Era momento do primeiro encontro presencial de toda a equipe.
Conversávamos e planejávamos coisas por um grupo no facebook,
mas agora era hora de se ver e colocar todas as questões e expectativas na
roda.
Primeiro era preciso escolher um local para ensaio. Sugeri a
possibilidade de ser no Complexo Cultural do Teatro Deodoro, porque é um espaço
que a maioria de nós nunca usou para construir uma montagem. Foi enviada uma solicitação
a Diretoria de Teatros de Alagoas – DITEAL que nos apoiou e liberou o espaço
para os ensaios.
Chegou o dia.
Dentro de mim havia muita expectativa, muito medo,
insegurança, mas também muita vontade de estar junto. Eu estava tão ansioso que
tive dificuldades para pegar no sono na noite anterior.
No primeiro encontro eu fiquei responsável pela realização
dos jogos e exercícios, mas a proposta era que ao longo dos encontros cada
pessoa pudesse trazer e ser responsável por exercícios e jogos que dialogassem
com a proposta.
Estávamos juntos.
Conversei e lembro de ter dito três coisas para que a gente
pudesse começar essa montagem. Que trabalhássemos o desapego, a apropriação e a
generosidade. A gente sempre fala sobre isso, mas era preciso usar de
generosidade para com o outro. Eu estava ali com um material textual disponível
para ser desapegado, jogado fora, resignificado...
A apropriação e o pertencimento são coisas muito importantes,
porque não pode ser a voz de uma pessoa, mas a nossa voz coletiva cantando e
gritando junto. A proposta é que esse pertencimento seja tanto que possamos
identificar a presença de todos nós na construção final. Tem que ter da gente,
tem que ser a gente, tem que ser a nossa voz, a nossa identidade construindo
junto aquilo que queremos apresentar ao público.
Deu medo no primeiro encontro, porque a primeira coisa que
vinha na minha cabeça era “Qual será a técnica? ”. A pergunta não se respondeu em
minha cabeça, mas naquele momento não era preciso.
Vivenciamos exercícios que fui experienciando ao longo da
caminhada de buscas em teatro. Jogos de concentração, interação com o outro e
de buscas por narrativas. Queria que escutássemos o outro. Que tentássemos nos
aproximar mais de seu universo particular, pois uma parte do coletivo se
encontrava pela primeira vez ali.
Na parte final do encontro fizemos uma leitura do material
textual. Uma chuva de ideias começou a surgir e cada pessoa envolvida começava
a identificar onde sua experiência de vida e arte poderia entrar para
contribuir na construção.
Tínhamos naquela roda pessoas com experiência em audiovisual,
coco de roda, máscaras, palhaçaria, Brecht, sociologia, música, contação de
histórias, trabalho energético de ator e atriz... Era uma roda cheia de vida e
força. Cheia de técnica e identidade. Precisaríamos usar isso ao nosso favor.
Saí aliviado desse encontro, porque a apropriação começava a
nascer em cada um. Via em seus corpos e expressões a presença sendo construída
na história. Estávamos juntos buscando essa generosidade de vivenciar o outro e
suas experiências.
A partir daí cada um começaria a buscar exercícios e
possibilidades de dialogar com a temática. Os próximos encontros seriam
divididos em exercícios sugeridos por cada membro. Não entraríamos no material
textual, porque o mais importante era essa construção de um corpo só entre nós,
um corpo plural e diverso de experiências.
Era momento da roda se abrir para cada um construir o ritmo.
Continua...
Bruno Alves
Ator e Dramaturgo do Coletivo Volante de Teatro