29 abril 2015

"Encontro Giratório" Núcleo Atmosfera - NUA (MA)

   Ele não queria saber o nosso nome.
   Levei um susto ao ouvir isso.
  Não poderia ser verdade. Seria arrogância? Não poderia ser, porque  ele tem uma áurea cheia de luz e queria muito mais da gente.
   Era preciso não se dar um nome.


Foto retirada da página Artes Cênicas SESC AL


   Assisti a “Divino” no dia anterior a oficina “Corpo Emaranhado”(dias 28 e 29 de abril) do Núcleo Atmosfera – NUA, (MA). Fiquei encantado ao ouvir os tambores tão vigorosos das Caixeiras do Divino. Que tambor forte! Parecia um convite para deixar a alma sair.
   O NUA possui um trabalho que envolve muito a questão do ser espiritual e da ancestralidade.
   “Nossas mãos curam” ele falou e pediu que de olhos fechados dançássemos com as nossas mãos curando o nosso corpo.
   “O que for ruim tira do teu corpo e enterra na terra”, ele ensinou.
   Ele nos pedia para visualizar a terra enterrando nossos corpos e éramos a partir dali “larvas” vivenciando o solo e experienciando sair. Visualize, ele frisou. Era preciso ir além da imaginação, tinha que vê a coisa toda acontecendo.
   Ele pediu que fossemos saindo dessa terra, tocando o chão com as mãos e os pés e aos poucos despertando  até encontrar o homo sapiens do nosso corpo.
Caixeiras do Divino. Foto retirada da página Artes Cênicas SESC AL

   “Todas as danças que hoje existem nascem das danças ancestrais, da terra”(e aqui eu estou tentando reproduzir as falas que ele ia dançando em nossos ouvidos).
   Ela, sua companheira de cena e oficina, nos trouxe o boi do Maranhão e ensinou uns passos para a gente. Eu não sabia como me sair, parecia estranho, mas ao mesmo tempo parecia tão intimo da gente.
   “Descubram que dança surge no corpo de vocês a partir desse boi” ele encaminhou.
   Começava a surgir a nossa dança. O encontro com a terra, com o boi e com o som das caixeiras do divino fazia a gente ter uma experiência pessoal com a dança, como uma criança que volta ao ventre da mãe. Estávamos voltando para o que é nosso, porque não foi difícil encontrar entre as danças que surgiam linhas do nosso Guerreiro,Reisado, Coco de roda... Lembrei por muitos momentos do Mestre Bia e sua banda de Pífano pelas ruas de Viçosa, minha terra natal.

Foto retirada da página Artes Cênicas SESC AL

   Todos foram ao círculo e dançaram o que havia surgido a partir do boi. Eu que não sabia o nome ou a história da vida de algumas daquelas pessoas, começava a identificar através da força /leveza de seus movimentos um universo que seria só dela e que a dança permitia que acessássemos.
   Foi momento de se emaranhar. Num único espaço deveríamos continuar o nosso movimento, no meio do movimento dos outros. Estávamos misturados, emaranhados de terra, ar, fogo e água.
   Era momento de explorar mais essa experiência.
   No segundo dia as caixeiras do divino tocariam uma música única para cada dança que elas viam nascer no dia anterior. Começamos a criar o que ele chamou de “Tubo” e uma pessoa ia à frente, começava sua dança e os outros acompanhariam esse movimento, criando uma sintonia, um tubo de movimentos individuais que traziam uma nova dança coletiva.

Foto retirada da página Artes Cênicas SESC AL

   Finalizamos o momento da oficina.
   Em círculo, ele se apresentou, falou sobre sua história de vida e abriu a roda para que falássemos de nós. Sabíamos muito um do outro. Ele nos reconheceu através da dança e falou que o tempo todo estávamos revelando mais que o nome.
   Ele se chama Leônidas Portela, sua amiga é a bailarina Marina e as lindas e dóceis caixeiras do divino se chamam Roxa e Gracinha.
   O Núcleo Atmosfera foi ao fundo. Percorreu o fundo da terra e suas camadas mais distantes. Situou o nosso corpo nesse espaço e nos lembrou que somos todos um só nesse universo.
   Estávamos todos protegidos na atmosfera de uma dança de nós mesmos.

   Gratidão!

2 comentários:

  1. Uau Bruno...
    Lendo teu relato meu deu a maior vontade de ter estado lá. Deve ter sido um momento riquíssimo quanto aprofundamento de técnica, mas especialmente pro espírito... *_*

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  2. Louryne senti sua falta! Vamos as proximas! beijos

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