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Foto extraída do perfil do grupo Catibrum T de Bonecos |
Teatro de Bonecos não é um ofício
fácil.
Começo esse texto ressaltando
isso, porque vivi na pele, na mente e no osso o processo de criação e
preparação do Grupo CatiBrum Teatro de Bonecos de Minas Gerais.
O grupo existe há vinte e quatro anos e desde então vem desenvolvendo um trabalho importante e
fortalecedor do teatro de bonecos no Brasil.
A oficina que aconteceu pelo
Palco Giratório no circuito do SESC AL ocorreu nos dias 02 e 03 de maio e teve
como instrutores uma parte dos membros do grupo: Rooney Tuareg, Camilla Borges,
Beto Militani e Leandro Marra.
Iniciamos no sábado com uma roda
de apresentação das pessoas que vivenciariam a experiência. Entendemos da
história do grupo e da história das pessoas envolvidas. Evidenciamos ainda a
nossa curiosidade e necessidade de conhecer mais sobre esse universo.
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Foto extraída do perfil do grupo Catibrum T de Bonecos |
“O importante são as perguntas”,
dizia Beto nos incentivando a vivenciar todos os momentos e seguir com as
perguntas que nos movem, mesmo que as respostas demorem ou não apareçam.
O primeiro jogo proposto pelo grupo
foi um que envolvia concentração e coordenação motora. Trabalhamos em círculo o
passar e receber das energias da roda através de estímulos sonoros e corporais.
Tivemos um momento em que Beto
realizou um alongamento de preparação do nosso corpo. Iamos dos pés a cabeça
acordando, alongando e deixando o corpo alerta. “CORPO ALERTA” tornou-se
palavra de ordem. Nesse exercício foi possível destacar o cuidado que ele
observou que devemos ter com os nossos pés e a importância de dar mais atenção a essa parte do
nosso corpo. São eles que sustentam a nossa casa e precisariam ser alongados, já
que em parte do tempo comprimimos dentro de um sapato que tenta dar uma nova
forma a eles. Enquanto, Beto ia dando as instruções os outros facilitadores se
aproximavam e nos ajudavam a corrigir a postura do nosso corpo. Era preciso preparar a coluna, as pernas, a região da pélvis... Era preciso estar alerta.
Era notável no corpo a diferença
causada, a dor que surgia em algum lugar e o incomodo com parte dos
alongamentos. Meu corpo certamente estaria estranhando aquela nova informação
que recebia. Orientou-nos a sempre deixar pelo menos vinte segundos alongando
cada parte, pois seria tempo do corpo processar a informação.
Rooney seguiu a nossa preparação
trabalhando questões da respiração diafragmática e do aquecimento vocal. Preparamos
o rosto, a articulação da boca e em roda fizemos exercícios sonoros.
Camilla continuou a preparação
trabalhando pelo espaço os movimentos diferenciados dos nossos pés em contato
com o chão. Propôs-nos um exercício de respiração que exigia muito esforço
corporal. Dava para sentir de bruços em contato com o chão o esforço que nosso
corpo fazia para expandir o ar na região diafragmática, enquanto tínhamos pés e
mãos suspensos.
Leandro realizou um jogo em trio,
no qual tínhamos que encaixar nosso movimento na imagem construída pelos nossos
companheiros, desde que não fechássemos a sua possibilidade de deslocamento,
porque sairíamos da imagem paralisada a cada comando individual que ele
indicasse.
Mas onde estavam os bonecos?
Nós que pensávamos (pelo menos eu
pensei) que assim que chegássemos entraríamos em contato com eles, tivemos que
entender que para se chegar à ação era preciso preparar o corpo, a voz e a mente. De repente,
Leandro aparece com um boneco pequenino em suas mãos. Aquela imagem começa a
mexer e me envolver numa fantasia que não entendia. Estava acreditando naquela
ação. O boneco que Leandro utilizava era feito com luvas, apenas as luvas sem
nenhum detalhe ou adereço. Fiquei encantado com aquela transformação e animação
daquele objeto, agora transformado em boneco.
No fim da tarde tivemos o
primeiro contato com os bonecos. Estes eram feitos com tecidos e amarrados com
barbante nas pontas formando as mãos e pés e no meio das mãos um nó que formava
a cabeça/nariz. Rooney alertou para que tivéssemos atenção com o nariz, pois
esse seria os olhos do boneco. Trabalhamos a questão do foco, dos direcionamentos
que o nariz indicava e a questão do eixo para deixar o boneco em pé. Leandro
indicava em nossa frente direcionamentos.
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Fotografia de Claudete Lins |
No dia seguinte, após o processo
de alongamento corporal e vocal de Beto e Rooney, voltamos a entrar em contato
com os bonecos de tecido. Deveríamos criar uma história com ele. Esse boneco
era animado por três pessoas, um ficava com a questão do eixo (cabeça e coluna)
e os outros animavam as mãos e pés. No segundo contato com esse mesmo boneco
fomos criando uma melhor desenvoltura, pois os facilitadores da oficina
alertavam que o segredo está no ensaio, na repetição e na busca pela precisão
dos movimentos. Dessa vez ficamos na frente do espelho, mas como já havia sido
orientado não era uma boa opção, pois nesse caso o espelho atrapalha, porque a
atenção deve ser voltada para o boneco.
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Foto extraída do perfil do grupo Catibrum T de Bonecos |
Apresentamos ao grupo, fomos avaliados
e avaliamos a desenvoltura dos nossos colegas. O grupo fazia suas considerações
a respeito das apresentações das cenas curtas. Esses momentos de avaliação
foram ricos em debate sobre dúvidas que trazíamos.
Na última parte da oficina fomos
apresentados aos bonecos articulados do grupo. Esses bonecos eles produziram
para exercício durante as oficinas, mas sua estrutura parte do mesmo principio
com os quais eles produzem seus bonecos em muitos espetáculos, inclusive “O som
das cores”.
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Fotografia de Claudete Lins |
Visualizei um trabalho artesanal rico em acabamento e detalhes. Esse
boneco tinha as articulações do corpo bem trabalhadas e possibilitariam um
maior trabalho e precisão nos detalhes das ações.
Tivemos contato com eles e em
trios tivemos que entender seu funcionamento em nossas mãos. Era diferente,
porque agora tínhamos uma figura que representa o ser humano e assim, o cuidado
na execução só aumenta. Roney nos falava que é preciso acreditar no que está
fazendo para que o público entre junto na viagem. Ele ficava na frente dando os
direcionamentos para que fizéssemos juntos o boneco ganhar vida.
Foi a parte mais difícil da
manipulação. Executar detalhes humanos como: sentar, ajoelhar, coçar, dentre
outros, não foi fácil. Passamos no grupo que participei maior parte do tempo
entendendo como fazê-lo ajoelhar. Falando pode parecer fácil, mas em grupo e
tendo o cuidado nos detalhes não se torna fácil. É uma tarefa que exige uma
prática constante.
Apresentamos, avaliamos, fomos
avaliados e partilhamos da gratidão pelos dias vividos.
Essa oficina foi uma experiência muito
importante para entendermos que a manipulação direta exige muito trabalho do
ator e atriz e que a base dessa criação é comum em todo o fazer teatral, como a
questão da preparação corpóreo-vocal.
Outro ponto que não esquecerei foi
visualizar e vivenciar as possibilidades que existem para a manipulação. É possível
tornar uma luva ou um tecido em um boneco, basta à prática e o cuidado com os
detalhes. São importantes os detalhes, pois às vezes um coçar as costas do
boneco torna a cena de uma beleza inacreditável, porque parece que quando
assisto um boneco estou procurando e acreditando na imensa humanidade que ele
carrega em si ou que na ponta dos dedos que o carregam e na força dos braços ele é carregado
cheio de vida e energia que o faz vivo, mágico e encantador.
O momento agora é de se perguntar, refletir e processar
as informações recebidas e talvez a primeira pergunta que se estabeleça em
minha cabeça já seja sobre as inúmeras possibilidades de manipulação de bonecos
que possam estar bem próximas de mim.
Esses momentos nos ampliam a
visão sobre o fazer teatral, sobre a prática dos grupos e sobre as
possibilidades que nos cercam.
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Foto extraída do perfil do grupo Catibrum T de Bonecos |
Catibrum Teatro de Bonecos apresentará amanhã seu
espetáculo “O Som das Cores” no SESC Centro às 20h e parte em seguida para mais uma etapa do Palco
Giratório pelo Brasil. Ficam aqui conosco e em cada trabalho que viermos fazer daqui pra
frente, porque o que foi compartilhado dentro da sala da oficina é processado e
utilizado ao longo da vida e prática teatral, assim a gente queira. Assim eu quero, assim eu
acredito.
Voltem sempre por aqui!
Voltem sempre por aqui!
Gratidão!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirÓi eu ali...
ResponderExcluirkkkk
Acabei de pegar emprestado algumas das tuas fotos aqui, tá?
Espero que não se importe...
Depois juro que devolvo..
=P
=*
P.S: Oficina enriquecedora... *_*
Louryne fique a vontade! As fotos peguei da Claudete e do perfil do grupo. Beijos. Vai domingo para a última oficina? Beijo
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