10 fevereiro 2017

Por onde andamos – Pertencer para acontecer

Era momento do primeiro encontro presencial de toda a equipe.


Conversávamos e planejávamos coisas por um grupo no facebook, mas agora era hora de se ver e colocar todas as questões e expectativas na roda.



Primeiro era preciso escolher um local para ensaio. Sugeri a possibilidade de ser no Complexo Cultural do Teatro Deodoro, porque é um espaço que a maioria de nós nunca usou para construir uma montagem. Foi enviada uma solicitação a Diretoria de Teatros de Alagoas – DITEAL que nos apoiou e liberou o espaço para os ensaios.

Chegou o dia.

Dentro de mim havia muita expectativa, muito medo, insegurança, mas também muita vontade de estar junto. Eu estava tão ansioso que tive dificuldades para pegar no sono na noite anterior.
No primeiro encontro eu fiquei responsável pela realização dos jogos e exercícios, mas a proposta era que ao longo dos encontros cada pessoa pudesse trazer e ser responsável por exercícios e jogos que dialogassem com a proposta.

Estávamos juntos.

Conversei e lembro de ter dito três coisas para que a gente pudesse começar essa montagem. Que trabalhássemos o desapego, a apropriação e a generosidade. A gente sempre fala sobre isso, mas era preciso usar de generosidade para com o outro. Eu estava ali com um material textual disponível para ser desapegado, jogado fora, resignificado...

A apropriação e o pertencimento são coisas muito importantes, porque não pode ser a voz de uma pessoa, mas a nossa voz coletiva cantando e gritando junto. A proposta é que esse pertencimento seja tanto que possamos identificar a presença de todos nós na construção final. Tem que ter da gente, tem que ser a gente, tem que ser a nossa voz, a nossa identidade construindo junto aquilo que queremos apresentar ao público.

Deu medo no primeiro encontro, porque a primeira coisa que vinha na minha cabeça era “Qual será a técnica? ”. A pergunta não se respondeu em minha cabeça, mas naquele momento não era preciso.







Vivenciamos exercícios que fui experienciando ao longo da caminhada de buscas em teatro. Jogos de concentração, interação com o outro e de buscas por narrativas. Queria que escutássemos o outro. Que tentássemos nos aproximar mais de seu universo particular, pois uma parte do coletivo se encontrava pela primeira vez ali.

Na parte final do encontro fizemos uma leitura do material textual. Uma chuva de ideias começou a surgir e cada pessoa envolvida começava a identificar onde sua experiência de vida e arte poderia entrar para contribuir na construção.





Tínhamos naquela roda pessoas com experiência em audiovisual, coco de roda, máscaras, palhaçaria, Brecht, sociologia, música, contação de histórias, trabalho energético de ator e atriz... Era uma roda cheia de vida e força. Cheia de técnica e identidade. Precisaríamos usar isso ao nosso favor.

Saí aliviado desse encontro, porque a apropriação começava a nascer em cada um. Via em seus corpos e expressões a presença sendo construída na história. Estávamos juntos buscando essa generosidade de vivenciar o outro e suas experiências.

A partir daí cada um começaria a buscar exercícios e possibilidades de dialogar com a temática. Os próximos encontros seriam divididos em exercícios sugeridos por cada membro. Não entraríamos no material textual, porque o mais importante era essa construção de um corpo só entre nós, um corpo plural e diverso de experiências.

Era momento da roda se abrir para cada um construir o ritmo.

Continua...

Bruno Alves
Ator e Dramaturgo do Coletivo Volante de Teatro


Nenhum comentário:

Postar um comentário