31 dezembro 2015

Adeus, 2015!

Sim!
A gente vai se encontrar de novo no ano novo que chega.
E vamos falar das coisas boas e das tristes também.
Vamos olhar nos olhos mais uma vez como se fosse a primeira vez e por um instante infinito estaremos salvo de qualquer medo ou desespero.
A gente vai se encontrar em qualquer esquina ou praça dessa vida e se abraçar como se fossemos amigos de infância e amores de outras vidas.
E nos perdoaremos juntos. E nos amaremos juntos. 
Vamos nos atirar para o alto de olhos fechados, porque estamos aprendendo a voar.
Já é novo esse ano! Já é nova essa nossa vida.
Eu sei que vamos estar perto sempre em qualquer lembrança boa guardada e vivida na memória do tempo.
Foi bom te viver, 2015. Chega com carinho, 2016!


Abaixo o link da nossa Revista Digital criada pelo Estúdio Atroá. Reveja os caminhos volantes:
http://www.youblisher.com/p/1099816-As-Fotos-de-Volante/




Fotografia de Nivaldo Vasconcelos

25 dezembro 2015

Dezembro na Aldeia

Nos dias 18, 19 e 20 de dezembro aconteceu o nosso terceiro encontro de imersão na Aldeia Wassu Cocal na cidade de Joaquim Gomes – AL.
O projeto “AmeriAfroContos Volantes Chamam pra Roda” chega a uma fase muito importante para o processo de partilha de histórias e construção das rodas de contação.




Chegamos na aldeia na manhã da sexta-feira e fomos direcionados para a casa de dona Rosineide e seu Gunga. Preparamos o material da oficina e seguimos para a Comunidade da Pedrinha. Por lá iniciamos a oficina no horário da tarde com um público renovado. Jovens da comunidade estavam lá para participar da oficina que partilha de técnicas teatrais para ajudar na desenvoltura na hora da contação de histórias.

Cleci faz alongamento corporal

Rayane Wise conta história

Tamires Rodrigues faz preparação vocal

A oficina fluiu de uma maneira proveitosa. Xs jovens desenvolveram os jogos de uma maneira muito dinâmica. Fizemos um jogo que aqui vou chamar de “Reflexo de Emoções” na qual uma pessoa ia a frente e com o corpo e a voz transmitia uma emoção, os outros teriam que aos poucos irem transferindo aquela emoção visualizada para o seu corpo. Nós que fazemos a equipe do projeto iniciávamos o jogo e em seguida convidávamos os participantes a tomarem a frente. Isso aconteceu de forma espontânea e víamos em seus movimentos os reflexos de suas vivências. O corpo conta histórias.

"Reflexo de Emoções"


Outro momento que me chamou bastante atenção ao longo da oficina foi a roda de conversa na qual contávamos a história e significado dos nossos nomes. A escolha do nosso nome tem uma história por trás e reflete muito ao longo da nossa vida. Tínhamos ao longo da oficina a presença de uma das lideranças da comunidade o senhor Tapejara (Senhor do Caminho) que nos ouvia e vez ou outra anotava o significado de alguns nomes. Gostou do nome de nossa companheira Cleci que vem do Tupi e significa “mãe do pranto”.

Cleci significa "mãe do pranto"

A oficina com o publico de jovens rendeu bastante. Nos nossos próximos encontros começamos a construir as rodas de contação de histórias que serão realizadas dentro da comunidade.
Durante a noite da sexta e manhã/noite do sábado tiramos para conversar com as pessoas da Aldeia. Ouvíamos suas histórias e a ideia é que no próximo encontro possamos resignificar essas histórias com uma simbologia que fortaleça a vivência e o pertencimento das histórias que constroem aquele lugar. Muitas histórias foram ouvidas e muitas delas nos deram deixas para criarmos outras histórias para serem partilhadas na roda.

Pajé Benicio - Histórias vivas

O professor Toni Edson nos preparou durante a semana que antecedeu o encontro. Realizamos em conjunto todos os jogos que iríamos realizar na oficina e nos deu histórias indígenas para fortalecer nosso repertório e nos prepararmos para contarmos todos juntos na roda.
Sábado pela tarde realizamos a oficina na Comunidade da Jereba. O público alvo dessa vez foram as professoras duas escolas que existem na aldeia, falei professoras, porque por questões de agenda os professores não puderam comparecer. As professoras solicitaram a dona Rosineide a oferta da oficina.

Professoras da Aldeia Wassu Cocal


Uma experiência diferente com um olhar voltando para a contação dentro da sala de aula. A ideia da oficina foi oferecer ferramentas para as aulas e também criar uma roda de contação com as professoras.
Elas foram muito generosas e entregues nos jogos feitos. Tínhamos numa roda um público que tinha experiência com a sala de aula e que de certa forma já conta histórias para seus estudantes. Foi um aprendizado muito importante para nós, pois elas vivenciam uma educação diferenciada voltada para a cultura.
No final da oficina as professoras se reuniram e realizaram uma Roda de Toré. Fomos convidados a participar e entendíamos na prática todo o envolvimento daquelas mulheres na formação de seus filhxs.
Nessa tarde acontecia na escola uma reforma feita pelos membros da comunidade. Por lá ainda não existe biblioteca. Uma professora nos dizia que faz tempo que esperam uma resposta do governo estadual e que por enquanto iam improvisando lugares para oferecer um espaço de leitura e compartilhamento de histórias.

Voltamos no domingo trazendo na mala muito aprendizado e histórias. 

NOTA: O projeto “AMERIAFROCONTOS VOLANTES CHAMAM PRA RODA: A ORALIDADE DE QUEM DOMINA PELA VONTADE DE APRENDER DE QUEM RESPEITA” foi aprovado pelo Programa de Iniciação Artística - PROINART da UFAL e tem a coordenação do Professor Toni Edson.

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24 dezembro 2015

"Volante" em Taquarana - AL

O ano está acabando e a última apresentação do espetáculo “Volante” aconteceu na cidade de Taquarana que fica a aproximadamente 120km de Maceió. 
Foi a última apresentação do ano. Somando a 19° vez que o espetáculo percorre seu caminho e a segunda vez que saio de Maceió para encontrar as pessoas ( a primeira foi para a Aldeia Wassu Cocal na cidade de Joaquim Gomes - AL).
Estava acontecendo na cidade a Semana de Arte da Escola Estadual Santos Ferraz, organizada pelo diretor da escola e também ator Igor Rozza.
Fiquei bastante feliz com o convite de Igor, pois essa Semana de Arte acontece anualmente na escola e sempre quis conhecer de perto esse trabalho que ele realiza. 
Na Semana de Arte xs estudantes envolvem a comunidade nos resultados de suas pesquisas e produções artísticas que vivenciam dentro da sala de aula.
Cheguei a cidade pela manhã e assisti a apresentação dxs estudantes do 1° ano do ensino médio. Traziam uma versão performática da peça infantil “A Fada que Tinha Ideias”. Agora a peça já não era infantil, pois trazia questões da própria idade daquelxs que atuavam. Eram atuadores. Eu via naquele pátio o protagonismo em cena e os aplausos no final eram um agradecimento pelo conhecimento compartilhado.

Estudantes em cena

Às 11h realizei uma conversa - "palestra" sobre “Teatro na Contemporaneidade Alagoana” para um público de quinze estudantes pré-inscritos (a semana possui uma variedade de palestras e trocas  oferecendo vagas para os interessados). Partilhamos naquela sala as mudanças no teatro ao longo da história, as mudanças do texto, da ausência dele, das novas formas de dramaturgia, dos diferentes processos de criação, dentre outras questões e por fim fui relacionando com a apresentação que acabávamos de assistir, trazendo também nome de grupos e artistas de Alagoas que representam muito bem as mudanças do teatro nas últimas décadas.
Eram afiadxs xs estudantes. Traziam questões que só quem despertou a curiosidade era capaz de trazer. Para mim não foi surpresa, pois as aulas de Igor são de uma dinâmica capaz de mover a escola e toda sua comunidade, não é a toa que a Semana de Arte existe e resiste.

"Teatro na Contemporaneidade Alagoana" 


Diálogos

Na tarde a programação teve inicio com a apresentação do espetáculo “Sonho” da Cia Insanos – Camboio de Doido da própria cidade. Igor Rozza e Raquel Vieira traziam para a cena elementos do “Teatro do Absurdo”, da estética de rua, poesia e muito humor.

Cia Insanos apresenta "Sonho" 

“Volante” apresentou-se em seguida no mesmo pátio das ações. Público pronto e atento para a experiência teatral. Era um público que costuma apreciar teatro e fazer também. Igor nos dias que antecederam a apresentação preparou seus estudantes, fez uma mediação teatral.
Foi uma apresentação especial por muitos motivos. Essa fecha o ano de 2015 e marca a segunda saída de Volante de Maceió.
Foi importante para o meu aprendizado ter aqueles olhos atentos e envolvidos nas cenas.
Em 2016 “Volante” volta a circular pela cidade de Maceió através do Prêmio Eris Maximiano da Fundação Municipal de Cultura de Maceió. Vem por aí uma versão que foi se consolidando ao longo das 19 apresentações. Em 2016 a experiência será resultado de todos esses encontros e certamente encontrará novos caminhos volantes.

Evoé!


Bruno Alves

(As fotos da apresentação de "Volante" postarei em breve)

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15 dezembro 2015

De volta à aldeia - "Ameriafrocontos Volantes"



    Nos dias 28, 29 e 30 de novembro vivenciamos o nosso segundo momento na Aldeia Wassu-Cocal em Joaquim Gomes – AL.
 Voltar é reencontrar... Voltar é se encontrar de novo.
  Chegamos à Aldeia na manhã do sábado. Fomos direto a Comunidade da Pedrinha. Por lá encontramos um final de semana movimentado. Estava rolando simultaneamente o curso Indígena Digital” com a coordenação de Coré e Rubens Lopes.  Foram oferecidos por eles cursos de fotografia, edição e gravação dos filmes dos próprios participantes e o mais legal de todo projeto é que o equipamento ficará na comunidade para que eles possam continuar registrando e difundindo suas histórias.


   E por falar em histórias... Nós estávamos lá também para contar e ouvir histórias. O objetivo do projeto “AmeriAfroContos Volantes Chamam pra Roda: A oralidade de quem domina pela vontade de aprender de quem respeita” é justamente contar histórias, oferecer técnicas teatrais para que as histórias que lá existem continuem e se propaguem por todos os cantos, porque a nossa história precisa ser contada e deve ser contada por nós.
  O nome do nosso projeto é extenso, mas a gente não abriu mão dele ao longo da escrita do projeto para apresentar a universidade, pois queríamos deixar já no titulo exposto que nós que estamos entre as quatro paredes da universidade estávamos querendo aprender, aprender ouvindo, aprender vendo e se reencontrar nesse processo com o que é nosso e que nos foi tirado pelas mídias e pela própria escola durante muito tempo.
   Encontrar as histórias que constroem a nossa identidade alagoana/brasileira é uma possibilidade de vivenciar o pertencimento e entender de alguma maneira como chegamos aqui. Vale ressaltar que a oralidade é uma marca na história das comunidades indígenas, a contação de histórias sempre esteve presente, pois as histórias são passadas de geração em geração através desse contato direto e afetivo.
   Na noite do sábado aconteceu um encontro com os lideres da aldeia e toda a comunidade. Nessa noite Rubens e Coré iriam apresentar a proposta da oficina para a comunidade e exibir alguns filmes produzidos por outras comunidades indígenas no Brasil. 

Indigena Digital

   O terreiro estava cheio. Uma tela foi feita na parede de uma casa e todos nós sentamos para ver e ouvir os oficineiros e a comunidade. Foi um momento rico de aprendizado. Estavam lá Cacique Jeová, o Pajé e tantas pessoas que mantém aquela aldeia viva e resistente. Eu vi em cada palavra e em cada corpo os traços de luta, resistência e principalmente a certeza de saber quem são e não abrir mão disso.
   Posso dizer que um dia na minha vida eu estive rodeado de guerreiros, de heróis de verdade e quando falo guerreiros e heróis eu falo de pessoas que enfrentam com garra todas as atrocidades cometidas por políticos e coronéis que por aqui ainda existem. É gente de luta. Aquela terra um dia jorrou sangue para que aquelas pessoas pudessem estar ali naquele terreiro começando a aprender a usar os equipamentos audiovisuais para registrar as suas histórias e utilizar novas formas de comunicação.
   Terminamos a noite com uma roda de Toré e como numa ligação intima com o universo eu senti naquela noite as estrelas descerem para perto do chão. Estávamos todos conectados numa mesma roda, nós e os que já partiram e lutaram até o fim para que esse momento pudesse existir. 
   Uma mulher me viu do lado de fora da roda no inicio e me pegou pelo braço num acalanto que me trouxe de volta para a vida. Eu estava rodeado de guerreiros de lanças que dançavam o seu pertencimento a vida e assim eu me sentia protegido de tudo, de todo medo e desencontro com o passado. Era noite de encontro e eu não imaginava que poderia ser tão doce e impactante estar naquela roda. Aquela mulher me puxava pra dentro e me trazia de volta.
   No dia seguinte fomos a Comunidade da Jereba para a segunda etapa da oficina. O professor Toni Edson apresentou seu espetáculo “Afrocontos, Afrocantos” e nos ligou num universo de histórias que formam a nossa identidade.




"Afrocontos, Afrocantos"

Toni Edson apresenta "Afrocontos, Afrocantos"





  Realizamos a oficina nas duas comunidades, porém avaliamos com dona Rosineide que precisariamos direcionar o publico para adolescentes e adultos, pois o intuito é contribuir com o empoderamento desse espaço de afirmação e resistência e nesse momento precisariamos desse grupo que agora já começava a contar suas histórias com o audiovisual.
   Na manhã de segunda-feira fomos a Escola Indígena José Maximo de Oliveira. Fizemos uma roda de contação de histórias com os membros/bolsistas do projeto. Foi um momento importante de se viver, pois aquelas crianças e professores nos recebiam com muita atenção e generosidade ao nos oferecerem a escuta e a entrega sincera de olhares. Acertamos com a direção da escola uma oficina direcionada aos professores no nosso próximo encontro, para assim, oferecer mais uma ferramenta que possa contribuir com suas aulas.

Contação de Histórias

Rayane Wise contando histórias

Wesley Felipe contando histórias

   A cada encontro na aldeia eu volto mais próximo de mim. O professor Toni me falou que um amigo falou para ele que um dia ele contou histórias para mudar o mundo, mas que hoje conta histórias para não se perder de si. O projeto me faz sentir isso, que contamos para entender quem somos, para entender quem fomos um dia, para entender o que roubaram de nós e assim nunca mais permitir que a gente se perca da nossa essência.

  Assim como o Indígena Digital, o “Ameriafrocontos” é mais uma ferramenta de propagação de histórias, de luta e resgate pelo pertencimento. Estávamos lá com nossas ferramentas para aprender e partilhar numa única roda.
Gratidão!
Abraços,
Bruno Alves

Registros:


Banho de Rio



Caminhos

Oficina na comunidade Jereba

Estudantes da Escola Indigena José Máximo de Oliveira



07 dezembro 2015

Prêmio Eris Maximiano - Espetáculo Volante

 É com muita alegria que compartilho com vocês a aprovação do espetáculo "Volante" no Prêmio Eris Maximiano da Fundação Municipal de Cultura de Maceió.
 Vamos circular de praça em praça, de canto a canto dessa cidade em 2016!
EVOÉ!




Foto: Nivaldo Vasconcelos (Estúdio Atroá)

27 novembro 2015

Leituras Volantes 02: "Itinerário Novos Ciclos"


 Um dia desses no mês de agosto enviei uma mensagem a Alex Apolônio convidando para uma parceria com o Coletivo Volante. Estava começando a pensar numa proposta para leitura de textos que venho escrevendo no Clube de Dramaturgia e de textos de amigos também. Começaria, então, as “Leituras Volantes”.


 Leituras Volantes é uma busca por espaços alternativos da cidade em que se possam realizar leituras dramatizadas de autores e artistas locais.
 As leituras serão realizadas por pessoas que queiram experienciar a leitura do texto dramático em público, ampliando o espaço de experiência para quem não fez ou faz teatro e possibilidando um lugar de cena onde todos(as) possas ser atuadores(as).
 Nasce da necessidade do Coletivo Volante de investigar as dramaturgias contemporâneas e suas possibilidades de criação e representação.
 Os textos são autorais e vão se reconstruindo através das leituras dxs atuadorxs  envolvidos e do publico presente.
 O “Itinerário Novos Ciclos” tem um projeto aprovado pelo Programa de Iniciação Artística da UFAL, no qual realizam apresentações teatrais dentro dos vagões de trem aqui em Maceió. Acompanhei um dia dessa jornada e isso me deixou bastante feliz e instigado por ver espaços como aquele sendo ocupados por teatro. Vale ressaltar que o texto apresentado dentro do vagão tinha um cunho político muito forte e num jogo que me lembrou Augusto Boal, elxs faziam a plateia decidir pelo final da cena. O projeto nasceu para aquele espaço e o ocupava de uma forma muito importante, porque naquele trem iam de volta para suas casas muitos trabalhadores.
 Convidei Alex para o desafio de ver um texto que escrevi sendo lido pelo grupo. Podia ser no vagão, podia ser no lugar que escolhessem. Alex pediu que fosse um texto ainda não lido em “Texto Ex Machina” e assim fizemos.
 O tempo foi passando e o grupo dedicou dias com muito carinho para a leitura do texto e construção da leitura dramatizada numa praça. O material textual, como chama a dramaturga Adélia Nicolete, estava sendo investigado pelo grupo e transferido para seus corpos.
 Ontem, 27 de novembro, Alex me convida para a leitura na Praça Guimarães Passos, no Bairro do Poço em Maceió. Deparo-me com um processo muito interessante cheio de cuidados. Havia caracterização nos atuadores e no espaço. Estavam lá para a leitura: Alex Apolonio, Gustavo Viana, Juliana Krisam e Romário Steven.
 Quando a leitura iniciou vi que haviam criado uma música para cortejo e convite ao público presente naquele lugar. O titulo do texto que inicialmente era “A Ronda” foi chamado pelo grupo de “A Ronda Policial”.
 A leitura me fez ver um texto se transformando numa imensa possibilidade de interpretações. Nesse texto eu não dou nome aos personagens, não uso rubrica e escolho uma forma narrativa para contar a história. Alex me dizia que isso provocou o grupo a encontrar uma possibilidade de leitura. 
 Na peça os personagens assistem a um programa policial para saber os saldos de mortes do último final de semana. Em alguns momentos eles narram o que estão vendo e em outros vão entrando na intimidade do repórter que é responsável por informar sobre os crimes do lugar. Tem momentos que a gente não sabe se quem fala é o narrador, o repórter, ou o pensamento do repórter, o pensamento dos acusados... Tudo vai se misturando e acabando num chá de fim de tarde.
 As saídas encontradas pelo grupo me surpreenderam. Eu conseguia enxergar o drama que existia em vermos os narradores se transformando em pensamentos ou falas dos outros personagens.
 Gustavo Viana me perguntava ao final como eu havia pensado uma possível montagem. Essa pergunta eu não respondi, porque acho importante a liberdade que se pode dar para a criação. Aquele texto quando escrevi era um “material textual”, mas quando foi encontrando forma no corpo, voz e expressão dos atores e atriz já não era mais meu, era delxs, porque traziam as suas inúmeras leituras.
 Alex me perguntou se eu continuaria a escrever o texto e mostrou-se interessado em continuar a leitura. Eu lhe respondi que continuaria com as coisas que elxs me trouxeram, pois aquela resposta era importante para que eu pudesse entender o texto e o seu lugar naquele espaço.
 Confesso que achei bastante interessante a estrutura de teatro de rua que a leitura foi ganhando, pois quando o texto foi escrito eu não havia determinado um espaço especifico.
 “Leituras Volantes” tem me proporcionado ter uma resposta mais de perto dos textos que venho escrevendo. É que quando escrevo no Clube de Dramaturgia não imagino como será o encontro desse texto com o ator/atriz/publico e ter a oportunidade de ouvi-lo ajuda na escrita e na busca por uma melhora. 
 Eis uma ansiedade desse que aqui escreve: os textos que vão sendo engavetados causam uma certa aflição em mim, pois chega um momento que preciso do retorno e do olhar de outra pessoa para encontrar outras possibilidades para continuar o texto. 
 Itinerário Novos Ciclos me trouxe o seu olhar e sua leitura carinhosa e atenciosa. Eu tenho muito a agradecer a elxs!

Abraços,
Bruno 

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