa mesma roda, nós e os que já partiram e lutaram até o fim para que esse momento pudesse existir. 
   Uma mulher me viu do lado de fora da roda no inicio e me pegou pelo braço num acalanto que me trouxe de volta para a vida. Eu estava rodeado de guerreiros de lanças que dançavam o seu pertencimento a vida e assim eu me sentia protegido de tudo, de todo medo e desencontro com o passado. Era noite de encontro e eu não imaginava que poderia ser tão doce e impactante estar naquela roda. Aquela mulher me puxava pra dentro e me trazia de volta.
   No dia seguinte fomos a Comunidade da Jereba para a segunda etapa da oficina. O professor Toni Edson apresentou seu espetáculo “Afrocontos, Afrocantos” e nos ligou num universo de histórias que formam a nossa identidade.




"Afrocontos, Afrocantos"

Toni Edson apresenta "Afrocontos, Afrocantos"





  Realizamos a oficina nas duas comunidades, porém avaliamos com dona Rosineide que precisariamos direcionar o publico para adolescentes e adultos, pois o intuito é contribuir com o empoderamento desse espaço de afirmação e resistência e nesse momento precisariamos desse grupo que agora já começava a contar suas histórias com o audiovisual.
   Na manhã de segunda-feira fomos a Escola Indígena José Maximo de Oliveira. Fizemos uma roda de contação de histórias com os membros/bolsistas do projeto. Foi um momento importante de se viver, pois aquelas crianças e professores nos recebiam com muita atenção e generosidade ao nos oferecerem a escuta e a entrega sincera de olhares. Acertamos com a direção da escola uma oficina direcionada aos professores no nosso próximo encontro, para assim, oferecer mais uma ferramenta que possa contribuir com suas aulas.

Contação de Histórias

Rayane Wise contando histórias

Wesley Felipe contando histórias

   A cada encontro na aldeia eu volto mais próximo de mim. O professor Toni me falou que um amigo falou para ele que um dia ele contou histórias para mudar o mundo, mas que hoje conta histórias para não se perder de si. O projeto me faz sentir isso, que contamos para entender quem somos, para entender quem fomos um dia, para entender o que roubaram de nós e assim nunca mais permitir que a gente se perca da nossa essência.

  Assim como o Indígena Digital, o “Ameriafrocontos” é mais uma ferramenta de propagação de histórias, de luta e resgate pelo pertencimento. Estávamos lá com nossas ferramentas para aprender e partilhar numa única roda.
Gratidão!
Abraços,
Bruno Alves

Registros:


Banho de Rio



Caminhos

Oficina na comunidade Jereba

Estudantes da Escola Indigena José Máximo de Oliveira



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