08 agosto 2016

Sobre as coisas que eu não sei – Curso de Dramaturgia de Ator


   O SESC-AL ofereceu de 02 a 05 de agosto o curso de Dramaturgia de Ator/Atriz "Dançar Histórias - Entre Ações e Imagens do Corpo", com Thais D'Abronzo. O curso começou no SESC Poço e terminou na quadra da escola do SESC Jaraguá, o que em minha opinião foi um ganho enorme, espaço muito bacana.
  Quando vi o título fiquei bastante instigado em fazer parte do curso. Avisei a Rayane Wise pra gente se inscrever e tentar a seleção para o curso, pois seria importante para nossa “artesania”. Fomos selecionados. Algo me dizia que seria um daqueles momentos que vivo que mexem e modificam muita coisa dentro de mim. Foi.
   2016 tem sido um ano de muitos encontros em minha vida. O curso com Tiche Viana no começo do ano, a vivência na montagem da Cia do Chapéu ao longo desses meses e agora Thaís D’Abronzo.

kazuo ohno presente nos caminhos de thaís

   Foram cinco dias de bastante aprendizado e desorganização interna. Essa desorganização me fez constatar muitas coisas e outras eu ainda não entendo, mas sei que terei tempo para entender ou não.
   Thaís traz consigo a leveza e a força de quem vive a 25 anos pesquisando, descobrindo e reinventando suas possibilidades. Isso de cara me leva, me deixa próximo de seu fazer numa espécie de vontade contínua de querer chegar cada vez mais perto.
   Não foi fácil o curso (e quem disse que seria?). Tive vontade de chorar muitas das vezes e em outras eu até me perguntei “Mas é isso mesmo que eu quero?”. Mas calma! Não houve nenhuma tortura ao longo dos encontros, houve na realidade uma construção de artesania, palavra utilizada por Thaís para definir o trabalho de ator, um caminho de descoberta de si e do espaço e de tudo isso junto num único fluxo.

   Fluxo! 

  Fluxo... Palavra presente em todos esses dias e almejada e desejada e muitas das vezes por mim incompreendida.
O curso me aproximou de mim mesmo. Fez-me perceber meu corpo de uma maneira que eu já tinha esquecido e em muitos momentos de maneira que eu desconhecia.
   “Cada pessoa é um teatro” dizia Thaís alertando para esse processo de descoberta pessoal e entendimento da nossa presença no mundo.
   “Não se ilustre, seja verdadeiro com você” batia com força nessa tecla.
   Acabou o curso e fiquei num processo de silêncio e barulho interior. Estou até agora enquanto escrevo, aliás, demorei a escrever por que não conseguia organizar nesse texto o que estou sentindo e talvez eu realmente não esteja conseguindo.

   Estou desorganizado aqui dentro. 

   O primeiro e maior questionamento que me vem na cabeça é que eu preciso entender para onde vai esse conhecimento que vou encontrando pela caminhada. Não adianta fazer todo curso do mundo se isso não vai ser usado de alguma maneira, ou se não existe um direcionamento. Digo isso por que eu amo fazer oficinas, conhecer o processo dos outros, trocar, eu amo isso, mas tem uma hora que tem que dar uma pausa e se voltar pra uma coisa. Thais nos falava da necessidade do mergulho naquilo que nos interessa, Tiche falou, Toni Edson falou... Mas em que horas eu devo mergulhar? Será que já mergulhei? Eu não sei, eu não sei...
   Aliás, o melhor do curso para mim foi descobrir que estou em um lugar que eu realmente não sei das coisas. Quando Thaís direcionava para um exercício eu realmente não sabia fazer e alguns deles eu já tinha vivenciado nas oficinas da Tiche, do Toni, mas mesmo assim eu não sei, ainda não sei, eu não consigo, hoje eu ainda não consigo.
   Daí o pessoal falava da necessidade de um tempo maior para o curso, porém eu lembro que as coisas duram o tempo que tem que durar, o tempo necessário para provocar as mudanças ou não dentro da gente. Eu vejo que não adiantará para mim um mês de curso se eu não continuar a mergulhar nesse conteúdo que foi vivenciado. Foi muita coisa. Muita informação. Coisa pra desenvolver por uma vida toda. Que doido isso, né? Em cinco dias eu percebi que tenho um material para trabalhar a vida toda.

thaís nos apresentou ilka schönbein. é incrivel. 

   O fluxo do movimento, do corpo com o espaço, a concentração, a energia, os locais do corpo para direcionar a voz, a respiração... Peloamordedeus eu respirei pela primeira vez na vida sentindo o ar pelo corpo todo.
   Daí eu vejo o quanto tenho que aprender, o quanto falta a descobrir pra arriscar mais, pra ter um trabalho vivo e forte. É uma estrada longa, mas o caminho se faz caminhando, ou como dizia Gessyca Geysa nas aulas de Narrativas na Rua “Caminhe e o caminho se abrirá”.


   Por hora a gratidão é imensa a Thaís por ser tão generosa e respeitosa com sua arte. Foi maravilhoso vivenciar esses dias. Será inesquecível. Disso tenho certeza.

Bruno Alves

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