17 julho 2015

Diálogos "Texto Ex Machina" - "Domesticáveis por Bruno Alves




 Um texto de teatro é feito para ser visto.

Escrevo por exercício de criação e brincadeira com as possibilidades da literatura dramática. Escrever peças de teatro tem sido uma aventura que eu amo, sim, descobri que amo muito. Sempre amei. Encarar-me como um dramaturgo tem sido um processo de muito trabalho, esforço e caminho de leitura e escrita. Estou caminhando... Estou entendendo essa coisa que eu amo fazer.

Gosto da dramaturgia e suas diversas possibilidades. Dramaturgia é coisa viva e mutável! Gosto do dramaturgo como pessoa presente e provocadora na construção e encontro com o texto ou partitura dramatúrgica. Dramaturgia que eu vou gostando de fazer é esse caminho de entendimento e prática constante de leitura, encontro, observação e escrita.

Aprendi tanta coisa nesse tempo. Aprendi que inspiração não chega ou bate na porta, ela só vem na transpiração.

Como ator nunca consegui ler um texto, seja ele um poema, conto, romance, nota policial no jornal, receita de comida, dentre outros, sem me imaginar como personagem da história. Apego-me fácil ao personagem que estou lendo e leio imaginando fazendo num “palco”. É sempre assim...

Desde meus tempos na cidade de Viçosa - AL escrever era uma possibilidade de descoberta. Eu escrevia minhas peças e via nelas a chance de dizer o que eu queria dizer (as primeiras peças a gente nunca esquece, pois é, né?!). Teatro é essa busca que eu faço de entender a cada dia o que eu quero dizer e por que quero dizer com teatro.

A mudança da escrita acontece na saída da cidade de Viçosa. Os novos encontros, as oficinas com os grupos de diversas partes do Brasil, as viagens, as conversas, a viagem, as mudanças... Meu casamento.

A dramaturgia está em todo lugar. No desenho de uma criança, numa música, na fila do banco ou da loteria, numa fotografia, em alguém sentado num banco de uma praça, numa pessoa tomando banho de chuva e de repente... Que surpresa! Nasceu uma possibilidade de cena.

Entre intervalos de som, silêncio e fúria eu busco observar, escutar e olhar sempre com mais atenção. Ficar quieto e deixar que o mundo se mostre é para mim uma possibilidade de entender e sentir a vida brotar num ponto de ônibus ou na mesa de um bar.

Tudo que escuto, assisto, leio, converso e calo me ajuda a encontrar as cenas reveladas ou escondidas no cotidiano. A escrita para teatro é a minha forma de comunicação ou incomunicabilidade com esse espaço e esse tempo. São tentativas cheias de desejo e vontade. São tentativas cheias de boas e diversas intenções.

Em 2014 participei do Projeto do SESC  “Dramaturgia: Leituras em Cena” com Francis Madson (AM) e desde lá ele já me provocava a conhecer as novas dramaturgias e o encontro delas com o corpo do ator/atriz.

“Domesticáveis” nasceu em um desses encontros marcantes da vida.

No mês de maio fiz a oficina “Dramaturgia Contemporânea: Escrever no Labirinto” com Vinicius Souza (MG), também realizada pelo SESC –AL.
Essa oficina me possibilitou um encontro intenso com as diversas formas de dramaturgia produzidas em nosso tempo. Vinicius incentivou e provocou a nossa busca e prática constante. Desde junho a gente vem mantendo acesa essa vontade de conhecer com os nossos encontros no “Grupo de Estudos e Escrita de Dramaturgias”.

Experimento escrever essas cenas “Domesticáveis” como alguém que curioso brinca com os sons e a dor de ser coisa. 

A cena da “FACA” é fruto de uma matéria policial, dessas bárbaras que vemos sendo notificadas constantemente nas páginas dos jornais e que as vezes nos chocamos, outras vezes não. É uma busca por comunicação dentro da materialidade das coisas. O entendimento e a humanização de coisas no meio de situações tão desumanas.

O Projeto “Texto Ex Machina” surge como uma possibilidade de revelar essas entrelinhas guardadas em gavetas dispersas e ampliar a proximidade das pessoas com essa procura por uma construção dramatúrgica dentro do nosso estado. É um caminho de entendimento de diálogos possíveis entre linguagens diferentes, mas que há muito tempo se comunicam de diversas formas.

Quando li pela primeira vez o texto “domesticáveis” para Nivaldo ele já imaginou uma releitura para o vídeo. Fomos entendo e desconfiando dessa possibilidade. Aos poucos fomos nos rendendo a ela e quando percebi já não podíamos resistir em querer que os textos fossem vistos. Casávamos mais uma vez naquele momento.

Algumas vezes escrevendo eu dizia a Nivaldo que tinha a impressão de que as peças de alguma forma pareciam um filme e certamente não estou ficando fora de mim. Essas peças que não são filmes nascem no convívio com quem respira cinema o dia todo. Estar próximo de Nivaldo me traz uma possibilidade de novos ritmos, sons e silêncios que eu desconhecia.

“Texto Ex Machina” é o começo de um caminho de estudos, experimento e proximidade da literatura para teatro com as pessoas, com a câmera e com as janelas virtuais. 

Sejam bem vindos (as)! Esse espaço é de todos nós!


Bruno Alves

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