27 julho 2017

Prêmio Eris Maximiano: 6º Passo: Ipioca


Chegamos ao Bairro de Ipioca.

Um começo de tarde ensolarado e abafado. Para mim que estava gripado já não era fácil suportar a quentura.



Seguimos de ônibus, Rayane e eu. E por alguns instantes dormi. Tempo suficiente para passarmos do ponto de decida.

Pegamos a integração que levaria ao Alto de Ipioca, por lá tínhamos encontro marcado com Jasiel Pontes, presidente da Associação dos Moradores do Bairro de Ipioca.

Ao percorrermos o bairro e seu clima interiorano conversávamos com as pessoas para saber a sede da associação.

"Qual delas?" - Perguntavam - nos e foi aí que ficamos sabendo da existência de outras lideranças dentro da comunidade.

Escolhemos a que Jasiel preside por conta de seu histórico que conhecemos pela televisão e nas reuniões da prefeitura. Ele é sempre uma voz ativa lá dentro. 

Encontramos a sede. Ruas asfaltadas com paralelepípedos. Muito tempo que não via por aqui.



Encontramos Jasiel dentro da Associação e conversamos muito durante a tarde.



Fui pesquisar na internet o significado da palavra Ipioca e do tupi-guarani quer dizer "A colheita de raízes" (ipi-oga) ou "a casa do chão, caverna" (ibi-oga).

Os dois significados representam muito o bairro.

Vou começar falando da "Casa do chão, da caverna".

Lá em Ipioca existe a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó. Ela está prestes a completar 390 anos de sua criação.  Embaixo da igreja existe um túnel feito pelos Holandeses na época da colonização para poderem fugir e se refugir. Esse túnel encontra-se por lá ainda e dá acesso direto a praia, mas nesse momento não é possível acesso, porque precisaria de restauração. 


E por falar em restauração a igreja foi restaurada recentemente, depois de muita luta e cobrança da comunidade. Aos poucos as pessoas foram vendo a igreja desabar e aquela igreja é memória na vida de muita gente.

Ipioca é "Colheita de raízes" por que o trabalho da associação é essa busca constante pelo resgate e valorização da memória local. O bairro carrega muitas histórias, desde ser o local de nascimento do segundo presidente do Brasil, Floriano Peixoto, a uma notícia muito deliciosa, pois o Doce de Caju de Ipioca foi eleito patrimônio imaterial do estado de Alagoas.


Ipioca é lugar de muita passagem de turista, hoje os colonizadores são os italianos que enchem as beiras das praias de hotéis, Resorts... E você deve imaginar o que o colonizador faz... Ele lucra com o melhor que tem no lugar, pois enquanto os Resorts estão cheios de turistas, no Alto de Ipioca há dias em que falta água, há lugares que precisa de saneamento básico e só no ano passado eles conseguiram que se construísse no local uma creche.


Eu sentia nas poucas horas o rastro de memória se espalhando pelas ruas. Senhoras que fazem doces, biscoitos, senhores que pescam, crianças brincando na pracinha.



O trabalho da associação caminha nesse lugar de resgate da dignidade humana e valorização da autoestima da comunidade, porque lá há muita riqueza explorada historicamente e atualmente por colonizadores diversos, mas a maior riqueza ainda vive no olhar de cada morador que se senta em sua porta para compartilhar histórias.

Grupo de Capoeira da Associação (Arquivo Pessoal)


Há sete anos existe o bloco "Ipioca na Folia".  Uma festa que resgata a tradição dentro da comunidade e movimenta o feriado das pessoas. Aqui em Maceió o carnaval se dá nos bairros, nas periferias, onde as pessoas se juntam para celebrar a festa.




Jasiel foi muito receptivo conosco. Lembrei-me do filme "Narradores de Javé" em seu discurso. Ele nos trazia um prato cheio de memórias que não podem ser esquecidas, porque é a própria história do bairro, da cidade e das pessoas.

E é difícil de falar em autoestima quando o bairro muitas vezes fica em segundo plano, quando a vida das pessoas não é mais importante do que a construção de um novo resort. Lá existe potencial, existe história e gente forte o suficiente para transformar a realidade. Cada luta da associação junto aos moradores é uma raiz que se colhe e se expande, desde a busca por uma creche para deixar os filhos a uma praça para lazer e socialização.


Jasiel nos falava da igreja como simbolo dessa constante luta pela preservação do patrimônio e da memória. A igreja é um dos exemplos das conquistas da união coletiva, mas elxs sabem que ainda há muito o que se fazer.



Voltamos para casa com esse exemplo de ressignificação de um lugar e principalmente da luta para manter viva a história de cada um.

Gratidão, Ipioca e até breve!


Esse projeto foi contemplado com o Prêmio Eris Maximiano de 2015.



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