04 agosto 2015

Diálogos "Texto Ex Machina" 2º episódio por Nivaldo Vasconcelos

“Algumas brincadeiras e jogos nos arrastam, assim levemente, apressando com carícias curiosas os pés, nos guiando pra’beira do abismo... TEXTO EX MACHINA é este abismo, benditos os que me trouxeram aqui!
O exercício de criar para cinema se apresentou para mim como um laborioso quiproquó técnico: Grupos criativos, técnicos de som, luz, câmera, produção guerreira, busca por uma verossimilhança e naturalidade nas preparações de atores, regras a serem seguidas e que pareciam tão óbvias que às vezes me sentia um completo idiota em querer sugerir algo diferente, pós-produções milagrosas! Tudo muito honesto, tudo querendo ser cinema, se expressar da maneira que se acha correto e prazeroso, mas atrás da minha orelha, a pulga começou seu lento trabalho de alerta, essa seria a única forma de fazer cinema? Ser cinema? Experimentei essa forma de trabalhar em “A GENTE NÃO COMBINA COM ESSA SALA”, foram dois dias de filmagens intensas e cansativas, com uma equipe maravilhosa trabalhando pelo filme, mas também uma carga enorme de insegurança e estresse, muitos deles vindos de mim. Aquele filme foi catártico; uma das minhas maiores realizações pessoais, transformou o meu fazer, a partir dele a pulga cravou os dentes. Não precisava ser pela dor, exorcisei uma culpa cristã!
Meu modo de fazer mudou, fui buscando mais o mínimo, tentei encontrar ferramentas disponíveis, experimentei mais a minha linguagem independente do aparato técnico e fui flertando mais com a fotografia e montagem, ainda como um observador e essa forma de fazer reflete-se nos outros filmes seguintes. Aprendi que não devo tentar subverter a forma dos outros e sim a minha própria, é neste constante embate interno, que se dão meus processos criativos. Como realizar o que vejo, pré-sinto?


E aí chega TEXTO EX MACHINA, onde busco romper de vez com todas as impossibilidades de fazer, mas que me joga de cabeça diante das minhas impossibilidades. Não, o tremor na câmera não é sempre proposital, algum ou outro espasmo na montagem nem sempre é conceitual... Mas é o meu desenho!
O processo de fazer esta série/experimento vem sendo enriquecedor, o jogo de TEXTO EX MACHINA é fazer da câmera o expectador vivo da leitura, os olhos e ouvidos de fato, tudo é captado por ela, som e imagem (o microfone é o da própria câmera), obviamente em alguns momentos fico louco de vontade de incluir um microfone direcional pelo menos, mas isso seria trapaça! E o mais louco de tudo é que o texto é pouco conhecido pelos atores e não temos qualquer contato prévio, o encontro é ali, é agora. Vejo-me então diante de outra dificuldade técnica, a da direção. Cada ator demanda de uma necessidade, de um espaço específico para criar, sentir a coisa e existe o texto, que me evoca imagens e o grande vilão chamado tempo (o episódio II foi gravado em 5 horas), mas a ideia de unir a espontaneidade da ação sugerida pela linguagem do teatro em contraponto com o controle do plano e da luz que o cinema sugere é o grande mote das sequências de textos que serão lidos na série, e aí, a mágica começa a acontecer, o encontro criativo começa a promover seus resultados, os fios vão se tecendo e me levam para a montagem, outra técnica que não domino, mas a história está lá, a imagem já se formou - só preciso mostrá-la, e nada disso se completa sem a leitura do outro, faz parte do processo mostrar, dialogar com o público, ouvir o que se provocou, estimular que este público seja ativo e não mero expectador. 
E a transpiração vai trazendo resultado. 
Ainda é laborioso, ainda cheio de quiproquós técnicos, mas me soa mais possível.
Benditos os que me trouxeram aqui!”
Nivaldo Vasconcelos

Dia 13 de Agosto estreia o EPISÓDIO III de TEXTO EX MACHINA.
Assista o Teaser:
Os episódios de TEXTO EX MACHINA estarão quinzenalmente na Página do Coletivo Volante.

EPISÓDIO I
Primeiro episódio aqui:
EPISÓDIO II

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