29 dezembro 2016

Carta de Agradecimento



2016 foi um ano difícil para o nosso país.
Hoje queremos agradecer a todas as pessoas e instituições que apoiaram para que a gente pudesse levar o nosso teatro adiante.
Agradecemos ao Estúdio Atroá que foi nosso parceiro no vídeo sobre volante, na produção do material gráfico de divulgação e no projeto “texto Ex Machina”. Por falar em texto ex machina tivemos a honra de ter uma leitura do querido ator Homero Cavalcante.
O SESC Alagoas foi nosso grande apoiador. Nos provocaram e nos impulsionaram a pensar o nosso trabalho e leva-lo a outros públicos. Participamos dos Projetos Palco Giratório, SESC das Artes, Aldeia SESC Arapiraca e do Circuito SESC de Artes onde percorremos várias cidades:  Limoeiro de Anadia, Teotônio Vilela, Feliz Deserto, Lagoa da Canoa e Piaçabuçu. Foi um dos momentos mais enriquecedores que vivenciamos.
Este ano teve muita coisa: Chá da Tarde da Cia do Chapéu, a Oficina o Ator e a máscara do barracão teatro em Campinas, o Colóquio Literatura e Utopia, o lançamento dos Livros de Dirceu Lindoso, o I Cidade de Deus Vive, a Mesa da Mostra de Intervenção e Performance. Ser parceiros de outros grupos no II Festival de Teatro de Alagoas, o projeto Ocupe a Praça com a realização do coletivo Pop Fuzz e da FMAC e a Ocupação do IPHAN com a Cultura Contra o Golpe.
2016 nos trouxe o inicio do nosso novo processo de montagem: “Dona Incelença da Rua”
Mas também foi um ano de espera e decepção. Ainda esperamos a Fundação Municipal de Cultura de Maceió –  a FMAC, que não pagou o prêmio do Edital das Artes de 2015. Que interrompeu a nossa chegada em 10 comunidades de Maceió.
Ganhamos novos amigos, experiência, aprendizado.
Foram 30 apresentações.
Vistos por mais de 3 mil pessoas!
9 cidades visitadas.
Mais de 30 mil visualizações em nosso blog.
2016 nos trouxe a melhor coisa que poderia nos acontecer.
Trouxe você que nos assistiu, acompanhou pela página, curtiu, compartilhou, torceu e nos ajudou com sua vibração e energia a chegar até aqui.
Em 2017 queremos fazer mais teatro e encontrar você mais vezes.
Nosso novo ano vai começar. Sejamos muito felizes!

Coletivo volante

Assista a carta clicando aqui:

24 dezembro 2016

CRÍTICA: Espetáculo "Volante" - Por Wanderlândia Melo

O Coletivo Volante
Espetáculo Volante-AL, Projeto SESC Palco Giratório 2016- Maceió- AL.
Por Wanderlândia de Melo Barbosa.

Resumo: O texto pretende entender o espetáculo Volante do Coletivo Volante sediado em Maceió Alagoas, que durante o Projeto Palco Giratório- SESC-AL foi convidado a representar o estado nessa programação de 2016. O texto também aborda uma síntese da trajetória do trabalho Volante. 

“De uma coisa eu tenho certeza, a gente nasce sabendo que 
vai morrer uma vez na vida, mas todo dia não.”
Volante, Coletivo Volante. 


Foto de Nivaldo Vasconcelos

Em 2014, em Maceió, produzindo o I Encontro de Palhaços de Maceió do Grupo Clowns de Quinta do qual atualmente faço parte, assisti um ensaio aberto do Volante espetáculo do Coletivo Volante com o ator Bruno Alves que também estava na programação, ensaio que o próprio Bruno Alves afirmava que era o primeiro trabalho do coletivo e também seu primeiro solo e que o espetáculo e ele estavam em processo de descobrir e experimentar possibilidades. 
Procurando o significado da palavra volante no Aurélio, descubro que: 1.V. voador. 2. Flutuante; ondulante. 3. Que pode mudar facilmente. 4. Transitório; efêmero. O Aurélio me traduz o que quero relembrar do ensaio aberto de 2014, para apresentação dois anos depois, no Projeto Palco Giratório 2016 edição Maceió- AL, entre esse dois anos pude assistir duas vezes esse espetáculo, onde percebo que o que foi alterado foi o cenário e consequentemente a encenação, o que antes possuía uma carroça enorme, na apresentação do SESC já não mais utilizada da forma que era. 
Para descobrir possibilidades para um espetáculo acredito que seja necessário praticar, e que se tenha oportunidade de experimentar em diversos espaços e/ou diversos públicos. E acompanhando o Coletivo com a ferramenta da página virtual e em conversa com o ator Bruno Alves, realmente foram diversos os espaços ocupados: Pátio, praças, quadras, beco e rua. 
Mas para edição do projeto, o SESC, dá um novo desafio a ser assumido pelo coletivo, ocupar um palco no modelo de Palco Italiano. E pela segunda vez o ator Bruno Alves declarou mais uma primeira vez, ter apresentado o espetáculo Volante em palco Italiano. 
Esse espetáculo tem três artistas, dois músicos e um ator, que juntos contam a história de um viajante, talvez um lunático, talvez um louco mas pra mim um poeta simples que nos vem pra contar suas história que verdade ou não foram vividas e isso já basta. 
A dramaturgia também de autoria de Bruno Alves, que relata que foi construída nas salas de ensaios e em ensaios fora de sala, onde os músicos com músicas, que não necessariamente está no espetáculo, foi um dos motes para a criação da mesma. 
Nesse percurso o personagem Severino, que não é Severino da rua de baixo, nem Severino de dona Maria só Severino, nos leva para lugares que hora está no passado, referente á história narrada, e hora nos traz para o presente, lugar do dialogo com a plateia. 
Caminhamos junto com Severino até o topo de uma montanha em busca do sol, para uma cidade de injustos consumidores de plástico; nadamos e provamos que precisamos repensar essa violenta maneira de querer resolver as coisas, com uma pecheira na cintura; e conhecemos Caetana que nem convidada foi, mas queria a desistência de quem acorda todos os dias na esperança de encontrar com a felicidade, que pode acontecer caso esteja em um baú em baixo de nós, mas como o enigma de encontrar a felicidade nunca é fácil então vamos evitando o encontro com Caetana. 
Entre o presente de Severino com o encontro com público e o passado historia narrada por ele é que encontramos em comum a música que antes mesmo de se tornar algo que complementar as histórias narradas, ocupando a pausa que há no silencio, ela é dialogo. O Severino enxergar os músicos e junto são cumplices, entre músicas e histórias narradas, chegam de povos em povos convencendo que aquilo tudo, aquelas prosas todas são verdades. 



A caixa cênica proporciona vários artifícios estéticos que por inúmeras questões que possa eu deduzir em relação á iluminação e o técnico, talvez o espetáculo (ou o iluminador, ou a produção do teatro), não tenham sido feliz em nos deixa sem ver o rosto de Severino, em momentos que o texto não era o suficiente, a música não era suficiente para falar o que o rosto de Severino nos falavam em meia luz. 
Existe um artista plástico chamado Bispo do Rosário, onde a estética do espetáculo me fez lembrar as obras dele, as cores. O figurino que me traz outras possibilidades de ser, a calça que ao avesso possibilita que outras linhas e costuras nos traga uma estética de não cotidiano. A personificação do mar, de Caetana que em cores opacas me leva aos lugares e a fantasias de forma confortante e bela. 
Espetáculo que aconteceu no dia 18 de abril no Teatro Jofre Soares, Maceió- AL ás 20:00, conquistando mais aliados para uma plateia de produções Alagoanas, onde de crianças a adultos, frequentastes ou não de casa de teatro, acredito que foi plantado uma semente para apreciações de produções locais, ou não locais. 


22 dezembro 2016

"Dona Incelença" Semana 03

Chegamos a nossa terceira semana de encontros.
É bom estar junto e ir descobrindo novos caminhos.
O registro com as fotografias contou com a participação especial de Eloah Vasconcelos e Wanderlândia Melo.
Gratidão a Alexandre Holanda pelo espaço no Complexo Cultural do Teatro Deodoro.
Sigamos! Evoé!
#DonaIncelençadaRua
















17 dezembro 2016

"Dona Incelença" Semana 02

Chegamos a segunda semana.

Registro de Rayane Wise

Vamos dialogando durante a semana por um grupo do facebook. Por lá vamos postando fotos, imagens, vídeos e outras referências que vão surgindo em nossas mentes.




Tudo vai alimentando o diálogo e possibilitando inspirações para se trazer no encontro presencial.
Nesse último encontro repetimos jogos de interação de grupo e pude perceber como avançamos. A repetição nos ajuda a ir além e encontrar o não percebido anteriormente.
Nathaly Pereira trouxe jogos que trabalham o corpo em coro. Tínhamos a missão de ser um único corpo no espaço. Desafiador.
Rayane Wise trouxe jogos que trabalham o Gestus Social de Bertolt Brecht. Trouxe fragmentos do material textual. Brincamos com isso. Foi interessante ver essa construção.
Vimos nascer e vemos a cada encontro um outro texto que não o da palavra escrita, mas o texto vindo das nossas memórias, do nosso corpo, das nossas vidas...
Na roda de partilha falamos o que nos inquieta e as necessidades nos próximos encontros.
Cada um traz um pouco de si dentro dessa construção.
Vamos repetir os jogos desse encontro, vamos buscar outros diálogos também.

Mais registros:








09 dezembro 2016

"Dona Incelença" Semana 01

Tudo começou e eu já não lembro o tempo...
Era dia de encerramento do Festival de Teatro Alagoano – FESTAL e essa semana mexeu muito com a gente. Era bonito ver o outro em cena e cuidando da cena fora dela.



Conversava com Gessyca Geysa sobre teatro nas últimas semanas. Conversava com Wanderlândia Melo durante nosso estágio na SEMED. Conversava com Rayane Wise durante muito tempo do nosso dia. Vinham vontades de fazer algumas histórias, vinham e iam silenciosamente ficando na gaveta. Conversava com Nivaldo e Fernanda Vasconcelos, ouviam, gostavam das ideias, mas elas pareciam ir ficando verde. As histórias têm um tempo certo para nascer. Não adianta apressar, elas surgem maduras quando é a hora.

Depois do Festal foi madrugada para não dormir e começar a rascunhar no caderno ideias, provocações e ir dando forma a um material textual.
Aos poucos fui falando com amigos e amigas e a proposta mexia com a gente. É sobre o nosso tempo e espaço que queremos falar.
Hoje nos encontramos e mesmo diante de tanta gente querida digo a vocês: estava com medo, nervoso e inseguro. Não haveria uma técnica para passar, haveria pedaços recolhidos em experiências ao longo desses anos nos encontros teatrais da vida.
Registro de Wanderlândia Melo

A proposta da montagem é a seguinte:
Partimos do material textual, trabalhamos o nosso corpo, a nossa mente e colocamos pra fora a nossa experiência que vai desconstruindo esse material e dando uma nova forma a ele. Uma forma coletiva onde cada pessoa envolvida se encontre dentro dele. Aqui a experiência de cada um é muito importante, não necessariamente a experiência de vida com teatro, mas a experiência de inquietação e de afetamento com a relação cotidiana dentro da cidade.

Registro de Wanderlândia Melo

Vamos nos colocando e costurando esse texto (corpo, voz, palavra, gesto, movimento, cor, figurino, cenografia, música, dentre outros).
A cada encontro cada participante vai trazendo uma proposta de exercício que percebe que dialoga com o processo e assim vamos construindo e dando vida ao espetáculo.
Hoje eu propus exercícios e jogos. Trazia reflexo das últimas oficinas que participei com grupos vindos de vários estados. É nessas horas que a gente vai entendo para que serve cada coisa que a gente participa, porém, há muito por entender, praticar e descobrir dentro de nós.
o termo "Material textual" aprendi com a
pesquisa de Adélia Nicolete


Fizemos leitura do material textual, conversamos sobre ele, sobre os objetivos do espetáculo e o que nos faz querer montá-lo.
Saí energizado com o encontro. Tínhamos uma sintonia boa que pode nos levar a muitos lugares.
Agora é hora de deixar fluir e irmos seguindo juntos de mãos dadas.

Bruno Alves

"Dona Incelença da Rua" NOVO ESPETÁCULO

O ano está acabando, mas para nós um tempo novo já se anuncia.
Queremos compartilhar com vocês essa fase que se revela dentro do coletivo.
Passados três anos de nossas buscas, eis que uma nova inquietação nos afeta e nos aproxima.
2017 vai ser para nós o ano de apresentarmos a vocês “Dona Incelênça da Rua” um espetáculo feito pelo encontro de artistas de coletivos diversos e de experiências que se tocam e se misturam.
Hoje foi nosso primeiro encontro. Dia de recomeçar, desconstruir e seguir junto.
Aqui toda experiência é bem vinda.
Falaremos na caminhada do que se trata, do que move esse encontro na construção desse espetáculo.
A gente quer tá junto. A gente quer chegar perto.

Sigamos!


01 dezembro 2016

Festal: Um festival de teatro que nos representa

Tudo começou quando a Cia Teatro da Meia Noite realizou uma campanha virtual para arrecadação de fundos para o seu segundo festival em comemoração ao 15 anos de teatro em nosso estado.
Passados os meses e com poucos retornos da campanha a Cia decidiu convocar os outros grupos do estado para somar forças e realizar a festa em comemoração aos seus quinze anos.
Era o dia 26 de agosto e estávamos juntos numa sala do Espaço Cultural para sonharmos juntos a realização dessa segunda edição. A Cia Teatro da Meia Noite transformava o seu aniversário em um momento de celebrar o teatro de nosso estado. Todos seriamos realizadores, era um sonho coletivo.

Em agosto de 2016


Muita gente junta, muitos grupos, muitas formas de ver o mundo, muitas formas de teatro, mas todos juntos pelo teatro em nosso estado. Não foi fácil esse primeiro encontro, na realidade era o segundo, mas para mim era a primeira vez. Juntos tentávamos nos entender no meio desse sonho coletivo que começava a nascer. As opiniões eram diferentes, é claro. Mas o desejo de realizar o festival crescia igualmente em cada coração.
A partir daí foram divididas as comissões, criados os grupos nas redes sociais para ampliar o diálogo e ir conciliando o tempo de cada um.
Vendo agora que passou relembro as discussões fervorosas, as defesas pela mudança da nomenclatura do festival, os desentendimentos pessoais.... Toda indiferença foi ficando pelo caminho, porque algo maior ganhava força.
Foto Alexandra Souza

Muita gente foi chegando, outras ficavam de fora vendo, observando, querendo ver no que ia dar e também torcendo muito.
Dar dor de cabeça aprender a conviver, mas passa e a gente segue junto.

Foto de Nyrium

Na semana do dia 21 a 26 de novembro começamos o festival. Parece que o clima de confraternizar e estar junto já estava presente em nosso peito. Estávamos lá para somar forças, para torcer pelo outro, para ver a coisa toda dando certo e era comum o envolvimento na montagem, na desmontagem, no apoio da bilheteria, do camarim... Era tudo nosso, feito por nós.

Foto Alexandra Souza

Revisitar a semana do II Festival de Teatro de Alagoas – FESTAL é relembrar momentos de muito aprendizado com os amigos de teatro, com o público e com o espaço em que estamos inseridos.
Nossos saldos são positivos, positivos sempre, porque até o erro é uma tentativa de aprendizado, porque até as falhas quando houveram foram as tentativas do coração de amar a tudo de alguma forma, talvez da nossa.
No sábado dia 26, já estávamos em clima de saudade. Era comum nas conversas ouvirmos entre nós comentários que ressaltavam o quanto foi bom estar ali. Lembro do discurso de Julien na abertura e sua vontade e força de chegar nesses 15 anos de Cia do Teatro da Meia Noite resistindo, reexistindo, buscando formas de não deixar esse amor morrer. Lembro do Julien sentado na Praça Deodoro vendendo conselhos e me dando muito mais que um conselho, mas uma prova que estamos esse amor é mais forte e nos move.
Julien e Juan. Foto de Nyrium

Foi inspirador! Foi renovador!
Dois dias depois do festival recebemos a notícia da morte do diretor e ator Glauber Teixeira nas águas do Rio São Francisco. Foi difícil saber da perda, porque esse ano nos levou muita gente de teatro.
Foto de Nyrium

O Festal é esse lugar de celebrar as existências, as vidas dedicadas ao teatro. E aqui eu agradeço ao Glauber por todo sorriso e afeto partilhado a cada encontro, porque ele permanece em nós como cada um que se eternizou em nosso grande palco das Alagoas.
Próximo ano a Cia do Chapéu comemora seus quinze anos e será a companhia celebrada na III edição do Festal, porque o festival vem para promover essa celebração desses encontros dentro da nossa cidade.


Agradeço, enquanto Coletivo Volante, a oportunidade de estar junto, de aprender, de compartilhar, de ser ouvido e incentivado.
Essa semana a gente não vai esquecer, porque ela reverberará em nossas vidas, em nossa produção e em nosso convívio.
Viva o Festal!

Veja mais fotos na página do festival clicando AQUI!



22 novembro 2016

Crítica: “Eu vejo a lua” – Um ator invisível em Volante

Por Gessyca Santos

Atrevo-me a começar de trás para frente, porque fiquei pelo avesso quando o assisti. E é dessa sensação que irei falar sem preocupação em expressar neste início de texto alguns aspectos informativos a respeito do espetáculo teatral Volante. Antes disso, escolho o vazio onde tudo acontece, onde a amplitude do espaço e tempo não nos deixa reduzidos ao real, mas nos engrandece nas irrealidades que nos fazem reais.

Foto de Nivaldo Vasconcelos

O começo era o fim e o fim era o começo. Aquela imagem sedimentou em mim. Era um rapaz de braços abertos, apoiados numa estaca de madeira que estava deitada sobre suas costas e enfeitada de fitas vermelhas. Ele vestia uma roupa com cor de tempo, desgastada e um pouco rasgada devido às suas aventuras de andarilho. Nele também existia um cheiro de mar e o vi transitar de água a passarinho num estalar de dedos. Pensei: Para realizar tal manobra, só com ajuda divina! Talvez por isso ele estivesse fazendo uma reza que tinha velocidade de furacão e temperatura de vulcão.
Com esse fragmento de uma existência efêmera, introduzo esta crítica que aborda o espetáculo Volante interpretado pelo ator Bruno Alves do Coletivo Volante, Maceió – AL, apresentado no dia 09 de março de 2016, às 20h, no Teatro Jofre Soares, integrando a programação da 19ª edição do Palco Giratório na etapa estadual do Sesc- AL. Direciono o meu olhar à força do imaginário em “Volante”, a qual tratarei também como caminho para a construção do que seria um “ator invisível”.
Com uma dramaturgia rica em detalhes, lugares e seres diversos, o espetáculo Volante aposta na simplicidade para nos fazer enxergar o invisível. Com o palco quase “vazio”, pude ver monstros, pássaros, mar, carroça, centauro, barco, janela... E tantas outras imagens. Pareciam mais concretas do que, talvez fossem, se estivessem reduzidas a elementos de cena que tentassem traduzi-las ou representá-las em sua complexidade. Pontuarei três signos que se metamorfoseiam durante o espetáculo, para desenvolver esta crítica, considerando o último pouco explorado em suas possibilidades de uso: composição cenográfica/adereço Caetana, tecido azul e bastão com fitas.
O que se vê ao centro do palco é o que considero uma composição cenográfica, composta por um espelho em formato oval, rodeado de flores, apoiado na parte superior de um apoio em vertical (bastão) coberto por um tecido fino, nos dando a sensação de tratar-se de uma figura feminina. Adiante, essa mesma estrutura é utilizada como um adereço, onde o ator utiliza-o a seu serviço, construindo uma espécie de mascaramento, uma vez que veste o espelho sobre sua face e se camufla entre os tecidos, nos trazendo a imagem da morte Caetana. Aqui, o ator some, não por estar camuflado, mas por se fazer invisível ao assumir outra qualidade de energia, movimento e voz, a meu ver, provocadas pelo mascaramento.
Uma rede de tecidos ligados um ao outro através de nós, de cor azul/ciano, vestia o corpo do ator para nos trazer a imagem do mar. Chamo atenção para um fator: Não era a representação do mar distanciada do corpo do ator, não se tratava de uma moldura ou um cenário fixo. O ator vestia o mar e aquele elemento utilizado já não era mais uma rede de tecidos, na relação com um corpo que se colocava em prontidão, comprometido com o imaginário, fazendo-se água, não poderíamos ver outra coisa se não o mar. O ator desaparece mais uma vez.
Do início ao fim do espetáculo, o ator utilizou um bastão onde apoiou os braços, logo se construiu a imagem do personagem em espantalho, não havia sequer um passarinho sobre os seus ombros, no entanto vi uma revoada! “O olho é a máscara e a máscara é o corpo” diz Lecoq, em Volante o olhar e o corpo do ator receberam esses pássaros em seus ombros e os viram voar, um corpo inteiro comunica por inteiro, então, neste caso estar utilizando o bastão/vara complementou a ação física, construindo a imagem do espantalho, mas a força estava na presença física do ator. Embora este elemento bastão, tenha sido bem utilizado em alguns momentos, como o citado, percebi ao longo do espetáculo que tal elemento se tornou um apoio, onde ora construía imagens, ora se tornava algo fixo, sem razão de estar ou limitado em suas possibilidades, talvez ele precisasse de mais descanso, deixando o corpo do ator fluir em diálogo com as particularidades de cada situação cênica. Considerar este ponto é abrir mão da imagem fixa de Severino com os braços presos ao bastão/vara.

Finalizo com um fragmento de Yoshi Oida. Em seu livro “O Ator Invisível” ele diz: “No teatro kabuqui, há um gesto que indica “olhar para a lua”, quando o ator aponta o dedo indicador para o céu. Certa vez, um ator, que era muito talentoso, interpretou tal gesto com graça e elegância. O público pensou: “oh, ele fez um belo movimento!” apreciaram [...] a exibição de seu virtuosismo técnico. Um outro ator fez o mesmo gesto; [...] o público [...] simplesmente viu a lua. Eu prefiro este tipo de ator: [...] O ator capaz de se tornar invisível.”

20 novembro 2016

16 novembro 2016

I Cidade de Deus - Vive!

Você já viu alguma rua com uma piscina no meio cheia de criança dentro dela em pleno feriado?
Eu vi. Foi assim que fomos recebidos na Comunidade Cidade de Deus lá no bairro do Trapiche aqui em Maceió.

Era dia de festa, não somente por conta de ser feriado, mas porque aconteceria o primeiro Cidade de Deus – Vive!
Cleci Nascimento, Nego Love e Denis Angola foram os organizadores dessa ação na rua. Recebi o convite de Cleci e fiquei muito feliz, porque credito nessas ações que reinventam a vida e o ritmo do lugar de onde vivemos.
Encontrei muita gente querida nesse dia, entre essas estava Jairon Santos que registrou em fotos esse momento, Ana Carla Moraes e Luzia Rodrigues.
A rua começava a receber todo mundo. De um lado algumas pessoas tomando uma cervejinha, do outro eu via crianças brincando dentro e fora da piscina. Os B-boys e B-girls chegavam com sua dança e força. Era outra vida.
Foi forrado o tapete/linóleo para começar a festa. O som já estava ligado e os B-boys começavam a improvisar desafios de rima. Era bonito. Em seguida começava o desafio de break. Que resistência no corpo. Que dança bonita essa que resiste também na vida.

A “Confraria: Nós, poetas!” deu continuidade com o seu recital. Em seguida veio Daniel Maia cantando e animando a galera.


Apresentei “Volante” e foi uma experiência única em minha vida.


Carla apresentou sua performance em dança. Trazendo o corpo negro para a cena e sendo um ato político de luta e resistência. Sua dança é dança de vida e luta.
As batalhas de break continuaram. Tive que voltar para casa. Voltei com o coração aceso e uma chama de esperança de ver cada vez mais essa ação crescer e tomar conta do bairro. Está em boas mãos.
Aqui eu agradeço a oportunidade de partilhar, aprender e vivenciar os espaços dessa cidade que vivemos, percebendo que se pode dar uma nova cara, a cara que é nossa. Voces são um exemplo, porque agora começam as ações mensais, mas durante todo tempo estão nas praças, nas ruas, fazendo de todo lugar um espaço para se movimentar e assumir o nosso verdadeiro ritmo.

Que vocês sigam nessa jornada. Que mais bairros sejam ocupados pelas ações culturais. Isso é bonito. Contem com o Coletivo Volante!
Parabéns! Parabéns!

Minha gratidão!

14 novembro 2016

I CDD VIVE!

O espetáculo "Volante" fará uma participação no I CCD-Vive!
Será um momento de partilhas e encontros.
Juntos por uma comunidade sempre viva!



“Caminhos Pros Pés Volante”



Há de ficar mais forte a vida a cada novo encontro.

Difícil não se deixar tocar pelo olhar do outro e as historias que ele carrega.

Esse Circuito SESC de Artes foi assim… Jornada de descobertas e reinvenções. 



Não vou esquecer Limoeiro de Anadia, a pimenta caseira no restaurante na beira da estrada, as cores da casa, o sol forte, o vento forte, as senhoras e os senhores nas portas, a praça com aquele anfiteatro, o palco gigante, os caminhos de Jackson…

Não vou esquecer Lagoa da Canoa, ares de música, chão de silêncios e sons, terra que nos deu Hermeto Pascoal, casa de cultura cheia de obras dos artistas locais, a pracinha da igreja, o bêbado cantando e agitando a galera bem no meio da peça, nós pela tarde procurando a lagoa e a canoa dentro da cidade, os burrinhos do lado da lagoa, lagoa bonita, não vimos a canoa, tinha trilho de trem e uma estação abandonada. Lagoa da canoa foi terra que Kaw me trouxe doce de leite embrulhado em papel de presente.

Vou guardar no peito Teotônio Vilela, suas ruas cheias de ciclistas, suas pessoas que nos saúdam com bom dia e sorriso no rosto.

Vou ser grato a Feliz Deserto, não irei esquecê-lo. Uma terra que já traz a felicidade no nome com seu rio quieto no meio da cidade, com sua juventude linda e cheia de arte e sua pracinha do padre Ciço cheia de gente pelos lados...

Vou sonhar mais uma vez com o nascer e o pôr do sol em Piaçabuçu e seu rio que abençoa e que corre resistente por esse país. Vou lembrar dos artistas locais com a força que eles trazem, com a esperança que eles transbordam.



Vou querer encontrar de novo e sempre quando puder Jurandir, Arnauld Kaw, Jefferson, Jonathan e Glauco, porque a música e a dança que eles trazem me cura, me deixa forte nessa vida.

Vou ser feliz cada vez que lembrar das obras de Jackson Lima por ver em sua arte e em sua vida uma poesia de amor para o mundo.

Eu vou ter mais fé na vida e na caminhada, eu me prometo que vou, porque essa jornada me fez entender que nesse mundo a gente ainda encontra calor no abraço do outro e que seguir junto é bem melhor, nos deixa mais forte…

Vou ser grato todos os dias a Magnun Angelo por sua competência, sensibilidade e cuidado. Por tudo que ele tem nos oportunizado aprender ao longo desse ano. Magnun esse ano foi mais bonito para nós e você é parte dessa boniteza.

Ser grato a Magnun é também ser grato ao SESC AL, a Fabrício Barros, A Adriana e a toda equipe da CARC, porque são comprometidos e competentes no que se propõem a fazer.

Vou ser grato a Rayane Wise a cada novo dia por todo aprendizado que vamos tendo juntos nessa jornada.

Vou ser grato a Nivaldo Vasconcelos pelo cuidado e carinho com que fez o material grafico para divulgação e o vídeo “Sobre Volante”.

Vou ser grato a Felipe de Alencar e Elton Nascimento por essa oportunidade de aprender com eles e partilhar continuamente inquietações e descobertas. Que a música de vocês seja uma ponte que indique caminhos para a felicidade.

Vou ser grato aos rapazes da luz e do som(Serginho, Lucivaldo, Jânio e Manu) por serem tão entregues em seu trabalho.

É muita gratidão no peito e não pense que é exagero não. Quem sabe um pouco dessa caminhada eve imaginar o quanto é importante essa oportunidade e como cada passo que a gente vai dando vai abrindo o caminhado.

Meu coração está muito cheio de amor, porque foi isso que recebi em cada canto. Esse circuito renova as forças, mostra aonde a gente está, aonde a gente pode ir e o quanto isso nos modifica.

Aprendi. Aprendi muito!

Deixo um abraço, um sorriso e beijo de gratidão.

Até a próxima!

Bruno Alves

13 novembro 2016

Gratidão, Piaçabuçu!

Piaçabuçu é uma cidade acesa!
Dormimos em Coruripe no dia 11 e chegamos na manhã do dia 12 em Piaçabuçu.
Ficamos em uma pousada na beirada do rio São Francisco.



Demos uma volta pela cidade para conhecer seu dia a dia, seu ritmo, sua gente.
Almoçamos e relato aqui esse fato, porque não é todo dia que temos a oportunidade de ter ao fundo na hora do almoço esse rio.
O rio tem uma energia que nos encanta. Impossível não lembrar o ocorrido com ator Domingos Montagner ao olhar para aquelas águas.
Às 14h saí com Jackson Lima e Jurandir Bozo para a rádio Porto Belo FM. Por lá Dalva de Castro nos esperava para uma entrevista com o locutor da rádio comunitária. Bozo se emocionou ao falar do rio que tem em sua vida desde a infância. Foi emocionante ver a sua alegria pelas recordações que o rio lhe traz e a tristeza pelos maus-tratos que ele vê acontecendo a cada dia.
Saímos para o Povoado Mandim às 18h para passagem de som e aquecimentos. Por lá a ONG “Olha o Chico!” fazia a produção local. A “Olha o Chico” organiza mensalmente um sarau onde abre espaço para as pessoas da cidade se expressarem com as linguagens artísticas. Trabalho lindo e de resistência de Dalva e Jasiel.
Dalva falava da escolha do espaço por ser mais distanciado do centro da cidade e pela necessidade de descentralizar as ações culturais para as comunidades mais distantes.
Foi um espaço diferente o dessa apresentação, mas foi para mim uma das experiências mais incríveis do circuito.
As pessoas foram chegando. Algumas ainda vendo de longe e se chegando aos pouquinhos. Ao iniciar o espetáculo “Volante” por volta das 19h:30min o espaço estava cheio com pessoas dentro e ao redor.



A peça começou e a troca de energia foi tomando conta do lugar. Que generosos os piaçabuçuenses. Foi para mim uma noite de muita emoção.
Ao final Dalva convidou uma morada para receber a Árvore da Felicidade e ficar responsável para plantar na pracinha que por lá existe.
Ao lado do local escolhido para palco estava a exposição “Caminhos” de Jackson Lima que tocava as pessoas que viam suas esculturas. Jackson tem uma obra forte e poderosa. Nos envolve, nos toca, mexe com a gente. Sou um admirador da obra e de sua pessoa cheia de simplicidade e generosidade. Conversamos ao longo do dia. Jackson me ensinou muitas coisas com a sua fé e crença. Perguntei sobre como haviam descoberto sua obra, pois o mesmo mora em um sítio na cidade de Limoeiro de Anadia. Jackson me ensinou que as coisas quando estão para acontecer nada impede que esse rio da vida siga fluindo.


Rayane Wise e Jackson Lima entre uma de suas esculturas.

Jurandir Bozo e sua banda animou o salão. Jurandir canta a terra, as águas, o vento, as estrelas, o mar... Viver com sua banda esses dias me ensinou muita coisa.

"Pros Pés" Jurandir Bozo e os Gêmeos do Coco Jonathan e Jefferson

Quando acabou a programação do Circuito SESC de Artes deu-se início as apresentações dos moradores. As pessoas iam cantar, ler poemas e a grande surpresa para mim foi conhecer o grupo de teatro que vem nascendo na cidade: Os “Nobres Vagabundos”. Quanta força, quanta vontade eu via naquele grupo. Traziam poemas de Bertolt Brecht e corpos acesos e vivos. Que troca maravilhosa esse momento. Encontrar parte de nossa família foi fortalecedor. Como é importante a existência do grupo para a cidade.
"Nobres Vagabundos", "Coletivo Volante de Teatro" e "Pros Pés"

Terminamos a noite na ribeira cantando, vendo a lua sobre as águas, rindo, contando piadas, falando sobre signos, quiromancia, bebendo cachaça e agradecendo aquele encontro.
Piaçabuçu é terra acesa. Água de calmaria. A ONG “Olha o Chico” é um presente para a cidade, pois agita, impulsiona a transformação social através da arte.
A gratidão por esse encontro é imensa. Saímos muito felizes com todo o circuito, pois foi momento rico em aprendizado.
Quero voltar de novo a Piaçabuçu.

Gratidão!