22 julho 2018

Confluências SESC - AL: Primeiro Encontro das Águas




 Estamos entre os/as vinte artistas alagoanos(as) selecionados/as para participar do projeto “Confluências” do SESC.

Confluentes



Saiba mais sobre o "Confluências" clicando AQUI


 O “Confluências” é o encontro de 20 artistas de variadas linguagens para a construção de um projeto coletivo que surja do encontro e necessidade de todas as pessoas envolvidas.

O projeto é uma realização do Departamento de Artes Visuais do SESC, coordenado aqui em Alagoas por Kelcy Ferreira, e será divido esse ano em três encontros de imersão em pontos distintos do estado. Os encontros acontecem de forma bimestral e com duração de um final de semana cada um deles.

No entanto, as reverberações de cada uma dessas etapas vão se destrinchando em outros encontros ao longo do mês.

Tivemos nos dias 20, 21 e 22 de julho o primeiro encontro de “Confluências” e aconteceu na cidade de Marechal Deodoro.

Saímos de Maceió no final da tarde da sexta-feira em direção a Marechal Deodoro. Estávamos atravessando uma ponte que de um lado nos mostrava o mar e do outro a Lagoa Mundaú. A separação dessas águas e os pontos de encontro entre elas eram as primeiras confluências que se revelavam ali diante de nossos olhos.

Fomos direto ao Bairro de Taperaguá, uma comunidade histórica da cidade, com uma das igrejas mais antigas e também um dos moradores mais antigos da cidade bem ali ao lado de sua filha prestes a comemorar os seus 106 anos.

A Sociedade de Música Manoel Alves de Farias, uma orquestra que atravessa gerações, estava lá no meio daquela praça, se preparando para nos receber.



Kelcy Ferreira, coordenadora do projeto, nos alertava no início da jornada com algo como: “Prestem atenção na banda. Vejam como eles se organizam coletivamente”.

A banda ali diante da igreja, cadeiras organizadas naquele espaço para nos receber, as pessoas da comunidade que se aproximavam para ouvir junto conosco, o sol se pondo, o friozinho do início da noite...

Treinava meu olhar para perceber como se organizavam, como se comunicavam no silêncio e como estavam sempre a escuta um do outro e a serviço de um objetivo maior: a música.

Ao final sabíamos a história da banda, perguntávamos como aqueles jovens da comunidade faziam para entrarem ali, porque existiam somente três mulheres no meio daquela multidão de homens. O maestro colocava a história da banda, sua ligação com as bandas militares e seus objetivos. Muitas coisas foram provocadas nesse encontro. Muitas leituras se revelaram quando os “naipes” se encontraram.

Voltamos para a pousada onde ficaríamos o resto dos dias. A noite foi fluindo com encontros, reencontros e formas de afetos que foram se revelando.


Na manhã de sábado foi momento de falarmos o que nos moveu a estar ali, como víamos aquele momento e como foi vivenciar o encontro com a banda no Bairro de Taperaguá.



O encontro com a banda foi impactante para maior parte do grupo. A presença de apenas três mulheres na banda, as expectativas geradas de servir ao serviço militar nos jovens que ali tocavam, a homogeneidade e a disciplina oferecida causaram muitos questionamentos durante a conversa. Questões históricas de repressão, opressão também foram levadas em consideração, visto que até mesmo aquela antiga igreja foi construída como fruto de muita exploração, historicamente.

Naquela manhã já se revelavam em nossos discursos questões de gênero, representatividade, LGBTQI, raça, classe social, dentre outras, provocadas durante essa conversa e encontro com a banda.

Tivemos a presença de Kelcy, Nadja Rocha, Carol (do Departamento Nacional do SESC) e Mara Pereira como provocadoras e mediadoras de todos esses diálogos.

Mara ressaltava a importância de todas essas provocações e principalmente que no contexto atual em que vivemos com todas as discussões que são levantadas diariamente na nossa sociedade, essas leituras e inquietações iriam surgir, pois é impossível não aparecer quando todas essas questões são levantadas e principalmente quando as pessoas que ali estavam certamente estão envolvidas na desconstrução de muitos conceitos e preconceitos.

Tínhamos ao longo desse primeiro dia muitas provocações e principalmente questões como:

“O que vamos fazer?”

“Para quem vamos fazer?”

“Que contexto é esse que estamos vivendo e o que queremos produzir?”

“O que vamos querer afirmar e recusar?”

Seguimos orientados/as por Mara Pereira e Nadja Rocha para uma construção em quatro grupos de cinco pessoas. Tínhamos um pouco mais que uma hora para pensar juntos as seguintes questões:

1)      O que a gente identifica no cenário artístico alagoano?

2)      O que poderia ser potencializado ou não existir?

3)      O que falta?

As discussões em grupos renderam. Finalizamos o segundo dia com um passeio na praia.



Desaceleramos. 

Respiramos. 

Um outro dia logo chegaria e muitas questões talvez poderiam estar mais assentadas, ou não...

No domingo, nosso último dia, tínhamos algumas horas para apresentar nossas construções e entendermos as questões que foram levantadas pelos grupos.

Cada grupo apresentou seu tecido, sua construção, sua costura e em seguida começamos a conversar sobre as coisas que apareciam em comum naqueles trabalhos e a potencialidade de tudo aquilo que se revelava.



Questões de território, de relações com não artistas, de construção de espaços de diálogos artísticos e de gestão compartilhada e participativa se sobressaíram na roda de conversa.



Muitas questões explodiam. Muitas vontades. Muita coisa para se entender e processar. A ansiedade, o desejo de ver acontecer e a possibilidade que nos foi dada de construir o que quisermos agitou as nossas águas.



As coisas que ali se revelavam ou se mostravam urgentes, vieram conosco para casa. Para que pensássemos, refletíssemos e entendêssemos que lugar é esse que as águas estão nos levando.


Que perguntas temos para fazer ao estado em que vivemos?

O que nós queremos fazer?



Finalizamos o primeiro encontro com muitas questões para refletir e pensar ao longo da semana e dos meses que antecedem os nossos próximos encontros. Revelava-se ali um grande potencial de construção e principalmente de afetamentos. Estávamos ali, muitos de nós, juntas/os pela primeira vez. O desafio de pensarmos juntos um plano de ação artística dentro do nosso estado se revelou como um presente capaz de nos fortalecer e de reverbera grandes possibilidades dentro do espaço em que vivemos.

Temos diante de nós a possibilidade da construção de um projeto coletivo que diferente de tudo que vivenciamos é uma iniciativa que nascerá no formato e na maneira que desejarmos.

A água começou a correr.

Agora é seguir o fluxo,

escorrer,

atravessar os obstáculos,

infiltrar

e viver todas as confluências.

2 comentários:

  1. Parabéns pelo texto, Bruno! Ficou muito bem escrito e com olhar sensível ao que vivenciamos no nosso primeiro encontro. Estamos juntos, Camaradas Confluentes! Simbora! ABRASUS! #ELENÃO!

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