Ele não queria saber o nosso
nome.
Levei um susto ao ouvir isso.
Não
poderia ser verdade. Seria arrogância? Não poderia ser, porque ele tem uma áurea cheia de luz e queria
muito mais da gente.
Era preciso não se dar um nome.
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Foto retirada da página Artes Cênicas SESC AL |
Assisti a “Divino” no dia
anterior a oficina “Corpo Emaranhado”(dias 28 e 29 de abril) do Núcleo
Atmosfera – NUA, (MA). Fiquei encantado ao ouvir os tambores tão vigorosos das
Caixeiras do Divino. Que tambor forte! Parecia um convite para deixar a alma
sair.
O NUA possui um trabalho que
envolve muito a questão do ser espiritual e da ancestralidade.
“Nossas mãos curam” ele falou e
pediu que de olhos fechados dançássemos com as nossas mãos curando o nosso
corpo.
“O que for ruim tira do teu
corpo e enterra na terra”, ele ensinou.
Ele nos pedia para visualizar a
terra enterrando nossos corpos e éramos a partir dali “larvas” vivenciando o
solo e experienciando sair. Visualize, ele frisou. Era preciso ir além da
imaginação, tinha que vê a coisa toda acontecendo.
Ele pediu que fossemos saindo
dessa terra, tocando o chão com as mãos e os pés e aos poucos despertando até encontrar o homo sapiens do nosso
corpo.
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Caixeiras do Divino. Foto retirada da página Artes Cênicas SESC AL |
“Todas as danças que hoje existem
nascem das danças ancestrais, da terra”(e aqui eu estou tentando reproduzir as
falas que ele ia dançando em nossos ouvidos).
Ela, sua companheira de cena e
oficina, nos trouxe o boi do Maranhão e ensinou uns passos para a gente. Eu não
sabia como me sair, parecia estranho, mas ao mesmo tempo parecia tão intimo da
gente.
“Descubram que dança surge no
corpo de vocês a partir desse boi” ele encaminhou.
Começava a surgir a nossa dança. O
encontro com a terra, com o boi e com o som das caixeiras do divino fazia a
gente ter uma experiência pessoal com a dança, como uma criança que volta ao ventre da mãe. Estávamos voltando para o que é nosso, porque não foi difícil encontrar entre as danças que surgiam linhas do nosso Guerreiro,Reisado, Coco de roda... Lembrei por muitos momentos do Mestre Bia e sua banda de Pífano pelas ruas de Viçosa, minha terra natal.
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Foto retirada da página Artes Cênicas SESC AL |
Todos foram ao círculo e dançaram
o que havia surgido a partir do boi. Eu que não sabia o nome ou a história da
vida de algumas daquelas pessoas, começava a identificar através da força
/leveza de seus movimentos um universo que seria só dela e que a dança permitia
que acessássemos.
Foi momento de se emaranhar. Num
único espaço deveríamos continuar o nosso movimento, no meio do movimento dos outros.
Estávamos misturados, emaranhados de terra, ar, fogo e água.
Era momento de explorar mais essa
experiência.
No segundo dia as caixeiras do
divino tocariam uma música única para cada dança que elas viam nascer no dia
anterior. Começamos a criar o que ele chamou de “Tubo” e uma pessoa ia à
frente, começava sua dança e os outros acompanhariam esse movimento, criando
uma sintonia, um tubo de movimentos individuais que traziam uma nova dança
coletiva.
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Foto retirada da página Artes Cênicas SESC AL |
Finalizamos o momento da oficina.
Em círculo, ele se apresentou, falou sobre sua história de vida e abriu a roda
para que falássemos de nós. Sabíamos muito um do outro. Ele nos reconheceu
através da dança e falou que o tempo todo estávamos revelando mais que o nome.
Ele se chama Leônidas Portela,
sua amiga é a bailarina Marina e as lindas e dóceis caixeiras do divino se
chamam Roxa e Gracinha.
O Núcleo Atmosfera foi ao fundo.
Percorreu o fundo da terra e suas camadas mais distantes. Situou o nosso corpo
nesse espaço e nos lembrou que somos todos um só nesse universo.
Estávamos todos protegidos na
atmosfera de uma dança de nós mesmos.
Gratidão!
Uau Bruno...
ResponderExcluirLendo teu relato meu deu a maior vontade de ter estado lá. Deve ter sido um momento riquíssimo quanto aprofundamento de técnica, mas especialmente pro espírito... *_*
Louryne senti sua falta! Vamos as proximas! beijos
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