A segunda oficina do Palco
Giratório de 2015 aconteceu nos dias 26 e 27 de abril e foi por conta do Grupo Clareira de Teatro do Rio Grande do Sul que apresentou no sábado (25) "Nina, o Monstro e o Coração Perdido".
Tivemos a oportunidade de
conhecer Valquíria Cardoso, Alex Limberger e Gustavo Dienstmann.
“Contando a gente acredita”, o título
da oficina, tornou-se um convite para mergulhar no grande e maior motivo do
fazer teatral: o contar histórias.
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Registro do arquivo da Nina (Ops!) da Valquíria Cardoso. |
As histórias estão no nosso
imaginário, estão soltas nas ruas e nos lugares mais improváveis. Participar da
oficina foi uma possibilidade de desenvolver ainda mais essa arte que necessita
dos olhos e ouvidos atentos e de um corpo inteiro e presente. Prontidão!
Dizia-nos Valquíria alertando para a necessidade de contar com todas as partes
do nosso corpo.
Valquíria é uma contadora e
escutadora de histórias. Contou-nos em nossas conversas que certa vez encontrou
com Tony Edson, um professor nosso da disciplina “Narrativas da rua” no curso de
Teatro Licenciatura da UFAL, assim como Valquíria, Tony é um contador de histórias, um pesquisador disciplinado e intenso em sua busca pela cultura Griot/Djeli do país de
Burkina Faso na África.
As histórias nos aproximaram. Trouxeram para perto de
nós Tony e Clareira de Teatro.
Começamos a oficina, mas não era
permitido dizer o nome, apenas de onde vinha o nosso contato e interesse pelas
histórias. Em seguida em círculo, tínhamos que expressar em três verbos as
iniciais do nosso nome para que o grupo descobrisse.
Gustavo, Alex, Valquíria fizeram muitos jogos lúdicos para nos aproximar do universo que cerca as
histórias.
Em um dos jogos tínhamos que nos
dividir em duplas, criar uma linguagem inexistente e contar uma história. O outro componente da dupla iria traduzir de acordo com os estímulos que o
“palestrante” fosse impondo, ou não. Tínhamos nesse exercício a possibilidade
de criar e contar sem precisar da nossa linguagem formal. Era preciso corpo,
ouvido, olhar e cumplicidade com o público e tradutor.
O exercício da cadeira foi uma
proposta provocadora. Deveríamos recriar com aquele elemento outras utilidades,
porém o desafio estava em ver que a quantidade de possibilidades iria
aumentando de acordo com a entrada de novos participantes e os novos possíveis
e impossíveis usos não deveriam ser repetidos. Chegamos a um número que não
consigo calcular, mas basta imaginar que um só participante teve que encontrar
22 possibilidades.
Quando foi a minha vez fui
fazendo as possibilidades que me surgiam ao ver meus amigos tentarem em seus
momentos, porém em um determinado momento o meu repertório havia acabado e eu
estava com uma cadeira para descobrir o que fazer com ela. Nesse exercício
percebi que nossa mente e nossa interação com o objeto pode nos levar a lugares
não imaginados e que quando achamos que não poderiam existir mais possibilidades
elas aparecem.
Alertavam para a
necessidade de procurar a resposta no próprio objeto. Não adiantava olhar para
o teto. “Mexa na cadeira! Encontre em contato com ela” nos diziam. Era preciso
encarar aquele objeto como uma possibilidade infindável de criação.
Em círculo deveríamos dizer um
nome de uma fruta e era um exercício de acúmulo, porque o participante seguinte
não só dizia a sua, mas também as dos companheiros que já haviam falado. É
possível imaginar que seja um exercício difícil, mas o grau de dificuldade
aumentava por que o circulo dava duas voltas, acumulando para cada pessoa duas
frutas. Percebi nesse exercício a necessidade de atenção para decorar a
sequência e principalmente observar o rosto do colega quando dizia o nome de sua
fruta, porque ajudava a associar a palavra.
Era hora de contar história.
Deveríamos contar uma historia que vivemos, criamos ou lemos em algum lugar.
Durante a história haveria um provocador que diria “DESENVOLVE” e nesse momento
pararíamos na última palavra dita para desenvolver melhor uma descrição do
objeto ou sensação. Continuaríamos ao ouvir o comando "SEGUE". Foi o meu exercício preferido do dia, porque percebi o
quanto podemos melhorar a contação de nossas histórias e o quanto podemos enriquecê-la
de detalhes e imagens.
No segundo dia de oficina criamos
uma orquestra com sons oralizados do nosso corpo. Cada um teve a oportunidade de ser
maestro dessa orquestra. Tínhamos que ser generosos e construir com os colegas
uma canção que alcançasse uma sonoridade interessante dentro do contexto
diversificado de sons. Foi um momento bonito. Havia música nos nossos corpos.
Começamos a criar imagens com os nossos corpos
e os corpos dos colegas. Inicialmente deveríamos completar a imagem que o
colega estava, mas depois tínhamos que em grupos de 5 encontrar uma imagem
comum ao longo dos estímulos que Gustavo nos oferecia.
Criamos em trios uma história
sensorial.
Deveríamos contar, sem usar as palavras, usando sons, movimentos e
objetos que estavam a disposição. Nossos colegas de oficina escutavam a
história de olhos fechados e ao final de todas deveríamos partilhar o que tínhamos
ouvido para ver se correspondiam as expectativas do grupo. Foi um resultado
positivo. Entendemos o essencial das histórias contadas e em algumas delas foi possível
alcançar o real objetivo do grupo. Esse exercício fez percebe a necessidade de precisão
na hora da execução, pois um barulho a mais fora do contexto poderia sugerir
outras histórias aos que não viam o que acontecia.
O último momento da oficina foi
marcado pela construção de uma história em grupo utilizando os elementos que
nos foram partilhados ao longo das horas de oficina.
Deveríamos criar um nome
para a história com as ações que sugeriam o nosso nome no inicio da oficina. Criado o nome foi a hora da surpresa, na qual o grupo Clareira trocou os títulos
e ficamos para criar uma história com o titulo sugerido por outros grupos. Dá para imaginar que os nomes das histórias ficaram engraçados, pois eram encontros de palavras que não imaginávamos como ficariam juntas.
Foram histórias diversificadas e
ricas em significado para aquele momento. Identificávamos muitos elementos que
nos foram partilhados através dos jogos e exercícios. Estávamos finalizando uma
etapa importante desse processo.
Foi um momento rico para contadores de histórias. Tínhamos numa mesma sala professores, uma futura jornalista, atores e atrizes que vivenciam a contação de histórias como elemento fundamental do seu estar no mundo.
O teatro
infantil do nosso estado também foi presenteado com a presença do Grupo Clareira de Teatro, nós que por aqui vemos muitas obras cheias de boas
intenções quando a questão é teatro infantil, mas que deixam a desejar no
cuidado e na formação dessa futura plateia de teatro, porque essas crianças um dia
recordarão de suas experiências teatrais e poderão voltar ou não para o teatro.
Falando em voltar ao teatro, André, filho da amiga chamada Cecília Tenório, assistiu ao
grupo no dia de sua apresentação. Voltou ao teatro no dia seguinte para
assistir aos Clowns de Quinta e fez questão de registrar em uma fotografia o
seu encontro na fila do teatro com o grupo Clareira. Ficou encantado, ele e a
mãe.
Clareira nos trouxe uma oficina
cheia de ludicidade, não poderia ser diferente. Esse é o universo que eles
percorrem e é esse o universo das histórias que nos fazem crescer. É um grupo
que nos faz repensar o fazer teatral para a infância e constroem um teatro que
desperta a criança de muitos adultos. São puro afeto. São verdadeiramente esse
teatro que eles constroem. Difícil não lembrar nossas conversas e momentos
antes de retomar a oficina, nos quais continuavam a serem atuadores, crianças, humanos e afetuosos artistas dentro e fora do palco.
Vamos guardar no coração e continuar
esse aprendizado, porque o mundo precisa de histórias.
Obrigado, Clareira!
Que as histórias nos encontrem e
nos façam se encontrar de novo.
Bruno... coisa bem linda tudo isso! Me senti um pouco aí com todos! Muito obrigada! Na próxima vez vou me colocar do elenco para poder viver isso tudo de pertinho! Grande abraço! Lúcia Bendati/Clareira de Teatro
ResponderExcluirLu muito obrigado a vocês. Voce esteve sim presente, porque você é parte dessa história. Beijos e venha nos visitar e traga a Nina. Rsrsrs
ResponderExcluirAssino embaixo desse sentimento de Bruno! MUITO OBRIGADA! !!!
ResponderExcluirDamiana adorei conhecê-la!
ResponderExcluirE eu estou adorando os relatos! Obrigada a você também Damiana! Pode deixar que um dia voltamos (e eu vou pela primeira vez) a Maceió! Venham visitar Porto Alegre também! Grande abraço!
ResponderExcluirObrigada por esse relato, Bruno... *_* Eu mesma não escrevi no meu blog todos os detalhes da oficina como vc e é muito bom saber que esse registro existe... :D
ResponderExcluirObrigada por esse relato, Bruno... *_* Eu mesma não escrevi no meu blog todos os detalhes da oficina como vc e é muito bom saber que esse registro existe... :D
ResponderExcluirLouryne foi ótima a sua presença na oficina!
ResponderExcluirLu já temos muito carinho por você! Estamos aqui de portas e coração aberto pra recebe-los!