Nos dias 28, 29 e 30 de novembro
vivenciamos o nosso segundo momento na Aldeia Wassu-Cocal em Joaquim Gomes –
AL.
Voltar é reencontrar... Voltar é se encontrar de novo.
Chegamos à Aldeia na manhã do
sábado. Fomos direto a Comunidade da Pedrinha. Por lá encontramos um final de
semana movimentado. Estava rolando simultaneamente o curso “Indígena Digital” com
a coordenação de Coré e Rubens Lopes. Foram oferecidos por eles cursos de
fotografia, edição e gravação dos filmes dos próprios participantes e o mais
legal de todo projeto é que o equipamento ficará na comunidade para que eles
possam continuar registrando e difundindo suas histórias.
E por falar em histórias... Nós estávamos
lá também para contar e ouvir histórias. O objetivo do projeto “AmeriAfroContos Volantes Chamam pra Roda: A
oralidade de quem domina pela vontade de aprender de quem respeita” é
justamente contar histórias, oferecer técnicas teatrais para que as histórias
que lá existem continuem e se propaguem por todos os cantos, porque a nossa
história precisa ser contada e deve ser contada por nós.
O nome do nosso projeto é
extenso, mas a gente não abriu mão dele ao longo da escrita do projeto para
apresentar a universidade, pois queríamos deixar já no titulo exposto que nós
que estamos entre as quatro paredes da universidade estávamos querendo
aprender, aprender ouvindo, aprender vendo e se reencontrar nesse processo com
o que é nosso e que nos foi tirado pelas mídias e pela própria escola durante
muito tempo.
Encontrar as histórias que
constroem a nossa identidade alagoana/brasileira é uma possibilidade de
vivenciar o pertencimento e entender de alguma maneira como chegamos aqui. Vale
ressaltar que a oralidade é uma marca na história das comunidades indígenas, a
contação de histórias sempre esteve presente, pois as histórias são passadas de
geração em geração através desse contato direto e afetivo.
Na noite do sábado aconteceu um
encontro com os lideres da aldeia e toda a comunidade. Nessa noite Rubens e
Coré iriam apresentar a proposta da oficina para a comunidade e exibir alguns
filmes produzidos por outras comunidades indígenas no Brasil.
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Indigena Digital |
O terreiro estava
cheio. Uma tela foi feita na parede de uma casa e todos nós sentamos para ver e
ouvir os oficineiros e a comunidade. Foi um momento rico de aprendizado.
Estavam lá Cacique Jeová, o Pajé e tantas pessoas que mantém aquela aldeia viva
e resistente. Eu vi em cada palavra e em cada corpo os traços de luta, resistência
e principalmente a certeza de saber quem são e não abrir mão disso.
Posso dizer que um dia na minha
vida eu estive rodeado de guerreiros, de heróis de verdade e quando falo
guerreiros e heróis eu falo de pessoas que enfrentam com garra todas as atrocidades
cometidas por políticos e coronéis que por aqui ainda existem. É gente de luta.
Aquela terra um dia jorrou sangue para que aquelas pessoas pudessem estar
ali naquele terreiro começando a aprender a usar os equipamentos audiovisuais
para registrar as suas histórias e utilizar novas formas de comunicação.
Terminamos a noite com uma roda
de Toré e como numa ligação intima com o universo eu senti naquela noite as
estrelas descerem para perto do chão. Estávamos todos conectados numa mesma
roda, nós e os que já partiram e lutaram até o fim para que esse momento pudesse existir.
Uma mulher me viu do lado de fora da roda no inicio e me pegou pelo
braço num acalanto que me trouxe de volta para a vida. Eu estava rodeado de
guerreiros de lanças que dançavam o seu pertencimento a vida e assim eu me
sentia protegido de tudo, de todo medo e desencontro com o passado. Era noite
de encontro e eu não imaginava que poderia ser tão doce e impactante estar
naquela roda. Aquela mulher me puxava pra dentro e me trazia de volta.
No dia seguinte fomos a
Comunidade da Jereba para a segunda etapa da oficina. O professor Toni Edson
apresentou seu espetáculo “Afrocontos, Afrocantos” e nos ligou num universo de
histórias que formam a nossa identidade.
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"Afrocontos, Afrocantos" |
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Toni Edson apresenta "Afrocontos, Afrocantos" |
Realizamos a oficina nas duas
comunidades, porém avaliamos com dona Rosineide que precisariamos direcionar o
publico para adolescentes e adultos, pois o intuito é contribuir com o
empoderamento desse espaço de afirmação e resistência e nesse momento precisariamos desse grupo que agora já começava a contar suas histórias com o audiovisual.
Na manhã de segunda-feira fomos a
Escola Indígena José Maximo de Oliveira. Fizemos uma roda de contação de
histórias com os membros/bolsistas do projeto. Foi um momento importante de se
viver, pois aquelas crianças e professores nos recebiam com muita atenção e
generosidade ao nos oferecerem a escuta e a entrega sincera de olhares. Acertamos
com a direção da escola uma oficina direcionada aos professores no nosso
próximo encontro, para assim, oferecer mais uma ferramenta que possa contribuir
com suas aulas.
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Contação de Histórias |
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Rayane Wise contando histórias |
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Wesley Felipe contando histórias |
A cada encontro na aldeia eu
volto mais próximo de mim. O professor Toni me falou que um amigo falou para
ele que um dia ele contou histórias para mudar o mundo, mas que hoje conta
histórias para não se perder de si. O projeto me faz sentir isso, que contamos
para entender quem somos, para entender quem fomos um dia, para entender o que
roubaram de nós e assim nunca mais permitir que a gente se perca da nossa essência.
Assim como o Indígena Digital, o “Ameriafrocontos”
é mais uma ferramenta de propagação de histórias, de luta e resgate pelo
pertencimento. Estávamos lá com nossas ferramentas para aprender e partilhar
numa única roda.
Gratidão!
Abraços,
Bruno Alves
Registros:
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Banho de Rio |
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Caminhos |
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Oficina na comunidade Jereba |
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Estudantes da Escola Indigena José Máximo de Oliveira |