02 fevereiro 2016

Oficina Barracão Teatro - Dia 2



Tiche nos invade.
Invasão anunciada, prometida, permitida e necessária.
O encontro começa com a sua serenidade transbordando aquela sala.
 Ela é serena, mas forte como um vulcão.
Não temos tempo a perder com mentiras. Quer de nós aquilo que podemos dar. Quer o de mais concreto, real e visível que podemos alcançar.
" não sei da história de vida de vocês, mas sei do que eu vejo e posso tocar". Isso a interessa nessa manhã. Isso a move a provocar em nós uma reflexão.
Aquecemos. Percebemos o nosso corpo no espaço.
"Não há senhor de escravos quando não existem escravos. Não há senhor que comande quando não existem os comandados", dizia e nem precisava explicar mais nada.
Nada nos aprisiona naquela sala. Nada limita o nosso eu que explode de medo.
Eu tremo. Tremo o corpo. Não consigo controlar a respiração. A perna treme. A língua treme querendo gritar. Ela se aproxima do meu ouvido e me pede para liberar a energia:
"Tremedeira é energia presa. Libere".
 As correntes começam a cair. Len-ta-men-te. O fluxo da respiração alcança o corpo todo. Não há corpo escravo da mente. Há corpo querendo ser livre.
OBJETIVA essa mulher!
Não quer devaneios, justificativas ou suposições. Quer o que há de mais concreto e visível que se mostra em nós. Aquilo que podemos ver, mostrar e que nada pode esconder.
Tiche vai direto ao ponto. Nos apresenta as mascaras neutras para que possamos usar e por incrível que pareça a máscara não nos esconde, mas nos mostra e liberta. 
Tiche põe máscaras em nosso rosto para revelar a nossa alma.
Sinto-me despido em muitos momentos. Eram fragilidades e falta de coragem expostas naquela lugar.
Eu não sei. Eu não consigo fazer isso, mas ela me avisou que esse momento chegaria, que eu erraria, porém isso era um passo para encontrar o acerto.
Presença de calma....
Ela quer saber de humanos. Gosta de gente e a máscara ajuda a revelar muito de nós.
Isso dá medo. Isso apavora! Se encontrar diante de todos mascarado revela a nossa condição humana.
" isso é falta de coragem. Termina as coisas, os movimentos...Sem medo de errar" ela me disse durante a minha demonstração.
Desconcertado mais um dia. Estou em busca de um concerto? Não! Busco uma sensação verdadeira, a mínima que seja, cheia de verdade e liberdade não provada antes.
Ela não tem medo.
Tudo poderia ser mais leve se eu me permitisse aceitar a vida em sua fragilidade e plenitude de falhas.
A gente sai da oficina e permanece no estado de silêncio  procurando deixar o corpo entender tudo que foi vivido. 
"Me deixa entrar!" Ela dizia pedindo pra não racionalizar o que poderia ser simples e leve.
Tiche tem me ensinado a errar.
 Errar sem medo, sem culpa. 
Errar com coragem e ousadia.
Saímos. 
Terminamos a tarde (Rayane, Gessyca, Michele, Pedro e eu) numa mesa tomando cerveja e chorando, rindo... Deixando o corpo falar sem medo.

Bruno

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