20 julho 2017

Prêmio Eris Maximiano: 4º Passo – Santos Dumont

Talvez esse seja o relato mais difícil para mim.

Santos Dumont é o bairro de Maceió que mais tenho "intimidade". É difícil para mim chegar com o projeto e tentar vê-lo de outra maneira. Tenho algumas histórias com o bairro.




Quando criança vinha nas férias ficar com minhas tias e primas que moram lá até hoje. Logo, vez ou outra estou por lá.

Em 1998, a primeira vez que estive por lá, eu vinha de Viçosa com minha mãe ou minha vó. Andávamos muito da pista até a casa da minha tia. Para mim aquele caminho parecia infinito, mas não era fácil chegar até o destino. O bairro na época não era calçado e quando chovia andávamos no meio da lama.




Era sempre o mesmo ritual. Desceu do ônibus era hora de tirar os sapatos se não quisesse atolar na lama. Voltar era mais difícil, porque os pés estariam sujos e tínhamos que torcer para encontrar água ou leva-lá em uma garrafinha.


Mas a lama não era o problema. Era divertido para mim, criança, pisar na lama. A questão é que nesse período meu pai encontrava-se preso no Presídio São Leonardo. Passamos um ano nessas idas e vindas. Atravessando a lama. Talvez fosse essa a parte mais dolorosa para mim em chegar ali. Ter que atravessar a lama, as grades, ter que atravessar e não saber até quando duraria.


Depois o tempo passou. Esse capítulo aí foi ficando como uma memória doída, até hoje...

Comecei a cursar Hotelaria depois que terminei o ensino médio e minhas tias me abrigavam nas idas e vindas para estudar em Maceió. No começo do curso de Teatro raramente eu voltava lá, porque tinha abrigo na casa de amigas, a Lêu e a Zette, que moram a poucos minutos a pé de onde eu estudava.

Meu primo vem chegando.


Mas agora eu retorno com "Volante" por lá. Queria antes de tudo ter por perto minhas tias, primas e primos. Desejo muito que eles vejam esse caminho que fazem parte, porém, já estou na quarta visita ao bairro e existe uma coisa que não entendo lá no fundo.

É movimentado o bairro. Os famosos "churrasquinhos" atraem muitas pessoas. Aos domingos, quando geralmente passo por lá, a área comercial parece viver um ápice. Muita gente na rua e o cheiro de galeto assado na brasa pela rua para o almoço.

Minha tia me apresentou o senhor Juarez que é presidente de uma das Associações do bairro. A Associação dos Moradores do Santos Dumont - AMOBSAND.



Seu Juarez foi muito atencioso. Falou nos encontros dos avanços que a comunidade alcançou através da organização e da luta. Eu olho para o bairro e vejo como realmente está diferente de quando eu vinha nos anos de 98 e 99.

Caminhei mais uma vez pelo bairro. 

Fui até a Praça mais conhecida do bairro. Estava reformada. Seu Juarez falava da luta que foi para conseguir esse espaço de convivência. Só quem não tem uma praça, ou segurança suficiente para poder ficar tranquilamente nela sabe o quanto é difícil morar em um lugar que não te convidar a estar na rua.

A praça

Vou sempre com calma e termino a visita na casa de minha tia Fátima e minha prima Rafaela tomando café com pão. Conversamos. Colocamos o papo em dia. Rimos. E sigo meu caminho.

Ainda voltarei para mais uma conversa com seu Juarez e passeio pelo bairro.

Sinto imensa vontade de compartilhar por lá essa construção do espetáculo. Talvez a história que busco esteja misturada com a minha história lá dentro dele.

Não há o que resistir. 

Já não existe lama.

Nem grades.



Bruno Alves


Esse projeto foi contemplado com o Prêmio Eris Maximiano de 2015.





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