Você sabia que de 10 a 24 de outubro vai acontecer a quarta edição do Festival de Artes Cênicas de Alagoas - @festal2018 ?
Serão 19 espetáculos + shows + Feira Criativa + Exposição sobre a Memória das Artes Cênicas de Alagoas + Trocas com escolas da rede pública + Mesas de Conversa + Críticas + Bate-papo sobre nossa produção ?
Pois é! Então se prepara, porque por aqui já estamos nos preparando.
O @festal2018 é um festival colaborativo criado e gerido por grupos e artistas de Alagoas.
Segue as redes sociais do @festal2018 e fica por dentro de tudo.
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21 setembro 2018
Dez anos da partida de Ronaldo Aureliano - por Bruno Alves
Fazem 10 anos da partida do
professor Ronaldo Aureliano.
Não fosse o meu encontro com
Ronaldo eu hoje certamente não faria teatro.
Essa coisa de ser ator não nasceu
comigo. Eu aprendi com ele.
Lá em Viçosa, onde nasci, pulsa a
etnocena. Posso lhe dizer que a espetacularidade das manifestações populares
são sim a nossa primeira referência do estar em cena.
Eu sabia o que era um Reisado, um
Guerreiro, um Boi, mas esse negócio de
teatro, essa palavra “teatro” assim como a usamos, eu não tinha ideia do que
seria.
Quando eu tinha 8 anos, na Escola
Municipal Conego Jatobá, o professor Ronaldo levou seu Grupo Teatral Riacho do
Meio para apresentar seu espetáculo. Eu lembro daquela história ali encenada. Falava
de violência doméstica, falava de coronelismo, questionava sobre coisas que
eram estabelecidas como “normais” no nosso contexto. Tinha humor, tinha
tristeza também. Eu entendi, nunca esqueci. Por isso acho estranho ainda hoje
quando menosprezam o público achando que ele não vai entender.
Aos 16 anos ele me convidou para
fazer uma oficina com ele e Roberta Aureliano, sua filha. Eu fui de resenha
mesmo, querendo no fim das contas ver o que ele queria dizer quando tanto
falava e fazia teatro na cidade.
Daquele dia em diante continuei a
fazer teatro.
Mas não era só sobre fazer teatro
que Ronaldo ensinava. Era sobre como ser um ser humano melhor nessa vida e principalmente
como lutar para ter um mundo melhor.
Ronaldo quebrou a frase que
sempre ouvi que “pobre tem que ficar no seu canto”. Ronaldo mostrou-me cantos,
portas, caminhos, estradas.
E fazia isso quando me gravava
fitas de discos que ele gostava para que eu pudesse conhecer, ou quando me
emprestava livros, ou quando marcava para que eu fosse assistir filmes e shows no
vídeo cassete, porque em casa eu não tinha.
Fez isso quando olhou para mim e
tantos amigos e amigas e disse que nós podíamos. Que éramos capazes. Fez isso
quando nos mostrou que injustiças sociais e ausência de direitos deviam ser
combatidas. Fez isso quando transformou os ferros da estação ferroviária em
obras de arte. Transformou tanto ferro em arte. Fez da gente ferro, para ter
força e resistência para fazer arte.
Essa oportunidade que me deu eu
serei sempre grato, sempre!
Sua partida em 2008 foi impactante.
Morreu ao tentar salvar um estudante na cachoeira. Só fui uma vez naquela
cachoeira depois disso. Fiquei com o coração desolado. Era difícil olhar para
aquelas ruas e não encontrar seu sorriso, suas críticas e seus incômodos.
Esse ano no Festival de Artes
Cênicas de Alagoas – FESTAL, celebramos a memória das nossas artes cênicas. Ronaldo
é minha memória mais preciosa.
Ronaldo ainda está aqui, eu sei. E
vai estar em cada passo que eu der.
Sinto sua falta, professor.
Com amor, para sempre.
Bruno Alves
18 setembro 2018
Sobre Volante na Gazeta Web.
Saiu esses dias uma matéria cheia de carinho e afeto sobre a trajetória do Coletivo Volante de Teatro feita pela jornalista Greyce Bernardino.
Greyce quis saber um pouco sobre a trajetória do espetáculo "Volante" pelos bairros de Maceió nesses últimos anos e aproveitou para falar de outros trabalhos nossos nesses últimos quatro anos.
É muito gratificante poder compartilhar sobre a nossa caminhada e aprendizado nessa jornada, escolha de vida, resistência e amor que cercam o nosso fazer teatral.
Conversar com ela foi também uma possibilidade de revisitar caminhos, inseguranças, perceber os lugares que começam as inquietações, a necessidade de contar nossas histórias e principalmente fortalecer essa escolha que nos move.
Estamos aqui nesse quarto ano de Coletivo. Ainda muito novinhos, mas com bastante sede de aprender e recomeçar sempre que for preciso.
Nós agradecemos a Greyce por esse espaço de troca e compartilhamento.
Gratidão, Greyce!
Leia aqui:
17 setembro 2018
Sobre o filme "O caso do homem errado" por Rayane Góes
Sobre o filme O Caso do Homem Errado.
Eu Rayane Goés, Sou Feminista, sou militante atriz e também gestora do Coletivo Volante que é sediado aqui na cidade de Maceió. Temos o espetáculo "Incelença", que fala sobre o genocídio negro na voz dessas mães que perderam seus filhos vítimas da violência polícia. Minha luta se faz muito através de "Incenlença". Faço Teatro e uso a minha arte na labuta diária para o mundo não mudar quem sou. Nós do Coletivo Volante usamos nossa arte para o mundo não mudar quem somos. E sim, também usamos nossa arte para nos posicionarmos e lutarmos pelo que acreditamos. Me sinto feliz e contemplada quando vejo em outras esferas artísticas uma obra de arte que é também ferramenta de luta das mazelas diárias de nossa realidade.
Ontem dia 16 de setembro tive a oportunidade de assistir a esse filme " O caso do Homem errado" da diretora Camila de Moraes, após o filme o debate com a diretora, no Espaço Arte Pajuçara.
E por tudo isso acredito que esse filme é de extrema importância. É essencial para que todos assistam, pois ele traz um caso de assassinato de um jovem negro, Júlio César de Melo Pinto, nos anos 1980. Mas casos assim acontecem todos os dias em várias partes do Brasil. Acontece todos os dias em Alagoas, em Maceió. Estão matando nossos jovens negros. Estão exterminando nossos jovens negros. A cada 4 mortes por minuto, 3 são negros e em sua maioria vítimas da violência Policial, vítimas de um sistema corrupto e de uma estrutura de poder branca.
A partir de quinta-feira dia 20/09, no Arte Pajuçara, às 19h, começará a exibição desse filme potente e essencial. Um filme independente e de grandiosa importância social e militante. Vamos fazer com que filmes assim, ocupem esses espaços. Ele ficará uma semana em sessão. Mas precisa de público para permanecer mais semanas. Cada pessoa só tem a ganhar assistindo esse filme. Filme de uma diretora negra guerreira, #camilademoraes , que vem lutando por esses espaços, por seus direitos, por seus lugares de fala. E pelo direito do seu povo em viver, ser, falar e estar onde quiserem estar. Gratidão, Camila Moraes, por sua arte necessária em nós.
Por: Rayane Góes
#ocasodohomemerrado
Sobre o filme O Caso do Homem Errado.
Sinopse: Júlio César de Melo Pinto, o operário negro que foi executado em Porto Alegre pela Polícia Militar, nos anos 1980. A história do jovem é contada através de depoimentos como o de Ronaldo Bernardi, o fotógrafo que fez as imagens que tornaram o caso conhecido, o da viúva do operário, Juçara Pinto, e de nomes respeitados da luta pelos direitos humanos e do movimento negro no Brasil. (Sinopse tirada da página Adoro Cinema)
A partir de quinta-feira dia 20/09, no Arte Pajuçara, às 19h, começará a exibição desse filme potente e essencial. Um filme independente e de grandiosa importância social e militante. Vamos fazer com que filmes assim, ocupem esses espaços. Ele ficará uma semana em sessão. Mas precisa de público para permanecer mais semanas. Cada pessoa só tem a ganhar assistindo esse filme.
Da diretora: #camilademoraes
#ocasodohomemerrado
Eu Rayane Goés, Sou Feminista, sou militante atriz e também gestora do Coletivo Volante que é sediado aqui na cidade de Maceió. Temos o espetáculo "Incelença", que fala sobre o genocídio negro na voz dessas mães que perderam seus filhos vítimas da violência polícia. Minha luta se faz muito através de "Incenlença". Faço Teatro e uso a minha arte na labuta diária para o mundo não mudar quem sou. Nós do Coletivo Volante usamos nossa arte para o mundo não mudar quem somos. E sim, também usamos nossa arte para nos posicionarmos e lutarmos pelo que acreditamos. Me sinto feliz e contemplada quando vejo em outras esferas artísticas uma obra de arte que é também ferramenta de luta das mazelas diárias de nossa realidade.
Ontem dia 16 de setembro tive a oportunidade de assistir a esse filme " O caso do Homem errado" da diretora Camila de Moraes, após o filme o debate com a diretora, no Espaço Arte Pajuçara.
E por tudo isso acredito que esse filme é de extrema importância. É essencial para que todos assistam, pois ele traz um caso de assassinato de um jovem negro, Júlio César de Melo Pinto, nos anos 1980. Mas casos assim acontecem todos os dias em várias partes do Brasil. Acontece todos os dias em Alagoas, em Maceió. Estão matando nossos jovens negros. Estão exterminando nossos jovens negros. A cada 4 mortes por minuto, 3 são negros e em sua maioria vítimas da violência Policial, vítimas de um sistema corrupto e de uma estrutura de poder branca.
A partir de quinta-feira dia 20/09, no Arte Pajuçara, às 19h, começará a exibição desse filme potente e essencial. Um filme independente e de grandiosa importância social e militante. Vamos fazer com que filmes assim, ocupem esses espaços. Ele ficará uma semana em sessão. Mas precisa de público para permanecer mais semanas. Cada pessoa só tem a ganhar assistindo esse filme. Filme de uma diretora negra guerreira, #camilademoraes , que vem lutando por esses espaços, por seus direitos, por seus lugares de fala. E pelo direito do seu povo em viver, ser, falar e estar onde quiserem estar. Gratidão, Camila Moraes, por sua arte necessária em nós.
Por: Rayane Góes
#ocasodohomemerrado
Sobre o filme O Caso do Homem Errado.
Sinopse: Júlio César de Melo Pinto, o operário negro que foi executado em Porto Alegre pela Polícia Militar, nos anos 1980. A história do jovem é contada através de depoimentos como o de Ronaldo Bernardi, o fotógrafo que fez as imagens que tornaram o caso conhecido, o da viúva do operário, Juçara Pinto, e de nomes respeitados da luta pelos direitos humanos e do movimento negro no Brasil. (Sinopse tirada da página Adoro Cinema)
A partir de quinta-feira dia 20/09, no Arte Pajuçara, às 19h, começará a exibição desse filme potente e essencial. Um filme independente e de grandiosa importância social e militante. Vamos fazer com que filmes assim, ocupem esses espaços. Ele ficará uma semana em sessão. Mas precisa de público para permanecer mais semanas. Cada pessoa só tem a ganhar assistindo esse filme.
Da diretora: #camilademoraes
#ocasodohomemerrado
16 setembro 2018
Seguimos Confluindo
Voltamos de mais uma vivência do Projeto Confluências do @sescalagoas
Foram três dias de imersão na cidade de Arapiraca. Muitos encontros, trocas, afetos e aprendizados.
O Projeto #Confluências2018 é o encontro de 20 artistas alagoanes de diversas linguagens para pensar e construir um projeto artístico coletivo para o nosso estado.
Estamos felizes com esses momentos vividos e oportunidade de trocas tão valiosas.
Sigamos!
#Sesc
#Alagoas
#Arapiraca
#Maceio
#Arte
Foram três dias de imersão na cidade de Arapiraca. Muitos encontros, trocas, afetos e aprendizados.
O Projeto #Confluências2018 é o encontro de 20 artistas alagoanes de diversas linguagens para pensar e construir um projeto artístico coletivo para o nosso estado.
Estamos felizes com esses momentos vividos e oportunidade de trocas tão valiosas.
Sigamos!
#Sesc
#Alagoas
#Arapiraca
#Maceio
#Arte
11 setembro 2018
Sobre encontros e experiências na Aldeia Arapiraca 2018
Esses afetos me afetaram, é fato. Respirei arte, me inspirei de criatividade, bebi dos saberes populares. Fui contagiada por sorrisos, conversas, danças, brincadeiras e bordões.
Foi uma semana em que a escrita da crítica sobre arte não veio só como registro, o que é fundamental, mas também como um intercâmbio com o público e os artistas, mostrando opiniões a fim de gerar discussões sobre a obra, mostrando linhas de pensamentos de forma analítica, mas buscando uma linguagem comum, para assim trazer uma reflexão aos artistas sobre seu trabalho e mostrar uma outra leitura do espetáculo ao público.
Ampliei o olhar, exercitei a escuta que agora está mais aguçada. Me permiti aprender e ser atravessada por estados e coisas. Me permiti ser atravessada pelo encontro. E agora sou outra e me gosto mais. Estou imersa na presentificação das possibilidades, estou aberta a oportunidades, estou aberta ao universo. Quero sempre ser outras a buscar os encontros da vida como ser volante que sou, como @coletivovolanteteatro que somos.
Agradeço ao que tenho, ao que experienciei e a tudo que ainda está por vir.
Rayane Góes
08 setembro 2018
Sobre encontros e afetamentos no I Festival Alagoas Criativa
Débora me enviou uma mensagem
convidando o coletivo para participar de um painel intitulado "Negócios que são espetáculos" e compartilhar um pouco sobre empreendedorismo em Artes
Cênicas no nosso estado durante o I Festival Alagoas Criativa organizado pelo
Sebrae-AL.
Aceitamos o convite.
Ao longo dos dias que antecederam
o festival muitas inquietações surgiram e perguntas do tipo: “Mas é para falar
sobre o quê? ”, "Somos empreendedores?".
Essas perguntas começaram a
surgir quando comecei a pensar sobre o empreendedorismo, confesso que nunca
tinha parado para pensar nesse empreendimento de vida que é o nosso trabalho
com o coletivo. Talvez eu não tivesse respostas suficientes de perguntas do
tipo: “Como fazer para sobreviver com Artes Cênicas em Alagoas?”. Essa, confesso
mais uma vez, tem sido a pergunta que mais temos tentado responder nesse ano de
2018, porque tem aparecido muita gente nos perguntando isso.
Fui de coração aberto levando
mais perguntas e inquietações do que respostas, até por que as respostas nós
ainda estamos buscando e todas as perguntas que nos cercam tem nos movido a
caminhar e dar um passo de cada vez.
Dentro de mim não haveria uma fórmula
para ser compartilhada ou um modelo de como fazer. Nós não temos uma forma fixa
na nossa criação, essa vai se moldando, se desconstruindo a cada encontro e
descobrindo outras possibilidades a cada dia. Somos um coletivo jovem, quatro
anos de caminhada, consideravelmente pouco tempo.
![]() |
André Lira mediou o painel. |
O mais legal de ter participado
desse painel foi saber que lá encontraria pessoas que empreendem tempo de suas
vidas na construção de coisas que as movem. Lá, nesse dia 01/09, estava para nos
receber André Lira, representante do Festival e mediador do painel, e também
Djaelton Quirino, ator do Teatro de Retalhos da cidade de Arco Verde – PE.
Conheça mais do Teatro de Retalhos AQUI!
Antes de começar o painel
Djaelton e eu conversávamos sobre trajetórias e ele me contava histórias do
Teatro de Retalhos que vem desde 2008 realizando um trabalho muito belo por
Pernambuco.
![]() |
As duas fotos são um registro de Elaine Lima. |
Quando começou o painel falei um pouco sobre a trajetória
do coletivo, das questões de precariedade que muitas vezes encontramos durante
nosso processo de criação, da falta de espaços alternativos para arte na
cidade, mesmo com tantos prédios e casas abandonadas. Falei que vamos
encontrando em atividades paralelas (oficinas, aulas, dentre outros) espaço de sustentabilidade
da nossa vida. Falei da ausência de políticas públicas para a cultura dentro do
nosso estado, da falta de leis de incentivo. Falei também do pouco interesse do
setor privado em apoiar muitas ações, pois estes muitas vezes estão sempre
visando grandes produções e geralmente grandes produções do eixo sul e sudeste
quando passam por aqui. Falei que dentro do coletivo vamos construindo nossos
figurinos, buscando outros espaços, produzindo nossas peças, fazendo e
aprendendo aos poucos a fazer as funções que poderiam ser feitas por outros
profissionais.
Sobre algumas dessas questões eu
tenho entendido como sendo parte da nossa narrativa, esse fazer artesanal, esse
espaço de autonomia que lutamos diariamente para manter caminhando.
Djaelton contou-nos sobre como é
fazer teatro em Arco Verde. Falou-nos de como o grupo foi importante para sua permanência
dentro da cidade. Eis uma questão que bateu forte comigo, pois fazem sete anos
que deixei minha terra natal, Viçosa – AL, para buscar outros caminhos, pois os
pouquíssimos que tinham por lá começavam a se fechar. Houvesse uma política pública
cultural dentro do nosso estado certamente eu teria ficado mais tempo em
Viçosa, ou talvez não tivesse saído, mas enfim, as coisas nem sempre são como a
gente imagina e também sou muito feliz de estar em Maceió e tendo a oportunidade
de dialogar e construir o caminho do coletivo, coisa que talvez não acontecesse
por lá, não dessa maneira, com essas pessoas e esse espaço cidade grande que
tanto nos provoca.
Conhecer a trajetória do Teatro
de Retalhos foi fortalecedor e inspirador.
A plateia participou, trouxe
questões para dentro do painel, uma moça da plateia era de Arco Verde, mora
aqui em Maceió agora, e emocionada nos contou a importância do Teatro de
Retalhos na sua vida e formação. Ouvindo aquele depoimento emocionado, também
reascendeu em meu peito muita esperança, porque no fim das contas a gente com
esse nosso teatro está buscando chegar no coração das pessoas. É sobre afetos que falamos. O que nos afeta e o que afeta o todo.
O Festival me fez também entender
que como coletivo somos sim empreendedores, estamos construindo pontes e
caminhos o tempo todo para esse nosso ofício.
O Festival foi também um caminho
que se mostrou como espaço de diálogo, trocas e fortalecimento.
Nós agradecemos a oportunidade!
Bruno Alves
04 setembro 2018
Sobre encontros e afetamentos de "Incelença" em Arapiraca - AL.
Há dois anos atrás íamos a
Arapiraca pela primeira vez com o Coletivo Volante de Teatro para apresentar no
meio de uma praça o nosso primeiro espetáculo, o “Volante”, que dá nome a esse
coletivo.
Deslocar-se facilmente,
atirar-se, buscar habilidades para o voo.... Isso é o que nos propõe esse nome
que o coletivo recebe, isso tem sido também a nossa busca e missão.
Deslocar-se facilmente e atirar-se em busca de uma proximidade com um público desconhecido, seja ele
quem for, seja aonde estiver.
O projeto Aldeia Arapiraca do
SESC AL nos proporcionou esses momentos, pois no dia 02 de setembro de 2018
estávamos lá pela segunda vez para reencontrar esse público e se lançar nos
braços de um outro público que não conhecíamos.
Em 2016, ano em que iniciamos a
montagem do espetáculo “Incelença”, Alagoas aparecia com 6 das 20 cidades mais
violentas do Brasil nos dados do Mapa da Violência elaborado pela Faculdade
Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso). Nesse mapa Arapiraca era a 18º cidade mais
violenta para se viver no Brasil. Vale ressaltar que esses dados são de 2016.
“Incelença” parte dessa
inquietação com esses dados e o constante aparecimento de Alagoas entre os
lugares mais violentos para se viver.
Recentemente um levantamento
feito Datafolha e divulgado pelo jornal Folha de S.Paulo no dia 21 de agosto
desse ano mostrou que o governo alagoano está entre os estados mais
ineficientes do País na relação entre recursos financeiros e cumprimento de
políticas públicas. Leia mais AQUI!
Estávamos em Arapiraca para
falar sobre essas vidas e não podemos de deixar de falar que são vidas de
jovens negros e periféricos. E não podemos esquecer que por aqui, nesse estado,
a cada 13 pessoas assassinadas por ano, 12 são negras e periféricas.
O SESC AL escolheu para nossa
apresentação a Casa de Caridade de
Candomblé Ilê Axé Dará Xangô Oya, uma ong localizada no Bairro da Vila
Contente que tem como liderança o Pai Alex.
Aqui em Alagoas as
Casas de Ilê Axé possuem um trabalho forte e socialmente importante dentro dos
bairros periféricos, pois em sua maioria estão localizadas dentro dessas
periferias e realizam trabalhos espirituais e sociais de acolhimento e
construção de dignidade humana e autonomia. Cada Casa dessas, visto que
conhecemos algumas também aqui em Maceió e Viçosa, lugares que temos mais
acesso, possuem esse trabalho tão importante.
Saíamos em direção a Vila Contente, no
caminho estrada sem asfalto, uma estrutura de amontoado de sucatas, dentre outras coisas.
Crianças brincando na rua.
Fomos recepcionados por Sandra,
esposa do Pai Alex, e quem coordena muitas ações dentro do espaço. Sandra nos
acolheu de coração aberto. Esteve ao nosso lado o tempo todo e cuidando para
que nos sentíssemos em casa. A ONG Casa de Caridade é um espaço lindo.
![]() |
Foto de Fernanda Vasconcelos |
Pai Alex chegou. Acolheu-nos, fez
algumas perguntas e retirou-se. Soprou no ar fumaça de bênçãos, proteção e
retirou-se.
Continuamos pelo tempo respirando
as energias boas daquele lugar. Dentro de mim habitava uma felicidade por estar
ali, porque algo me dizia que algo aconteceria e nos afetaria de alguma forma.
Pai Alex retornou mais uma vez.
Observou nosso material de cena espalhado pelo chão e direcionou seu olhar a
uma matraca que usamos. Foi direto ao objeto e nos contou:
“Eu sou o último encomendador de
almas da região”.
Contou-nos a história da matraca
em sua vida, contou para que era usada, quem a usou, e sua importância em um
contexto um pouco esquecido de muitos de nós. Falou-nos dos cantos das
incelenças, rememorou muitas coisas, presenteou-nos com essas memórias e
retirou-se mais uma vez para só retornar quando iniciássemos nossa missão.
As crianças iam e vinham dentro
do salão. Sandra já mobilizava a comunidade para que vinhessem pela noite
assistir. Para as crianças ela dizia:
“Só entram se trouxerem um adulto
para acompanhar”.
E ali naquelas palavras iniciou-se
também a missão das crianças de convencer um adulto para trazê-las para
assistir.
“O Helicóptero da polícia vem por
aqui direto”, falava-nos Sandra.
Aos poucos contava-nos de mães que
perderam seus filhos e filhas e do constante crescimento da violência naquele
espaço.
“Incelença” já havia começado
desde o momento que pisamos naquele chão.
Anoitecia na Vila Contente.
Pessoas de outros bairros da
cidade, ou “pessoas da rua” como costumam chamar as pessoas de outros bairros
os moradores da Vila Contente, vinham em seus carros e caronas para assistirem
ao espetáculo. Algumas perguntavam “temos que esperar a peça começar aqui fora
mesmo?”.
A comunidade se aproximava do
portão de entrada para o espetáculo.
“Incelença” aconteceu. Salão
lotado.
Foram 50 minutos de espetáculo.
Foram 2 horas de conversa com o
público.
Pai Alex compartilhou conosco sua
história como encomendador de almas. Contou-nos a história da Vila Contente,
que ainda é conhecida como “Cabaré Velho”, mas que seu primeiro nome sempre foi
“Vila Contente”.
Falou-nos sobre a violência no
bairro e principalmente sobre a violência na cidade. A exclusão e a
marginalidade da “Vila Contente” dentro da cidade de Arapiraca.
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Foto de Lili Lucca |
Houve uma explosão de depoimentos
e inquietações no público presente. As pessoas que assistiram a peça
continuavam ali para falar sobre seus cotidianos.
![]() |
Foto de Lili Lucca |
Pai Alex dizia:
“Essa mãe daí da peça que lava a
roupa mora aqui.
Essa mãe da feira também mora
aqui.
Essa mãe que procura a filha mora
aqui também”.
No meio desse turbilhão estava Zilma.
Zilma perdeu seu filho para a
violência.
Zilma estava ali o tempo todo
assistindo, escutando.
Zilma vibrava dentro de nós.
Uma hora quando alguém da plateia,
que não mora na Vila Contente, compartilhou que a partir daquele momento olharia
criticamente a situação da violência em sua cidade e que antes não havia
prestado atenção ou dado importância as coisas que aconteciam com pessoas
negras e periféricas.
Zilma olhou para a pessoa e
perguntou duas vezes:
“Você nunca se colocou no lugar
outra pessoa?
Você nunca se colocou no lugar de
outra pessoa?”.
Pai Alex com a ajuda de um senhor
cantou-nos duas incelenças.
Zilma permaneceu por ali
escutando. Levantava. Fumava um cigarro e voltava a sentar conosco.
Foram cerca de três horas com a
gente ali se olhando no olho, construindo um novo olhar sobre as coisas, desconstruindo olhares, permitindo-se estar errado, reconhecer nossos erros,
nossos privilégios e tentando entender algo além do que mostrou ali na peça.
Estávamos
na Vila Contente rodeados com mães como Zilma que carregam a dor de perder
alguém que colocou no mundo.
Incelença para nós ganha novos
caminhos a cada encontro como esse.
Incelença é para Zilma.
E Zilma pergunta a mim e a você:
“Você nunca se colocou no lugar de
outra pessoa?
E o que a gente faz quando o
encontro com o outro nos afeta e nos pede uma reação a tudo isso que está aí
exposto na nossa cara, no nosso lado?
Bruno Alves
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