03 maio 2015

"Encontro Giratório" Catibrum Teatro de Bonecos (MG)

   
Foto extraída do perfil do grupo Catibrum T de Bonecos
    Teatro de Bonecos não é um ofício fácil.
   Começo esse texto ressaltando isso, porque vivi na pele, na mente e no osso o processo de criação e preparação do Grupo CatiBrum Teatro de Bonecos de Minas Gerais.
   O grupo existe há vinte e quatro anos e desde então vem desenvolvendo um trabalho importante e fortalecedor do teatro de bonecos no Brasil.
   A oficina que aconteceu pelo Palco Giratório no circuito do SESC AL ocorreu nos dias 02 e 03 de maio e teve como instrutores uma parte dos membros do grupo: Rooney Tuareg, Camilla Borges, Beto Militani e Leandro Marra.
   Iniciamos no sábado com uma roda de apresentação das pessoas que vivenciariam a experiência. Entendemos da história do grupo e da história das pessoas envolvidas. Evidenciamos ainda a nossa curiosidade e necessidade de conhecer mais sobre esse universo.

Foto extraída do perfil do grupo Catibrum T de Bonecos

   “O importante são as perguntas”, dizia Beto nos incentivando a vivenciar todos os momentos e seguir com as perguntas que nos movem, mesmo que as respostas demorem ou não apareçam.
   O primeiro jogo proposto pelo grupo foi um que envolvia concentração e coordenação motora. Trabalhamos em círculo o passar e receber das energias da roda através de estímulos sonoros e corporais.
   Tivemos um momento em que Beto realizou um alongamento de preparação do nosso corpo. Iamos dos pés a cabeça acordando, alongando e deixando o corpo alerta. “CORPO ALERTA” tornou-se palavra de ordem. Nesse exercício foi possível destacar o cuidado que ele observou que devemos ter com os nossos pés e a importância de dar mais atenção a essa parte do nosso corpo. São eles que sustentam a nossa casa e precisariam ser alongados, já que em parte do tempo comprimimos dentro de um sapato que tenta dar uma nova forma a eles. Enquanto, Beto ia dando as instruções os outros facilitadores se aproximavam e nos ajudavam a corrigir a postura do nosso corpo. Era preciso preparar a coluna, as pernas, a região da pélvis... Era preciso estar alerta.
   Era notável no corpo a diferença causada, a dor que surgia em algum lugar e o incomodo com parte dos alongamentos. Meu corpo certamente estaria estranhando aquela nova informação que recebia. Orientou-nos a sempre deixar pelo menos vinte segundos alongando cada parte, pois seria tempo do corpo processar a informação.
   Rooney seguiu a nossa preparação trabalhando questões da respiração diafragmática e do aquecimento vocal. Preparamos o rosto, a articulação da boca e em roda fizemos exercícios sonoros.
   Camilla continuou a preparação trabalhando pelo espaço os movimentos diferenciados dos nossos pés em contato com o chão. Propôs-nos um exercício de respiração que exigia muito esforço corporal. Dava para sentir de bruços em contato com o chão o esforço que nosso corpo fazia para expandir o ar na região diafragmática, enquanto tínhamos pés e mãos suspensos.
   Leandro realizou um jogo em trio, no qual tínhamos que encaixar nosso movimento na imagem construída pelos nossos companheiros, desde que não fechássemos a sua possibilidade de deslocamento, porque sairíamos da imagem paralisada a cada comando individual que ele indicasse.
   Mas onde estavam os bonecos?
  Nós que pensávamos (pelo menos eu pensei) que assim que chegássemos entraríamos em contato com eles, tivemos que entender que para se chegar à ação era preciso preparar o corpo, a voz e a mente. De repente, Leandro aparece com um boneco pequenino em suas mãos. Aquela imagem começa a mexer e me envolver numa fantasia que não entendia. Estava acreditando naquela ação. O boneco que Leandro utilizava era feito com luvas, apenas as luvas sem nenhum detalhe ou adereço. Fiquei encantado com aquela transformação e animação daquele objeto, agora transformado em boneco.
   No fim da tarde tivemos o primeiro contato com os bonecos. Estes eram feitos com tecidos e amarrados com barbante nas pontas formando as mãos e pés e no meio das mãos um nó que formava a cabeça/nariz. Rooney alertou para que tivéssemos atenção com o nariz, pois esse seria os olhos do boneco. Trabalhamos a questão do foco, dos direcionamentos que o nariz indicava e a questão do eixo para deixar o boneco em pé. Leandro indicava em nossa frente direcionamentos.

Fotografia de Claudete Lins

   No dia seguinte, após o processo de alongamento corporal e vocal de Beto e Rooney, voltamos a entrar em contato com os bonecos de tecido. Deveríamos criar uma história com ele. Esse boneco era animado por três pessoas, um ficava com a questão do eixo (cabeça e coluna) e os outros animavam as mãos e pés. No segundo contato com esse mesmo boneco fomos criando uma melhor desenvoltura, pois os facilitadores da oficina alertavam que o segredo está no ensaio, na repetição e na busca pela precisão dos movimentos. Dessa vez ficamos na frente do espelho, mas como já havia sido orientado não era uma boa opção, pois nesse caso o espelho atrapalha, porque a atenção deve ser voltada para o boneco. 

Foto extraída do perfil do grupo Catibrum T de Bonecos

   Apresentamos ao grupo, fomos avaliados e avaliamos a desenvoltura dos nossos colegas. O grupo fazia suas considerações a respeito das apresentações das cenas curtas. Esses momentos de avaliação foram ricos em debate sobre dúvidas que trazíamos.
  Na última parte da oficina fomos apresentados aos bonecos articulados do grupo. Esses bonecos eles produziram para exercício durante as oficinas, mas sua estrutura parte do mesmo principio com os quais eles produzem seus bonecos em muitos espetáculos, inclusive “O som das cores”. 

Fotografia de Claudete Lins

   Visualizei um trabalho artesanal rico em acabamento e detalhes. Esse boneco tinha as articulações do corpo bem trabalhadas e possibilitariam um maior trabalho e precisão nos detalhes das ações.
   Tivemos contato com eles e em trios tivemos que entender seu funcionamento em nossas mãos. Era diferente, porque agora tínhamos uma figura que representa o ser humano e assim, o cuidado na execução só aumenta. Roney nos falava que é preciso acreditar no que está fazendo para que o público entre junto na viagem. Ele ficava na frente dando os direcionamentos para que fizéssemos juntos o boneco ganhar vida.
   Foi a parte mais difícil da manipulação. Executar detalhes humanos como: sentar, ajoelhar, coçar, dentre outros, não foi fácil. Passamos no grupo que participei maior parte do tempo entendendo como fazê-lo ajoelhar. Falando pode parecer fácil, mas em grupo e tendo o cuidado nos detalhes não se torna fácil. É uma tarefa que exige uma prática constante.
   Apresentamos, avaliamos, fomos avaliados e partilhamos da gratidão pelos dias vividos.
  Essa oficina foi uma experiência muito importante para entendermos que a manipulação direta exige muito trabalho do ator e atriz e que a base dessa criação é comum em todo o fazer teatral, como a questão da preparação corpóreo-vocal.
  Outro ponto que não esquecerei foi visualizar e vivenciar as possibilidades que existem para a manipulação. É possível tornar uma luva ou um tecido em um boneco, basta à prática e o cuidado com os detalhes. São importantes os detalhes, pois às vezes um coçar as costas do boneco torna a cena de uma beleza inacreditável, porque parece que quando assisto um boneco estou procurando e acreditando na imensa humanidade que ele carrega em si ou que na ponta dos dedos que o carregam e na força dos braços ele é carregado cheio de vida e energia que o faz vivo, mágico e encantador.
   O momento agora é de se perguntar, refletir e processar as informações recebidas e talvez a primeira pergunta que se estabeleça em minha cabeça já seja sobre as inúmeras possibilidades de manipulação de bonecos que possam estar bem próximas de mim.
   Esses momentos nos ampliam a visão sobre o fazer teatral, sobre a prática dos grupos e sobre as possibilidades que nos cercam.

Foto extraída do perfil do grupo Catibrum T de Bonecos

   Catibrum Teatro de Bonecos apresentará amanhã seu espetáculo “O Som das Cores” no SESC Centro às 20h e parte em seguida para mais uma etapa do Palco Giratório pelo Brasil. Ficam aqui conosco e em cada trabalho que viermos fazer daqui pra frente, porque o que foi compartilhado dentro da sala da oficina é processado e utilizado ao longo da vida e prática teatral, assim a gente queira. Assim eu quero, assim eu acredito.
Voltem sempre por aqui!


Gratidão! 

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Ói eu ali...
    kkkk

    Acabei de pegar emprestado algumas das tuas fotos aqui, tá?
    Espero que não se importe...
    Depois juro que devolvo..

    =P
    =*

    P.S: Oficina enriquecedora... *_*

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  3. Louryne fique a vontade! As fotos peguei da Claudete e do perfil do grupo. Beijos. Vai domingo para a última oficina? Beijo

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