30 abril 2015

Solar (3º Encontro)

   
Registro e orientação de Karina May

   Hoje foi mais um dia que a experiência com o laboratório de meditação e criação do SOLAR:Laboratório de Meditação veio para casa comigo.
  Karina havia proposto trabalhar a personagem feminina que tenho dentro do espetáculo “Volante”.
Registro e orientação de Karina May

   Trouxe-me uma saia e indicou uma sequência coreográfica para que eu iniciasse a primeira parte da meditação do dia. Eu deveria repeti-la durante no máximo trinta minutos. É na repetição que o nosso corpo vai entendendo novos caminhos. Dançar com a saia foi uma experiência diferente. Nunca vesti saia para dançar, vontade não me faltou em algum momento de vesti-la até para ir na padaria, mas experienciar a saia dentro do contexto da meditação e da busca pela essência feminina foi uma viagem desconhecida por mim. Não que saia seja só para mulheres. Homens também vestem saia desde tempos passados, porém juntar a descoberta do tecido que se movia no meu corpo foi uma possibilidade de conhecer um universo tão próximo e ao mesmo tempo distante.
Registro e orientação de Karina May

   A saia tinha vida. Eu tinha um movimento para realizar e a saia era livre para dançar o que quisesse. Karina me falou que aos poucos fosse deixando o meu corpo responder ao chamado da saia e da minha história com dança.
   Foi impossível não sentir no corpo o como ele estranhou e ao mesmo tempo me reportou para lugares dentro e fora de mim.
   Enquanto eu dançava uma dança que saia a partir dos movimentos indicados por Karina, ela posicionava em minha frente os elementos que uso para compor a personagem. Visualizar aquela imagem na minha frente me permitiu ganhar um conforto, porque era um lugar que meu corpo acessava e amava estar. Entregou-me o buquê que compõe a cena e senti que meu corpo também respondia aos estímulos. Tê-lo em minha mão me fez perder o ritmo que havia se instalado, olhar a imagem na frente já me chamava para algum lugar que eu conhecia e ter parte dela em mãos me desestabilizou e me provocou a ter uma nova experiência com o objeto. Sentia-me errando em parte dos momentos da meditação, mas eu entendia ao longo do percurso que era um erro certeiro, era um corpo descobrindo possibilidades e novas dimensões.
Registro e orientação de Karina May

   No segundo momento da meditação. Nesse estava presente o amigo e ator Cícero Rosa que compartilhou comigo a vivência. Tínhamos que girar durante quinze minutos focalizando o olhar na palma da mão. Inquietante! A sala girava, a saia girava e meu corpo girava. Durante um momento eu sentia como se estivesse levitando e isso me causava uma sensação tão boa que me tirava um riso do rosto. Eu parecia ter perdido o controle de mim e ao mesmo tempo parecia integrado numa única vida com aquela saia e aquele lugar. Quando meu olhar escapava da palma da mão fui sentindo enjoo e já não resistindo fui ao encontro do chão onde iria entregar o corpo que eu tenho. Karina me orientou deitar de bruços e abrir as pernas para espalhar a energia e de maneira rápida a tontura que senti ao deitar de barriga para cima estava indo embora, juntando-se com a terra e absorvendo a energia que tinha surgido.
Registro e orientação de Karina May

   Finalizamos com quinze minutos no chão. Era preciso o silêncio e a interiorização daquele momento. Meu corpo relaxava, mas não dormia e nem me dava sono. Dava-me uma sensação de bem estar e energia que eu não saberia descrever.
Registro e orientação de Karina May

   Refletimos sobre o encontro e eu segui para a minha aula de "Narrativas da Rua" com o professor Tony Edson. Pensei que não iria suportar as três horas de aula, mas Tony vem trabalhando com os elementos da natureza sendo dissolvidos dentro do nosso corpo. Eu estava ativo, inteiro e me entreguei aos exercícios como não tinha sido na semana anterior, quando não tivemos encontro do SOLAR. Parecia uma continuidade. Uma preparação para a entrega. Desde que comecei o laboratório eu tenho aproveitado mais as aulas, porque o tempo que passamos meditando me conecta e me faz estar presente por inteiro nas situações.

Registro e orientação de Karina May

   “Tudo dança hospedado numa casa em mudança” dizia Paulo Leminski e isso seria uma definição para o encontro de hoje. Essa minha casa-corpo dança com o som que se instala ao redor, porque a mudança é encontro.

   SOLAR é um “guindaste de levantar ventos” e eu entendo a cada dia mais essa sua busca pela provocação das nossas vidas, dos nossos corpos e dos nossos sonhos.
   Gratidão por esses encontros!
   Gratidão!

Bruno Alves

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