10 abril 2018

Profissão: Artista - Caderno B Gazeta de Alagoas

Precisamos conversar melhor sobre esse assunto.
Muito importante esse espaço do Caderno B do Jornal Gazeta de Alagoas, pois possibilita dar visibilidade a essa questão quem tem afligindo a nossa classe artística.


Não tive a oportunidade de falar devido ao tempo, mas como minha imagem está na publicação, e com minha autorização, eu me dou o direito de comentar.
Sou Bruno Alves, nasci em Viçosa, cidade do interior alagoano e por lá comecei a trilhar meu caminho com o teatro em 2004 no Grupo Teatral Riacho do Meio, dirigido pelo amado Mestre Ronaldo e Roberta Aureliano.
Venho do teatro amador. Teatro feito num interior com pouco mais de 26 mil habitantes.
O teatro amador foi a nossa casa, a nossa descoberta e ressignificação do espaço. Estávamos lá nas praças, escolas, becos, ruas e vielas, fazendo rir e chorar a população da minha terra.
Venho do teatro amador com muito respeito e eterna gratidão.
Em 2014 fundamos, Nivaldo Vasconcelos, Rayane Góes e eu, o Coletivo Volante de Teatro, um coletivo independente que atua na cidade de Maceió e que busca desde então a profissionalização, buscando os meios burocráticos, como CNPJ, por exemplo, que existem para poder garantir os direitos pelo ofício que executamos.
Considero-me hoje um profissional amador e com muito orgulho!
Se observarmos os últimos anos vamos perceber o sucateamento da nossa profissão. Primeiro eles tentam extinguir o Ministério da Cultura, começam campanhas de difamação e artistas viram vagabundos e pedófilos. Prendem grupos de teatro na rua, prendem performer em Brasília, querem lichar um performer nu no museu, retiram exposições, querem proibir exposições e agora jogar no lixo diplomas, certificados, DRT's e direitos. Tudo muito organizado para fazer calar a voz do artista, para dificultar seu trabalho e sua sustentabilidade.
A discussão aqui, nesse momento, é pelos direitos que foram garantidos nesses últimos 40 anos. Artista se torna uma profissão e tem garantias de direitos trabalhistas como todas as outras.
A discussão é também para garantir ao artista amador (que com toda sua luta tira risos e lagrimas da população de seu bairro periférico, de sua cidade do interior) possam ter garantias de direitos também, que possam se profissionalizar e viver de seus ofícios.
Todo ser humano tem o direito de se expressar artisticamente, isso é fato, isso é direito constitucional. Não é contra a liberdade de expressão artística de cada ser humano que estamos falando. Falamos sobre a garantia de direitos daqueles que vivem suas vidas dedicadas ao oficio de fazer arte. Desses que tiram o sustento de suas obras artísticas, que buscaram e buscam formação para cada dia mais se aperfeiçoar e dar o melhor ao seu público. Esses que se assumem artistas cotidianamente na padaria, na fila da loteria, dentro do ônibus lotado...
É pela manutenção do direito de ter garantias previdenciárias. Não é uma luta de amador X profissional. É uma luta para o amador poder se profissionalizar e ter direitos e o profissional continuar tendo direitos, ter mais direitos e garantias de sustentabilidade.
Vou comentar também sobre o SATED-AL, particularmente não nos representa, enquanto Coletivo Volante de Teatro. É uma instituição que não nos representa em nenhuma instância, porém, não sou contra a sua existência, sou a favor que ele possa se tornar de verdade um órgão que represente a nossa classe e os nossos direitos, mas por enquanto, por aqui, me parece mais um lugar burocrático que dificulta a ampliação de diálogos e direitos.
Pois bem!
Somos artistas, sim!
Não nos separemos dos amadores. Estamos todxs no mesmo palco. Não falemos em vão de nossos palhaços e palhaças, nem de brincadeira, respeitemos esses narizes suados vermelhos. Sim! Somos literalmente palhaços e palhaças e nos orgulhamos desse nosso ofício. Narizes esses que tive a honra de assistir na minha cidade do interior em circos de lona furada. E como eram profissionais! Circos maravilhosos que foram grandes escolas para muitos de nós. (E sem animais que são proibidos por lei desde 2001, graças as deusas!).
Nos unamos! Digamos não a retirada de direitos para que possamos garantir os nossos e os dos que estão por vir.
Pelo direito a DRT! Por direitos trabalhistas!
Por um sindicato que nos represente!
Por mais formação! Por mais direitos e espaços, sim!

Profissão: Artista!

Att.
Bruno Alves

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