21 maio 2015

Volante e a Moda

  No dia 19 de maio encontrei com estudantes do curso de Produção de Moda da Escola Técnica de Artes da UFAL.
  Fiquei ansioso e nervoso com esse encontro, porque estaria de frente com uma galera que entende e curte muito o universo da criação em moda.


Fotografia de Washington da Anunciação



  Apresentei o espetáculo e em seguida tivemos um bate papo mediado pelo professor David Farias e com a participação da figurinista Andréa Almeida, estava presente também na plateia a professora Rita Namé. Foram bastante receptivos e acolhedores. Falei do processo de criação de cenário e figurino e trocamos impressões sobre as coisas observadas e vividas.
  Essa manhã me deixou muito feliz, porque eu estava “nu” diante de pessoas que com um olhar mais sensível para essa temática trariam impressões sobre o que viam.


Fotografia de Washington da Anunciação

  O figurino e cenografia do espetáculo são assinados por mim e por Nivaldo Vasconcelos. Nosso processo de criação se deu através  da desconstrução dos objetos e coisas encontradas no lixo ou doadas por amigos. Observávamos para o material e descobríamos o que queríamos transformar. Acho que levamos muito ao pé da letra quando Manoel de Barros diz que “o que serve para o lixo, serve para a poesia”. No fim das contas a minha concepção do termo lixo mudou muito nesses últimos tempos.
 Encontrar essas pessoas e escutar o que diziam me deixou fortalecido e encorajado para seguir a jornada. Falei para elas que mais adiante o processo de figurino e cenário continuará em movimento, pois os presentes que o personagem vem ganhando ao longo das apresentações serão partes da cenografia e figurino.
  É que para mim esse processo nasce de buscas de um “ator-criador” que se permite descobrir no meio de tesouras, linhas e tecidos. Nunca me permiti por a mão na massa (tecido) e aos poucos me vejo sendo bem recebido por uma galera que tem um olhar para essa questão. 
 Lembro-me das aulas do professor Acioli e suas palavras de incentivo para pôr a mão e criar possibilidades com aquilo que estava à disposição.  Acioli sempre me dizia que o figurino tem que dizer sobre os dramas do personagem e ontem ao conversar com os (as) estudantes elas e eles me diziam que o caminho para a moda estava ali ao ser criado um conceito e comunicado uma mensagem através da roupa e dos símbolos.
  Andei lendo na internet definições para a palavra "moda" e em algumas delas encontrava o significado de costume, retrato de uma comunidade e de um tempo. Pensar o figurino do espetáculo foi uma possibilidade de buscar nas cores ligadas a terra uma forma de diálogo com o que o tempo traz e com o que ele leva da gente. Essa roupa que "Severino" veste é uma forma de entender um coração desgastado pelo tempo e uma alma nua pronta para a felicidade, porque seu passado vive junto ao presente em movimento continuo.


Fotografia de Washington da Anunciação

 Quando comecei a colocar a mão na construção do figurino sentia uma necessidade de provar da experiência de fazer a própria roupa, ou vestir a própria pele, longe da vontade de ser um figurinista, queria ser um "ator criador" que tem propriedade pelo que veste.
 Todo o resto da construção da dramaturgia se dá nesse aspecto de se ver vestido com a nudez da própria alma, buscando assim, fortalecer qualidades e trabalhar defeitos. A decisão pela autonomia de criação foi uma forma de me dizer que posso, porém isso não quer dizer que andei só, tive sempre por perto o olhar de muita gente e as mãos também, porque a cada vez que eu criava ia entendendo como aquela roupa ou palavra interferia e modificava o meu movimento e como eu poderia melhorar para que corpo e a vestimenta dialogassem de maneira coerente e confortável.
  Figurino e cenografia tem sido uma busca que se dá no encontro com o corpo e os olhares das pessoas que encontro no caminho. Cada pessoa que se faz presente nesse encontro ou me dá um presente durante o espetáculo estará também brevemente como parte da visualidade do espetáculo. 
  É um figurino volante, mutável, mas que não perde a essência de sua busca e nascimento.
  Não esquecerei cada palavra e cada gesto de gentileza que me proporcionaram naquela manhã.
  Agradeço a todxs as pessoas presentes. 
 Gratidão ao apoio, as fotografias, a torcida e os estímulos do professor Washington da Anunciação, um ser que sempre me incentivou a por a carroça pra frente e seguir adiante em busca de novos desafios e descobertas. 
  Agradeço a todxs da Escola Técnica de Artes da UFAL.
  Saí desse encontro vestido de amor e afeto por todos os lados!
Gratidão!



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