01 fevereiro 2016

Oficina no Barracão Teatro - Dia 1


Tiche nos olha e nos vê.
Estava hoje no primeiro dia de oficina diante de uma mulher que carrega nos olhos a leveza da experiência. Isso: a leveza.
Tiche não nos aprisiona. Vai aos poucos nos mostrando o caminho da liberdade e deixa em nossas mãos a possibilidade de experiência-lá ou não.
"Não finja que sente. Seja sincero com você" nos dizia durante os primeiros exercícios.
Tiche tem mais de trinta anos pesquisando a máscara teatral, mas nos dizia que estava ali para aprender.
"Um mergulho dentro de si mesmo" é o que nos propôs nessas primeiras horas. Fiquei desconcertado. Já não sabia o que me levava estar ali, mas estava. Estava querendo estar e feliz estando.
Falava da necessidade de levarmos as coisas com leveza e de não ter medo de dizer bobagens, porque isso nos é permitido a vida toda nesse processo humano de aprendizagem.
 Queria nos mostrar um caminho que encontrou e que continua procurando. "Mergulhar fundo numa coisa permite que a gente enxergue o que está ao redor... Quanto mais a gente mergulha mais a gente descobre".
Como me permitir viver esse momento pela necessidade de vivê-lo e não apenas pela "obrigação" de adquirir conhecimento? Como estar ali e esquecer os vícios do cotidiano todos grudados no corpo? Como permitir que esse corpo mostre o que eu não vejo?
"Às vezes não é a resposta que a gente não encontra, mas a pergunta que não está sendo feita direito" nos dizia.
Tiche nos dizia que estava em processo de escrita do doutorado e que demorou por que precisou de tempo para experienciar as coisas e ter o que falar sobre elas. Que incrível essa mulher!
Ela nos trata por igual nas nossas diferenças. Não tem quem sabe mais e quem sabe menos. Existem os que se permitem e os que não se permitem por achar que sabem. Quer nos mostrar os passos que levou para que entendesse muita coisa, mas que não tenhamos pressa,porque a caminhada é longa e precisa de tempo e paciência.
Desconcerto profundo. Leve e sutil como uma pena que corta o músculo. Ela sabe no que está mexendo.
Esse primeiro dia me deixa sem saber para onde ir, perdido e me reconhecendo como um ator que ainda não sei, que ainda erro e preciso reconhecer o erro, pois dizia que é importante identificar isso para buscar o acerto dentro das nossas possibilidades, porque assim não estaremos estáticos e aprenderemos muito.
Tiche tem amor no olhar e a leveza da humildade de quem já se deixou marcar pela vida.
Alguém assim a gente sente vontade de agarrar bem forte e não deixar sumir nunca mais.
Ela pedia para não nos preocuparmos em anotar as coisas, mas abrir o nosso corpo e a nossa alma para receber o que estava ali.
Tudo está dentro de nós guardado, escondido e esquecido pelo cotidiano que não nos faz perceber e não dá espaço.
Por falar em espaço, ela nos falou da importância de se ter esse espaço para trabalhar. Um lugar sagrado do qual nada do cotidiano atrapalhe a nossa busca.
Hoje foi só o primeiro dia. Amanhã a vida nos surpreenderá muito mais.

P.S.: Não registrei em fotos o dia de hoje. Eu nem lembrei que existem câmeras para fotografar, mas tá tudo aqui guardado com muito amor.

Bruno

2 comentários:

  1. Uow! Que pessoa/profissional linda que é a Tiche e você por perceber. Por ter olhos para ver, ouvidos para escutar. Sempre muito bom te ler! Continue, por favor! rsrs
    Sobre a Tiche, ela está na série "Ensaio Aberto" que assistimos na faculdade sobre a Lei de Fomento ao Teatro de São Paulo, lembra? Comecei a admirá-la lá, mas agora você me deu mais motivos!

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  2. Poxa, Udson! Não lembrei do Ensaio Aberto. Agora sim. Olha, ela continua engajadíssima nas questões por aqui.

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