Estreamos!
Respiro e solto o ar como um uivo guardado dentro do peito.
Estrear é fácil. Difícil é o caminho que antecede a estreia.
Agora que o filho está solto no mundo é tempo de ensiná-lo a
andar com as próprias pernas. Como um bebê que precisa caminhar e entender que
a vida anda correndo.
“Volante” meu filho querido, cordão umbilical que se desgruda
de mim e se enterra no solo fértil de algum lugar do mundo.
“Você precisa cortar o cordão umbilical” me dizia mestre
Ronaldo Aureliano ainda quando morávamos em Viçosa.
“Você precisa dar a cara pra vida bater” me dizia o poeta
viçosense no banco da praça.
Estrear é dar a cara pra bater, mas bate com cuidado, meu
amigo! Por que a vida às vezes fere, espanca!
Estávamos lá diante daquela plateia amistosa de veteranos e
calouros do curso de Teatro Licenciatura da UFAL, havia também amigxs e pessoas
alcançadas pela divulgação. O espaço cênico foi um corredor do Espaço Cultural
da universidade, lugar melhor e aconchegante para esse momento não haveria.
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Fotografia de Nivaldo Vasconcelos - Estúdio Atroá |
Passamos as últimas semanas entendendo o espaço,
experienciando dentro da sala fechada, do pátio e outros. Era preciso entender
onde iríamos encontrar o público pela primeira vez. Não poderia ser numa sala
fechada, mas em outro momento poderá e por que não? Volante é o que se move e não
tem residência fixa, sendo assim, todo lugar será um palco.
Estrear num dia 19 de março de são José/Xangô Aganjú foi uma
oportunidade de se sentir acolhido pelo olhar das pessoas presentes e entender
ao longo desses dias que passaram as questões mais gritantes na peça. Pois é!
Estreia não deixa tudo lindo, pelo menos para nós que fazemos, porque é o
momento de avaliarmos o que realmente funcionou das coisas trabalhadas na sala
de ensaio. Isso não quer dizer que as coisas devem ser drasticamente
modificadas. Na estreia identificamos fragilidades e potencialidades que muitas
vezes podem até passar despercebidas aos olhos do público. Confesso que isso me
faz refletir sobre o processo, sobre os ensaios e sobre cada público, pois
afinal cada pessoa recebe de uma forma diferente as coisas e o que toca alguém
pode não tocar outra pessoa. Somos múltiplos, somos diferentes e nossa história
particular reflete muito na hora em que apreciamos e vivenciamos uma experiência
teatral.
É esse momento também uma oportunidade de pensar o futuro do
espetáculo e os palcos que ele poderá percorrer. É tempo de encontrar o ritmo,
a respiração, o olhar, treinar o olhar e o ouvido e de avaliar principalmente a
sustentabilidade do espetáculo e a do artista, enquanto ser que deseja viver- se sustentar-
do que mais lhe faz feliz.
Estreamos!
Estamos prontos para caminhar e o caminho se faz caminhando.
Aí está o nosso filho, tal qual como educamos e descobrimos na sala de ensaio. Estou feliz pelo caminho percorrido. Pela oportunidade que me dei de por a mão
no volante e fazer as coisas acontecerem. A gente tem que se permitir!
Que venha muito teatro em 2015! Esse é o meu desejo!
Longa vida a “Volante”!
Evoé!
Bruno Alves