O texto"Não basta abrir as janelas" foi escrito nos meus
primeiros dias de aula na Universidade de Coimbra - PT.
Hoje vejo cada vez mais forte a importância do olhar na construção da dramaturgia e de estar atento ao que se esconde além das janelas da vida.
Hoje vejo cada vez mais forte a importância do olhar na construção da dramaturgia e de estar atento ao que se esconde além das janelas da vida.
A foto abaixo registrou a minha primeira manhã longe de terras
brasileiras.
...
A arte quando encontra a multimédia age
com um processo continuo de investigação das sensações que a mistura das
linguagens com as tecnologias podem provocar no ser humano. Assim, “não basta
abrir a janela” para as novas tecnologias, é preciso um mergulho nas
possibilidades de criação que elas podem trazer para além das impressões do
cotidiano.
No vídeo de criação da Sony Bravia de
Jonathan Glazer para a venda de televisão em cores vemos o envolvimento de um
trabalho de integração trazendo a questão estética visual e musical.Assistir ao
vídeo finalizado é envolver-se visualmente e sonoramente numa viagem na própria
subjetividade, pois ao abrir essa janela da consciência está se permitindo o
alcance a lugares talvez nem imaginados pelos seus criadores que tem seus
objetivos centrais, como a venda do aparelho de TV, mas que também sabem que ao
fazer da propaganda uma arte com multimédia estão abrindo um caminho de
sensações inimagináveis.
Alberto Caeiro foi um dos heterônimos de
Fernando Pessoa que muito questionou o real sentido dos sentidos humanos, pois
é comum encontrar em seus poemas questões como: “O essencial é saber ver, Saber
ver sem estar a pensar, Saber ver quando se vê” ou mesmo quando escreve que
“Sempre que olho para as coisas e penso no que os homens pensam delas, Rio como
um regato que soa fresco numa pedra”.
José Saramago escreveu que “Se podes
olhar, vê. Se podes ver, repara”, pois a construção do olhar sobre as coisas é
um processo que vai além de simplesmente vê-las como são. Porque é preciso
reparar, internalizar, deixar o que se passa pelas janelas dos olhos tocar a
nossa subjetividade e explodir possibilidades de interpretação, pois existem
pessoas que vêem pedras e enxergam pedras, assim como aqueles que abrem suas
janelas, passam pelos mesmos lugares todos os dias e nunca percebem o espaço
que circulam, outras olham pedras e enxergam poemas como Carlos Drummond de
Andrade.
Saber olhar as coisas é um passo
importante para entender a arte e multimédia e também a poética do cotidiano. É
um passo de percepção da própria subjetividade.
Coimbra -
Portugal, 03 de março de 2013.
O texto poderá ser lido também em:
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